Refeição Cultural
Artigo: Breves notas sobre a ecologia como limite absoluto ao capital em Mészáros. Ivan Lucon Jacob, doutorando em Desenvolvimento Econômico (IE/UNICAMP) e pesquisador do IBEC
Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 09/08/25)
Aula III (manhã) - Papel do Estado na aceleração do fim do mundo
Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias
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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.
Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.
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- Falência dos dois modos estatais de controle e regulação do capital: o modelo keynesiano, responsável pelo welfare state, e o "tipo soviético", que mesmo tendo partido de uma revolução política, acabou por ser, segundo Mészáros, um "sistema sociometabólico do capital"
- Mészáros avalia estarmos chegando a um "limite estrutural do capital" devido ao seu caráter incontrolável de destruição da natureza
- Diz Ivan Jacob "Marx definiu o trabalho em si em uma concepção de metabolismo, dado que 'trabalho é, antes de tudo, um processo entre o homem e a natureza, um processo em que o homem, por meio de suas próprias ações media, regula e controla seu metabolismo com a natureza"
- Em seu caráter social, quando o homem age sobre a natureza e a modifica, modifica a si mesmo, sua própria natureza, é uma relação metabólica
- Falar de suposto controle ou estabilidade do capitalismo é uma mentira cínica, é enganar quem não conhece a natureza expansiva e acumuladora do capital
- Mészáros afirma que o controle social é "a condição prévia necessária para qualquer relação sustentável com as forças da natureza"
- As "soluções" apresentadas pelas corporações monopolistas do capital, a invenção falaciosa do "desenvolvimento sustentável" nada mais são que a continuidade da destruição do mundo como está se dando agora
- A solução para o mundo não é a reprodução do modelo estadunidense de destruição da natureza e do planeta, no qual 5% da população global consomem 25% dos recursos energéticos disponíveis
- A ciência e a tecnologia poderiam alterar o processo atual de destruição do mundo em função do modelo capitalista? Não, pois o uso vem sendo em função da própria acumulação de capital e em desfavor do planeta e da sociedade humana em geral (p. 47 do artigo)
- "Portanto a questão que se coloca 'não se restringe a saber se empregamos ou não a ciência e a tecnologia com a finalidade de resolver nossos problemas' - dada a obviedade da resposta: sim! - 'mas se seremos capazes ou não de redirecioná-las radicalmente, uma vez que ambas estão estritamente determinadas e circunscritas pela necessidade de perpetuação do processo de maximização dos lucros' (diz Mészáros)
- De novo, só o controle social pode alterar a lógica estabelecida hoje, definindo como produzir e o que produzir, na relação sociometabólica com a natureza
- Se a humanidade deseja sobreviver, é preciso superar a fragmentação social e encontrar a unidade para superar o modo de produção capitalista (destruição incontrolável e consumista da natureza para acumulação de capital)
- Ivan Jacob cita Mészáros e Marx ao abordar a questão do desenvolvimento tecnológico e produtivo para reduzir as horas de trabalho humano, mas com benefício da própria sociedade humana, e numa relação metabólica natureza e sociedade mais equilibrada e sustentável (p. 50, item IV do artigo). Esse seria um objetivo do comunismo
- "Marx argumenta que uma sociabilidade advinda de produtores livremente associados deve existir no âmbito do metabolismo prescrito pelas leis naturais da própria vida, assegurando as condições de existência para as gerações presente e futura" (Ivan Jacob)
- Ivan Jacob cita Clark e Foster (autores de referência no artigo), concluindo o texto: "há uma síntese necessária entre Marx e Mészáros, na formulação de uma concepção de transição para um sistema sustentável de reprodução metabólica social. Tanto a igualdade substantiva quanto a sustentabilidade ecológica são os pilares de uma sociedade livre dos ditames e da lógica do capital..."
- Por fim, é urgente também a "necessidade histórica da criação do movimento dos produtores visando a mudança radical nas formas atuais de controle social visando sua emancipação. A necessidade, portanto, do comunismo." (Ivan Jacob)
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Fecho minha resenha e leitura do artigo, concordando com Ivan Jacob, Clark, Foster, Mészáros e Marx...
Urge a necessidade do comunismo!
Leitura feita por,
William Mendes
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Post Scriptum, após a aula em 09/08/25:
O papel do Estado na aceleração do fim do mundo
O prof. Ivan começa lendo o poema "Congresso Internacional do Medo", do livro Sentimento do Mundo (1940), de Carlos Drummond de Andrade.
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
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- Algumas teorias afirmam que vivemos o período geológico antropoceno, período no qual as ações humanas impactaram sobremaneira nos ecossistemas do planeta Terra
- Nunca estivemos num grau tão grande de risco para o planeta, um "estado não análogo'
- Crise estrutural do capitalismo (Mészáros)
- Dos anos setenta pra cá as taxas de lucro dos capitalistas vêm caindo, ou seja, vem diminuindo a capacidade de acumulação do capital
- Há uma crise que permeia todos os setores do capital, uma crise global
- Celso Furtado: já nos anos noventa nos alertava sobre a dimensão da crise do capital. Não só as periferias seriam afetadas pela crise, mas também os centros hegemônicos iriam sofrer como as periferias
- A crise é permanente, não é cíclica como até os anos setenta, é uma crise rastejante, a crise atingiu os seus limites incontornáveis. Ex.: meio ambiente e ecologia limitam a expansão do capital
- Taxa de utilização decrescente das mercadorias: não funcionam mais as soluções de gestão do Estado capitalista como ocorreu ao longo do tempo
- Antes: o modo keynesiano (Welfare State), o Estado era mediador da relação K vs T, com as políticas macroeconômicas que permitiam acumulação de K, pois parte da taxa de lucro era usada para bens e direitos sociais
- Mesmo durante o Welfare State, o "Estado de bem-estar social", havia limites temporais e geográficos, os benefícios não eram para todos, eram para alguns escolhidos e privilegiados: os trabalhadores da Europa e dos EUA e durou três décadas
- Enquanto isso, o pau comia nas demais regiões exploradas e vítimas do capitalismo, África e Américas do Sul e Central, por exemplo
- A partir das décadas de 70 e 80 o neoliberalismo iniciou a destruição do Estado de bem-estar social pós-guerra, com Reagan e Thatcher
- No Brasil, a rede de proteção social conquistada a duras penas e com todas as lutas dos anos oitenta (a CF 1988) - e com os governos do PT - começou a ruir com os movimentos organizados a partir de 2013
- Importante registrar que mesmo os direitos da CF 1988 eram para um segmento da sociedade, para o trabalho formal, o restante ficava de fora, o que não é muito diferente do cenário na Europa e EUA com os imigrantes e indocumentados
- Alerta aos reformistas: a crise atual do capital não permite mais a reconstrução do Estado de bem-estar social ou qualquer rede de proteção social, acabou!
- Vejam o que tem acontecido com os avanços dos segmentos de extrema-direita na atualidade: a regra é desfazimento de qualquer direito social, civil ou político e cada um por si, se virem!
- Marx e os órgãos das máquinas: 1º motor, 2º transmissão/energia, 3º ferramentas, 4º os controles automáticos/robotização (Bacchi). A fase atual torna desnecessária a força de trabalho humana:
Citação do meu resumo do texto (aqui) do prof. Fábio Campos: "- O 4º órgão... "Segundo Bacchi (2020), nos anos 1960 foi introduzido o quarto órgão daquela máquina que Marx (2013) descrevera no cap. 13 do Livro I de O Capital. Além do motor, a transmissão e a máquina ferramenta do século XIX, surge o 'quarto órgão de controle' que introduz 'a máquina programável' e, com ela, o que determinou a crise estrutural" (p. 106)
- Quando vêm os robôs são expulsos os humanos que geram valor, que geravam a mais-valia, por isso as taxas de lucro vêm diminuindo: mais máquinas, menos humanos, taxas de lucro menores
- Além da queda nas taxas de lucro com a expulsão do trabalho humano, a massa salarial é reduzida e com isso o consumo é menor
- Temos ainda a obsolescência programada para reduzir a vida útil das mercadorias, que hoje não duram nada, são uma porcaria
- Eis aí a taxa decrescente de utilização das mercadorias, gerando um ponto de sobrecarga insuportável para a natureza, o planeta. É a grande aceleração do uso de recursos naturais dos anos setenta adiante
- Não há saída dentro do sistema capitalista, ou mudamos a relação dos humanos com a natureza ou acaba tudo
- O Estado é a muleta de reprodução do capital atual, é só analisarmos como se dão as coisas nas políticas dos países do mundo
- Para piorar mais ainda, temos o complexo industrial militar dos EUA, que são empresas privadas que recebem encomendas do Estado. Essa "mercadoria" - armas - é feita e estocada sem ser utilizada em sua totalidade, sendo assim uma espécie de K perfeito: tem o Estado por trás, uma fonte inesgotável de dinheiro
- E o Estado norte-americano tem ainda a moeda que domina o mundo capitalista, ou seja, o mundo financia o complexo industrial armamentista dos EUA, tanto por vender mercadorias ao mundo (em dólares), quanto por receber de volta o dólar no investimento de seus papéis da dívida
- Os EUA emitem papéis da dívida, o mundo investe nesses papeis, e o mundo financia o déficit descomunal do país. O dólar vai e volta, financiando o déficit interno
- O braço armado do Estado sempre foi essencial para o capitalismo
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Comentário final do blog:
A aula do prof. Ivan Jacob foi espetacular!
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