Refeição Cultural
Ao longo do viver, sempre guardei materiais de cultura que gostaria de ler ou ver algum dia.
Quando voltei para São Paulo, antes dos dezoito anos, trouxe somente algumas roupas e pequenos pertences pessoais (é o que me lembro). Iria morar na casa de minha avó Deolinda e já moravam com ela outros jovens, meus primos. Apesar do aperto, comecei ali a colecionar livros, revistas, partes de jornais e outras mídias.
Naquela época, anos oitenta, era consenso na sociedade humana que a educação e o conhecimento tinham importância para o caminhar pela vida adulta, principalmente para nós da classe trabalhadora, chamada às vezes de periférica. Queríamos ser inteligentes, ter formação escolar e adquirir cultura para evoluirmos como seres humanos e vencermos na vida, como se dizia.
Tenho materiais de cultura que datam dos anos oitenta e noventa: muitos livros, por suposto, e recortes de jornais e materiais do movimento sindical, inclusive. Nunca tive coragem de me desfazer dessas mídias, a maioria nunca lida por ter outras prioridades no viver diário de um proletário.
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Imigração japonesa - 100 anos (2008)
O caderno que li desta vez é sobre os 100 anos da imigração japonesa para o Brasil, publicado pelo jornal O Estado de S. Paulo, no dia 12 de junho de 2008, uma quinta-feira.
Eu tenho interesse pela cultura oriental desde que era criança, sempre apreciei coisas relativas ao povo japonês e chinês.
Na adolescência, ao avaliar possibilidades na vida, pensei até em ser decasségui (dekasegi). No fim, um primo é que foi trabalhar no Japão por alguns anos.
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100 anos de imigração completados em 2008
De forma resumida, o caderno traz informações básicas sobre o Japão e o processo de imigração japonesa para o nosso país.
O artigo de Simone Iwasso conta a história da família imperial. As comemorações no Brasil contaram com a visita do príncipe herdeiro, Naruhito, à época com 48 anos, filho do imperador Akihito e da imperatriz Michiko.
Na matéria de Fernando Nakagawa, soube que "Dos japoneses e descendentes que vivem fora do Japão, 60% escolheram o Brasil. Atualmente (ou seja, 2008), há cerca de 1,5 milhão de japoneses e descendentes no País. Em seguida, estão Estados Unidos, com 900 mil, e Peru, com 90 mil descendentes."
Celso Kinjô, em texto feito para o caderno, nos conta que até o fim da 2ª Guerra Mundial os imperadores japoneses eram considerados deuses. Foi o imperador Akihito, em 16 de agosto de 1945, que revelou aos súditos que era "um humano igual a todos" ao declarar que o Japão estava se rendendo ao inimigo. O anúncio foi em rede de rádios.
Márcia Placa nos revela a origem do saquê, descoberto por acaso, quando um barril de arroz não foi vedado corretamente e azedou. No final do caderno, ela faz outra matéria sobre a Turma da Mônica e os personagens Keika e Tikara, criados por Maurício de Sousa em homenagem ao centenário.
A matéria de Valéria Zukeran "O desafio: preservar a memória em papel" é muito boa. Livros e revistas ajudam a manter a história dos imigrantes e à época havia um esforço grande para se digitalizar materiais antigos e disponibilizar outras formas de mídia para a preservação de cultura.
Gostei da reportagem de Fernanda Yoneya sobre os festejos em Santos, SP. Foi lá que aportou, em 18/06/1908, o navio Kasato-Maru, "trazendo os primeiros imigrantes japoneses - uma chegada tão marcante que a cidade, na época, ficou conhecida como Porta do Sol Nascente". Os imigrantes tiveram contribuições importantes na região como, por exemplo, na atividade da pesca.
A cidade de Santos inaugurou no centenário a escultura "Vermelha", homenagem aos 100 anos da imigração japonesa no Brasil, doada pela artista Tomie Ohtake (1913-2015), localizada na extremidade do Parque Municipal Roberto Mário Santini, na orla do José Menino.
Literatura japonesa
A matéria de Renato Cruz, sobre a tradutora Leiko Gotoda, convida a gente a ler os livros traduzidos por ela.
Um dos romances japoneses mais conhecidos no Brasil é Musashi, de Eiji Yoshikawa, publicado no Brasil em 1999. Leiko traduziu diversos livros de seu tio Jun'ichiro Tanizaki, autor importante do século passado.
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O artigo de Jorge J. Okubaro - "Da rejeição à integração" - descreve um pouco do que os imigrantes japoneses tiveram que enfrentar ao longo desse século no Brasil.
"Em Raça e assimilação, editado em 1933, Oliveira Viana escreveu que 'o japonês é como o enxofre: insolúvel', dando um certo ar científico à tese, popular na época, de que o japonês é 'inassimilável'."
Vejam o que pensava dos imigrantes um dos autores famosos da época, intelectual querido até por gente do campo chamado "progressista".
O povo japonês veio ao Brasil para trabalhar quase como escravo em lavouras paulistas de café e depois sofreu na pele o peso da 2ª Guerra Mundial ao pertencer ao país associado aos nazistas e fascistas (Eixo).
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A riqueza da cultura japonesa
Enfim, terminada a leitura do caderno inteiro dedicado ao centenário da imigração japonesa para o Brasil, acrescentei algum conhecimento novo ao pouco que conheço dessa temática.
Quase duas décadas depois da publicação do caderno especial, um leitor do futuro leu as matérias olhando para o passado. A experiência é interessante. Sempre gostei de fazer isso.
A cultura japonesa faz parte do cotidiano do autor do blog porque os mangás e animes fazem parte dos momentos culturais da família, sem contar o interesse que tenho pelo idioma japonês.
Sigamos lendo e aprendendo alguma coisa nova todos os dias de existência neste belo planeta Terra, um mundo sendo destruído pelo animal humano.
William
Bibliografia:
Caderno Imigração japonesa 100 anos. O Estado de S. Paulo, quinta-feira, 12 de junho de 2008.
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