terça-feira, 11 de junho de 2024

17 de 100 dias



17. Uma das coisas que estou fazendo mais uma vez e quem sabe agora eu vá adiante nesses 100 dias de busca de sentidos é manusear e definir o que faço com a grande quantidade de mídias que tenho guardadas em casa sobre a história do movimento sindical e dos trabalhadores do Brasil. Ainda tenho que ver o que farei com as pilhas de materiais xerocados da Faculdade de Letras e com as centenas de revistas que tenho.

Estou apartando um grupo de materiais de formação para enviar a um companheiro de Belém (PA) que demonstrou interesse pelo material que anunciei e estou preparando outro grupo de materiais para um companheiro e amigo do BB de Guarulhos, aqui na região metropolitana de São Paulo. E um amigo do sindicato me pediu o material específico que tenho sobre negociação coletiva.

Seguindo no manuseio das mídias de estudos e cultura do mundo do trabalho, vou organizar um pequeno cedoc próprio, catalogado para facilitar o uso. Parte do que estou avaliando vai ficar neste meu acervo cultural.

Somarei ao cedoc os cadernos dos blogs de cultura e sindical, que tenho revisado e impresso aos poucos. Esse trabalho de organização vai compilar de certa forma minha formação política e cidadã dos últimos vinte e poucos anos de vida, a fase adulta de maior produção intelectual deste homo sapiens.

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A DÉCADA DA PERVERSIDADE (BRASIL E RS, DE COLLOR A FHC)

Hoje vi o vídeo produzido em 2010 pelo SindBancários abordando a terrível década dos anos noventa fazendo um contraponto com a década de oitenta, sendo esta de grandes manifestações e avanços populares conseguidos através das mobilizações do povo brasileiro.

O documentário tem quase uma hora e os depoimentos me fizeram recordar um período duro de nossas vidas de classe trabalhadora. Além de Collor, tivemos os dois governos do Fernando Henrique Cardoso, de privatizações e ataque violento aos direitos do povo trabalhador. Durante aquele período, dezenas de pessoas cometeram suicídio nas empresas públicas que sofreram processos de enxugamento e assédio moral institucional. Foi terrível!

É isso!

William


segunda-feira, 10 de junho de 2024

A geração que criou a CUT: lá estavam os bancários!



Refeição Cultural

Osasco, 10 de junho de 2024. Segunda-feira.


Estou lendo aos poucos as entrevistas excelentes das lideranças da classe trabalhadora brasileira que criaram a nossa Central Única dos Trabalhadores e o nosso Partido dos Trabalhadores. 

Que trabalho bonito fez para nós a equipe da edição do livro e que histórias extraordinárias ficamos sabendo ao lermos as entrevistas!

Seguem abaixo algumas citações de companheiros da categoria bancária.

Ao ver a história contatada pelos entrevistados fico contente por ter um sentimento de pertencimento ao fazer sindical que esse pessoal nos legou. Procurei seguir o exemplo deles durante todo o tempo em que atuei como dirigente cutista da classe trabalhadora.

William Mendes 

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GILMAR CARNEIRO (entrevista em abril de 2021)

"Então, assim, a CUT, o PT tem que voltar a discutir: 'Qual é o projeto que nós temos para o Brasil?'. Tem que discutir isso com as pessoas. 'Ah, mas não é papel da CUT?'. É! A esquerda que não discute o projeto de país, não tem país. O país acaba'." (Gilmar Carneiro, p. 73)

Conheço o companheiro Gilmar Carneiro há mais de duas décadas. Grande figura! Sempre que nos encontrávamos nos espaços de luta e reflexão, fazíamos bons debates. Agora nos vemos pouco. Tenho muito respeito e admiração por ele.

SOBRE AUGUSTO CAMPOS: ESTRATÉGIA DA COMUNICAÇÃO 

Ao falar da vitória da eleição sindical de 1979, Gilmar nos lembra da visão de vanguarda de Augusto Campos ao instituir o Boletim Diário do Sindicato para falar com os trabalhadores, disputar a hegemonia da comunicação. (p. 64)

PISO SALARIAL NA CATEGORIA 

Outra estratégia da direção sindical (1979-82) foi ampliar o piso salarial da categoria bancária. Até hoje, nosso piso, somado a algumas conquistas como tíquetes, é bem maior que o salário mínimo nacional. 

PRIVATIZAÇÕES DOS BANCOS ESTADUAIS E REGIONAIS

"Hoje, nenhum Estado tem banco! Nem banco privado, nem banco público. 'Ah, mas você tem o Banco do Brasil e a Caixa.' Depende de São Paulo. Você pega o Banco do Brasil e a Caixa é por volta de 40% de tudo o que movimenta o Banco do Brasil, é em São Paulo. Então, assim, há um processo de concentração de poder financeiro e de poder político da economia neoliberal em São Paulo. É o que eu chamo de 'Golpe Branco'." (p. 67)

SOBRE A CONTAG, CONSCIÊNCIA DE CLASSE E PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO 

"Mas, quem vai se preocupar com o campo, hoje em dia? Porque não é à toa que teve os congressos da Contag e não saiu nada no boletim da CUT (...) Aí, eu fui tirar satisfação: 'Por que não discutia?'. 'Não, porque não é filiado a CUT '. 'E a consciência de classe? E o planejamento estratégico?' 'Não! Não tem mais'." (p. 68)

SINDICATO E PARTIDO FOCADOS EM ELEIÇÕES 

"(...) Estas ousadias, você não vê mais, o movimento sindical refletindo sobre isso. Os partidos políticos também não estão discutindo, porque eles têm que se reeleger, essa obsessão, essa necessidade de eleição, é angustiante, você vive em função disso." (p. 74)

Gilmar faz críticas importantes e contundentes sobre a terceirização ter sido pouco enfrentada nos governos do PT. 

COTAS PARA NEGROS NO MOVIMENTO: POR QUE NÃO TEM? 

"Quer ver um debate mais importante que a CUT nunca fez direito? Além dos terceirizados: a questão da mulher e do negro. Por que tem cota para mulher e não tem cota para negro?" (p. 74/75)

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OLÍVIO DUTRA (entrevista em maio de 2021)

"O sindicato de antes de 64, era um sindicato, na verdade, de muitos pelegos, né? Nós começamos na nossa luta sindical contra os pelegos que eram aqueles que tinham eternamente cargos nos sindicatos. Não saíam das direções do sindicato e, às vezes, criavam outros sindicatos, para ter um número 'x' de sindicatos na federação para criar uma federação para depois se candidatar a juiz da Justiça do Trabalho. Havia um processo de corrupção enorme no sindicalismo pré-golpe." (p. 81)

DITADURA ROUBAVA OS SALÁRIOS DA CLASSE TRABALHADORA EM BENEFÍCIO DOS EMPRESÁRIOS 

"(...) E tinha uma salinha na agência, que era pra tomar um cafezinho e um quadrinho para a gente colocar ali as notícias no muralzinho e eu trazia do sindicato as notas do DIEESE sobre política econômica da ditadura - o Delfim Neto baixando o salário nacional para todo mundo e escamoteando dados e aquela coisa toda! Se descobriu, então, aquela 'tungada' no percentual de reajuste do salário mínimo - porque era o salário nacional..." (p. 81)

FOCO NA FORMAÇÃO POLÍTICA DA BASE

"(...) Convidávamos pessoas para dar palestras, para conversar sobre a história do movimento sindical, história do povo brasileiro, essas coisas todas." (p. 82)

A CRIAÇÃO DO PARTIDO DOS TRABALHADORES FOI UMA NECESSIDADE 

"(...) Então, aos poucos, esse sentimento de resistência à política, à formação partidária, ele foi desaparecendo pela realidade da vida..."

e

"(...) as ideias foram se clareando... E não houve ninguém que de uma hora [para outra] se sentiu "iluminado". Isso foi um processo que nos levou a entender que não tinha como levar uma luta exclusivamente categorial ou sindical ou econômica. " (p. 84)

PRECISAVA TER PLURALIDADE

"(...) Precisava ter uma pluralidade - que o Lula tinha, o Lula tinha! E eu penso que ele ainda tem. Trabalhar com essa pluralidade, com essa diversidade..." (p. 85)

Comentário: vendo as imagens da 26a Conferência Nacional dos Bancários, é difícil não perceber a falta de renovação e pluralidade de ideias em um dos principais ramos de nossa Central. E sei que os motivos são os mais variados. 

CLT

"(...) A CLT foi uma legislação avançada para a época, inspirada inclusive no fascismo; era para conter o socialismo, comunismo e [para] os trabalhadores não se encantarem com esse tipo de discurso, e não compartilharem com o 'capital', com o resultado no desenvolvimento. Para a época foi um progresso, evidentemente! Porque antes disso a questão social era uma questão de polícia - continua sendo de polícia, mas mais sofisticadamente." (p. 87)

A TECNOLOGIA ERA PARA REDUZIR A JORNADA DE TRABALHO 

"A grande luta nossa é a redução da jornada de trabalho, sem a redução de salário - a tecnologia tem que ser para isso! Para possibilitar que as pessoas possam viver sem um trabalho estressante, repetitivo e poder produzir, ter maior produtividade e maior integração na sua comunidade, na sua categoria (...) O ser humano [deveria] ser o maior beneficiário desses avanços! Mas a tecnologia na mão dos grupos privados, das grandes empresas, dos seus representantes, aquilo ali ao invés de resolver is problemas, ela cria novos problemas e a desigualdade permanece. A necessidade, portanto, da luta organizada dos trabalhadores é algo constante." (p. 90)

INDIVIDUALIDADE NÃO É INDIVIDUALISMO

"A construção coletiva não pode impedir a individualidade. Agora, a individualidade não pode ser o individualismo, o egoísmo, então tem todas essas questões. Às vezes, tá no 'fio da navalha'. O que é a individualidade? O que é o individualismo? Bom, o sistema capitalista e sua fala neoliberal instigam o individualismo, o egoísmo, cada um por si e tal. E o empreendedorismo é uma conversa deles para as pessoas se desgarrarem da relação comunitária, do sindicato, da associação, da construção coletiva de um caminhar." (p. 93)

Enfim, a parte final da entrevista, na qual Dutra fala do sindicato cidadão, é muito legal!

Ele termina falando que a revolução tecnológica está fazendo um progresso da humanidade ao contrário, concentrando a riqueza. 

E afirma: a grande luta é pela redução da jornada de trabalho sem redução dos salários. 

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JACY AFONSO (entrevista em nov/2021 e maio/2022)

"Então, na assembleia que elege os delegados para a CONCLAT, é o divisor de águas. Um setor mais ideológico do Partidão percebe que eu seria caso perdido, que eu iria para o PT, então eles não votam em mim para delegado, eu fico como 9º delegado dos 8 delegados de base que o sindicato tinha, eu fiquei em 9º lugar na votação, então eu não fui." (p. 328)

Esse é o amigo e companheiro Jacy! Eu o conheço desde meados dos anos noventa. Entrei no banco em 1992 e já nos primeiros encontros nacionais, seja do banco, seja da corrente política Articulação Sindical, conheci e passei a admirar Jacy. Figura humana e de uma sabedoria incrível!

BOM SINDICALIZADOR

Jacy conta como atuava junto à base dos bancários na W3 em Brasília, mesmo sem ser diretor do Sindicato. E ele era bom sindicalizador.

"Então, tem uma campanha de sindicalização e eu sou o cara que mais sindicalizo pessoas na campanha. Eu fui campeão de sindicalização de novos sócios do sindicato." (p. 328)

Me lembrei na hora do quanto eu sindicalizava bancários também. Já no Unibanco, eu sindicalizei todo mundo na agência do CAU. Depois no BB, ganhei até prêmios de campanha de sindicalização pelo tanto que eu sindicalizava. 

Como negociamos com a direção local do BB ir à posse dos novos funcionários, eu sindicalizei centenas de colegas. Por toda minha vida de dirigente, encontrei colegas que disseram que foram sindicalizados por mim quando começaram no banco.

JACY CONHECE GILMAR CARNEIRO E LUIZ GUSHIKEN

"Eu fui na posse do Sindicato dos Bancários de São Paulo em 1982. Em março de 82 lá no Sindicato dos Químicos, na chapa que foi reeleita - a diretoria foi eleita em 79, e aí, eu vou lá, eu vou representando os bancários do PT na posse, e não foi gente do sindicato daqui. E eu fui representando. Então, eu conheci o Gilmar Carneiro, fui na casa do Gushiken, eu fui junto com... o pessoal [que] tinha ganhado a eleição da Bahia, com o Laranjeira..." (p. 328)

Na entrevista, Jacy nos conta das idas e vindas do pessoal do grupo Pró-CUT em relação à CONCLAT. Nos fala sobre as "Diretas, Já!", a constituinte e a participação do movimento sindical nessas lutas. Sobre o III CONCUT, Jacy nos fala sobre a Tese 10.

DESAFIOS DE ORGANIZAÇÃO SINDICAL

UNIDADE

"(...) por isso que eu falo que o estatuto precisa ser trocado como um todo, não dá para fazer remendo. Então, na hora de ir dialogar é o seguinte, não tem mais estrutura orgânica da CUT, tem estrutura filiada. Na estrutura filiada nós vamos construindo a unidade, nós podemos trazer todos os bancários para a CONTRAF, nós podemos trazer todos os metalúrgicos, porque é uma coisa real no cotidiano..." (p. 335)

COMENTÁRIO: sobre a construção da unidade nacional da categoria bancária, eu posso dar o meu depoimento, pois ajudei a construir essa estrutura e a Convenção Coletiva de Trabalho. De fato, ter superado essa questão de só fazer parte da estrutura quem era orgânico foi fundamental. Tanto é que a CCT abrange federações e sindicatos que não são da estrutura orgânica da CUT e sequer filiados à Central. A unidade é feita no cotidiano, como diz Jacy. O Comando Nacional dos Bancários, que criamos de 2006 adiante (ampliando a Executiva Nacional), tem esse caráter de colocar na mesa todas as forças que queiram participar da unidade.

CONGRESSOS E CONFERÊNCIAS TÊM QUE TER DELEGAÇÃO DE BASE

"(...) Então eu colocaria como um dos critérios a volta do delegado de base, você obrigaria... hoje é muito fácil, não é um congresso de trabalhadores, é um congresso de dirigentes sindicais, então se você não levar a base para refletir, para você fazer um esforço e fazer isso... então eu voltaria à obrigatoriedade, no estatuto da CUT, de ter uma parcela da delegação de base, não pode ser [só] dirigente sindical..." (p. 336)

LUTA DE CLASSE ESTÁ FRAGMENTADA

"Então você começa a discutir meio ambiente, você começa a discutir a questão nacional, você começa a discutir a questão da juventude, das mulheres, e assim por diante, eu acho que isso fragmenta a ação sindical, não o tema, estou falando da ação sindical, aí você pulveriza a ação, você começa a fragmentar e perde o caráter de classe mais importante, da exploração do trabalho pelo capital." (p. 337)

COMO CRIAR PERTENCIMENTO NUM MUNDO UBERIZADO E SEM TRABALHO FIXO EM CATEGORIAS?

"Eu estou dizendo que o sentimento da pessoa, é que quando ela perde o emprego ela perde o vínculo com o sindicato, nós precisávamos mudar isso, ele tinha que ter um sentimento de pertencimento, que ele podia estar colocado, então ele teria uma carteirinha, tá certo? Tipo uma carteirinha da CUT, por exemplo, o cara teria uma carteirinha da CUT, claro que a organização é para o sindicato, mas a carteirinha seria do sindicato, a palavra sindicato e tal, aí depois você teria lá um código, uma coisa, que você mostraria que o cara era do sindicato dos bancários, dos metalúrgicos e assim por diante... mas haveria um sentimento..." (p. 337/338)

Enfim, ao longo dessas décadas, sempre vi o companheiro Jacy como um pensador. Chegamos a fazer debates divergentes com artigos publicados a respeito de visões do BB quanto a adquirir bancos no exterior ou não. Antes, era permitido fazer debates no movimento sindical cutista... hoje é bem mais complicado isso.

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LUIZ AZEVEDO (entrevista em junho de 2021)

Emoção logo no início da leitura da entrevista do Luizinho, companheiro do Banco do Brasil, do coletivo de diretores do BB no Sindicato do qual participei por décadas na minha vida. 

Luizinho tomou posse na agência do BB da Antônio Agú (Osasco), local no qual tenho uma das histórias mais bonitas de minha vida sindical, quando fiz reunião com todo mundo furando a greve de 2010 e que, depois da reunião que fiz no 2º andar, saíram todos os bancários e bancárias, com direito a choro de muitos de nós pela emoção do debate. Foi um dia inesquecível para mim.

Amig@s, a entrevista do Luizinho é legal demais! Estou gostando de todas as entrevistas, mas essa me lembrou muita coisa das concepções e práticas sindicais que balizaram meu fazer sindical.

Se eu fosse citar tudo que risquei e anotei no livro, faria uma enciclopédia aqui na postagem. Cito só algumas passagens.

A CUT E A CLT

"Nasce uma reação muito forte de parte da CUT que era assim, inicialmente, o pessoal falava: 'a CUT é contra a CLT!'. A CUT e nós bancários, não é que 'éramos contra a CLT' ou 'contra direito individual', nós éramos contra que a contratação que predominava sobre a vida do trabalhador, fosse individual e não coletiva, que é o que é a CLT! A CLT é basicamente direito individual. Então a gente defendia que o direito tinha que ser coletivo! Por causa de uma frase que o Augusto sempre dizia e que, na minha opinião, define a personalidade do Augusto Campos, ele dizia o seguinte: 'o processo de conscientização é produto do processo de negociação, porque a negociação coletiva, ela explicita o conflito e revela a correlação de forças'." (p. 139)

Essa concepção foi muito importante na minha formação também. Todas as teses que defendi como sindicalista tinham essas concepções que o Augustão e o Gushiken nos legaram sobre Organização nos Locais de Trabalho (OLT) e politização dos trabalhadores na base.

LUIZINHO VÊ OLÍVIO DUTRA FAZENDO TRABALHO DE BASE

"(...) O Olívio Dutra fez uma revolução no Sindicato dos Bancários de Porto Alegre: ele instalou o processo do trabalho pela base, como a coisa mais importante. Eu fui a Porto Alegre com o Olívio e ele falou: 'Luizinho, me desculpa, eu não vou poder ficar contigo porque eu tenho que fazer minha base'. Eu saí com ele e fomos fazer a base juntos. Ele ia bancário por bancário, conversando com um por um." (p.143)

Emocionante depoimento!

Fiquei feliz ao saber que a forma como fiz trabalho de base foi a mesma que grandes lideranças dos bancários fizeram antes de mim. Segui a concepção sindical de minhas referências.

O III CONCUT E A ARTICULAÇÃO SINDICAL

"Essas lições, eu acho que tudo isso, com a experiência da Constituinte, explode no III Congresso de 1988 e, praticamente, na Tese 10. A Tese 10 consegue capturar. Então às vezes as pessoas falam assim: 'Luizinho, o que é Articulação pra você?'. Nós não montamos, quando a gente criou a Articulação Sindical que começa lá nos 113 e tal, mas não foi assim, 'vamos criar uma corrente!'; a questão é pra gente poder assegurar que haja sindicalismo de massa e que haja partido de massa, a gente tem que se articular, porque senão as correntes levam tudo para o gueto das disputas delas. Foi esse o motivo pelo qual nasceu a Articulação." (p. 146/147)

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COMENTÁRIO FINAL

Amigas e amigos leitores do blog, que livro incrível esse livro sobre A Geração que criou a CUT

Temos que agradecer muito o trabalho extraordinário da equipe responsável pelas entrevistas, edição e conclusão de uma obra imprescindível para qualquer pessoa que queira conhecer um pouco de nossa história.

Obrigado por essa preciosidade companheiras e companheiros Claudio Nascimento, Iram Jácome Rodrigues, João Marcelo P. dos Santos, Maria Silva Portela de Castro e Sandra Oliveira Cordeiro da Silva. Obrigado!

William Mendes


16 de 100 dias



16. Fiquei sensibilizado com o depoimento de um amigo escritor ao comentar que seu livro lançado no ano passado teve a tiragem de algumas dezenas de unidades. Muito pouco se avaliarmos a excelência do conteúdo. Foi um livro que me fez rir muito e eu considero o livro uma obra de arte. O trabalho que ele teve de pesquisa para produzir a obra é inimaginável para quem não acompanha o dia a dia da produção de uma obra cultural. É decepcionante isso! Deixa a gente desanimado com relação ao mundo humano. Eu fico desanimado com isso. (estou falando do livro do amigo Roberto Buzzo)

Uma das coisas que tenho refletido para a sequência de minha hipotética existência é justamente atuar com a produção de textos, escrever. E tenho noção da história da leitura no Brasil. Nossos principais escritores não viveram de suas produções de cultura para o povo brasileiro. Eram empregados de repartições públicas ou tinham algum tipo de rendimento que lhes permitiam sobreviver sem precisar de um tostão que fosse de suas criações culturais. Aliás, muitos de nossos escritores bancavam edições de suas obras com recursos próprios para presentearem a um pequeno grupo de amigos. Essa é a realidade tristíssima da produção cultural do nosso país.

Por esse motivo e por outros, não pretendo fazer lançamento nem estardalhaço a respeito de uma edição impressa de minhas memórias sindicais, textos que produzi em um de meus blogs durante a pandemia de Covid-19. Gastei boa soma de recursos próprios para confeccionar a edição em livro. Vou fazer algumas unidades e presentear pessoas que demonstrarem interesse em ler o livro.

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MEU CEDOC

Em relação aos materiais sindicais e de formação que estou organizando para doar às pessoas que demonstraram interesse neles, vi hoje mais um vídeo excelente!

O documentário "Por dentro do $istema", feito pela Contraf-CUT em julho de 2006 é uma aula de história sobre o Sistema Financeiro do Brasil, os bancos que atuaram aqui desde 1808 e sobre as lutas da categoria bancária. Que vídeo legal!

É um material muito bom para ser visto e servir como suporte de formação. Como tenho duas cópias, vou doar uma e deixar a outra em meu cedoc.

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Outro vídeo que assisti é o documentário do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região comemorativo dos "30 anos da retomada" do sindicato das mãos dos pelegos no final dos anos setenta, na eleição de 1979, vencida pela nossa oposição.

Que vídeo bacana! Quanta história!

No vídeo original, feito em 1989, vemos Luiz Gushiken, Gilmar Carneiro, Tita Dias, Lucas Buzato e Luizinho Azevedo falando sobre aquela luta histórica.

Num momento, vemos a companheira Tita Dias falando sobre as intervenções do regime ditatorial nos sindicatos dos bancários de São Paulo, metalúrgicos do Abc, metroviários de São Paulo e petroleiros de Campinas.

Material incrível! 

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Vou doar uma parte dos materiais de história e política que acumulei durante anos de representação sindical.

No entanto, decidi ao começar a manusear o material que preciso guardar uma parte comigo. Nunca se sabe o dia de amanhã. Vou catalogar o material de cultura que tenho, incluindo livros e mídias diversas.

No dia em que faltar, até para se desfazer do material, a família terá um conhecimento melhor do que tem. De repente, alguma entidade de classe ou alguma pessoa receba o material de cultura.

William


domingo, 9 de junho de 2024

15 de 100 dias



15. Sigo em busca de mudanças, de sentidos para a existência. Estou sem pertencimento às coisas. Para seguir existindo, aliás, tenho que fazer a minha parte em relação ao meu corpo, o condutor de minha pessoa, de minha personalidade. Como o meu envelhecimento tem se mostrado desafiador, pois acredito que abusei do meu organismo animal, estou em busca de diagnósticos para identificar se tenho apenas desgastes nos quadris e mais alguns envelhecimentos de sistemas internos ou se tenho algo a mais para tentar resolver. Tenho uns exames em andamento para identificar meu estado de saúde. Estranho dizer que estou me acostumando a viver com dores... (que merda, isso!).

Como é de responsabilidade exclusivamente minha revigorar meu organismo, sei que tenho que fazer um pouco de musculação para recuperar a massa muscular perdida (sarcopenia) e tenho que atuar com periodicidade para manter e melhorar minhas capacidades cardiorrespiratória, musculoesquelética e circulatória, é minha obrigação manter esses sistemas em bom funcionamento. Correr, andar e pedalar são as minhas preferências em relação a isso, atividades aeróbicas. Desde que iniciei esse período de 100 dias, pratiquei atividades físicas em 9 dias, sendo 3 corridas, 4 dias de musculação e 2 de caminhadas. Estou atento a isso.

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Em relação aos materiais de educação e formação política e sindical, estou separando mídias que podem ser úteis às lideranças sindicais que me disseram que têm interesse nos materiais que estou separando para doar.

Hoje assisti a dois vídeos muito bons, que nos emocionam pelo que retratam.

TODAS AS LETRAS

O primeiro vídeo é sobre o projeto de alfabetização de jovens e adultos "Histórias e Sonhos com Todas as Letras". O documentário aborda a experiência entre os anos de 2005 a 2008 e os depoimentos de educandos e educadores nos tocam profundamente. Durante o projeto, mais de 200 mil pessoas tiveram a oportunidade de se alfabetizarem.

1º DE OUTUBRO DE 1981 - DIA NACIONAL DE LUTA (DF)

O segundo vídeo é um documentário histórico feito pelos companheiros de Brasília sobre o 1º de outubro de 1981, um dia de lutas organizativo para a Conclat na Praia Grande. No vídeo, nos emociona ouvir depoimentos e ver imagens daquele período.

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Passando adiante essas mídias, espero contribuir de alguma forma para que elas encontrem pessoas que se interessam por nossa história da classe trabalhadora brasileira. Estes dois DVDs eu tenho repetidos, ficarei com um deles para meu cedoc e doarei a cópia.

William


Leitura: Gen Pés Descalços (8) - Keiji Nakazawa



Refeição Cultural 

Gen Pés Descalços 

Volume 8


Os acontecimentos neste volume sobre a história da família Nakaoka e dos amigos de Gen se passam alguns anos depois da bomba atômica em Hiroshima (06/08/45) e Nagasaki (09/08/45) e o fim da 2ª Guerra Mundial.

Mas, infelizmente, o enredo começa com informações sobre uma nova guerra no início dos anos cinquenta: a Guerra na Coreia, dividida no Paralelo 38° entre Coreias do Norte e do Sul. Os amigos do inteligente garoto Gen acham que isso não é com eles, só que uma das bases de ataque à Coreia do Norte está no Japão, sob domínio dos EUA. 

Gen explica aos amigos o perigo disso, pois a Coreia do Norte pode atacar a base inimiga no Japão. Gen e seu professor, pacifistas, atuam para que o Japão nunca mais se envolva em guerra alguma.

A história terá alguns arcos também. Veremos as tretas entre Gen e o jovem órfão Aihara, que mesmo sendo vítima da guerra, defende o militarismo e a violência. Os leitores vão conhecer a história do garoto bom de beisebol.

Veremos a lábia de comerciante de Ryuta, vendendo as roupas feitas por Natsue e Katsuko.

Óbvio que os leitores verão muita violência no HQ. Os pacifistas vão enfrentar a fúria das autoridades por se manifestarem. O cenário é de brutalidade, qualquer coisa se resolve com tapa na cara e porrada.

Neste volume teremos contato com drogas por causa das questões sociais: alcoolismo e uma droga injetável chamada Philopon ou Pon (uma metanfetamina).

E sofreremos juntos com Gen e Ryuta por causa dos efeitos da bomba na vida de todos os habitantes de Hiroshima. 

Ao final dos arcos deste volume, Gen terá cerca de 13 anos.

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A LUTA CONTRA AS INJUSTIÇAS 

O volume oito aborda temas políticos bastante atuais. Nakazawa faz os leitores refletirem sobre injustiças cotidianas da sociedade capitalista em qualquer época. 

Nas páginas 150 e 151 Gen fala sobre guerras por procuração. A cena mostra a Guerra da Coreia e os beneficiários por traz dela como, por exemplo, os Estados Unidos e os empresários japoneses que estão lucrando com a venda de armas: quanto mais guerra, mais lucro para os capitalistas japoneses. 

Depois, na página 194, Gen Nakaoka, sua família e diversas famílias pobres e vítimas da bomba atômica se veem envolvidas numa grave situação de risco de perda de suas moradias por causa de decisão tomada pela prefeitura de Hiroshima de desapropriação para construção da "Cidade da Paz".

Gen vê dois homens ao lado de sua casa e ao perguntar o que querem, eles informam da decisão estatal de desapropriação e dão um mês para a família Nakaoka sair dali e se virar.

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DEMOCRACIA DEVE RESPEITAR AS MINORIAS

Informaram que foi decisão de assembleia e Gen pergunta:

"Mas se, de dez pessoas, nove são a favor e uma é contra, o que acontece com a opinião dela? Ouvir os motivos e tentar resolver o problema desse único voto contra não seria a verdadeira democracia?"

E finaliza a argumentação certeira:

"Ficam dizendo que precisam seguir a democracia e decidem tudo na base do voto da maioria." (p. 194)

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Comentário: vejam o que está acontecendo neste exato momento no Brasil: alguns homens decidem privatizar as escolas, alguns homens decidem privatizar a água pública (Sabesp) etc e as maiorias que se danem, representadas pelos poucos votos contrários nas "assembleias", porque os processos eleitorais são corrompidos e comprados (uma plutocracia). É muito atual o enredo do HQ.

Mais um volume lido de Gen Pés Descalços. Vamos para o nono volume. O comentário sobre o primeiro mangá pode ser lido aqui

William


Post Scriptum: o comentário sobre o volume 9 pode ser lido aqui.


sábado, 8 de junho de 2024

14 de 100 dias



14. Se eu tivesse deixado de existir na noite passada ou na madrugada, o que fariam meus familiares com a infinidade de papéis, apostilas, revistas e livros que acumulei na existência? Tenho pensado nisso.

É hora de me desfazer das coisas. Não sei como farei. Tendo hoje a consciência um pouco mais clara que antes, sei que a tendência é que muita coisa que tenho acumulada vire material sem utilidade para outras pessoas. 

Perguntei em rede social se havia alguém interessado no material de formação política e sindical que tenho. Felizmente, três pessoas demonstraram querer o material. Vou enviar para elas. São textos de economia, apostilas dos cursos da Contraf-CUT, negociação coletiva, Contag e CUT.

Os textos de formação política são uma pequena parte do que tenho de mídias de estudos. Terei que ver o que farei com muita coisa ainda.

Provavelmente, alguma coisa terei que colocar em caixas de papelão lá na área de materiais recicláveis do condomínio. Quem vai querer, na atualidade, edições impressas de revistas? Quem iria querer pilhas de xerox de meu curso de Letras da USP?

O dia que tiver coragem para me desfazer dos materiais, terei ferido meu coração, com certeza, pois tenho apego por toda a história e cultura que existe em minhas mídias de leitura.

É isso. Tenho que mudar as coisas na vida.

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Para não considerar inútil o meu dia, ao menos separei os materiais de formação política que serão doados às três pessoas. Ainda vou incluir mais materiais nos próximos dias. 

Não fui ao evento paulista de solidariedade a Cuba, como falei ontem, e também não fui à plenária do Partido dos Trabalhadores com os pré-candidatos Boulos e Marta. Que bom que foi uma ótima atividade! 

Como disse, estou meio sem pertencimento às comunidades imaginadas às quais pertenci boa parte de minha vida. No caso dos compas do partido no município de São Paulo, nem votar neles posso porque sou de outro município. 

William 


sexta-feira, 7 de junho de 2024

13 de 100 dias



"Capitalismo:
Prateleiras cheias de mercadorias.
E o povo passando fome sem alimentos."

13. Acabei de voltar do supermercado. A sensação de impotência e injustiça é enorme. Enquanto o nosso governo se esforça de forma honesta para reduzir os preços dos alimentos e dos produtos da cesta básica, poucos capitalistas fdp, canalhas donos do poder, fazem o que querem com o povo. Aumentam preços e reduzem tamanhos e quantidades nas embalagens para aumentarem seus lucros, ou seja, foda-se o povo! Tínhamos que expropriar todos esses fdp! Todos!

Dias atrás, num momento de reflexão sobre a vida, e sem sentimento de pertencimento a quase nada, me peguei meio que na mesma condição de quando iniciava a vida adulta: sem rumo. Estou sem rumo.

Ao ouvir hoje uma palestra de importante liderança do MST, o companheiro Gilmar Mauro, fiquei ao mesmo tempo admirado e triste. Admirado por termos do nosso lado da classe trabalhadora pessoa tão sabia e preparada. Triste por tomar conhecimento das informações que ele nos contou sobre o cenário político no qual nos encontramos neste momento da história humana.

A aula de Gilmar Mauro acrescentou muitas informações às poucas que sei. O companheiro nos explicou sobre a destruição acelerada das condições de vida na Terra causada pelo capitalismo e pelos capitalistas, donos das decisões entre morrermos todos em consequência da decisão desses poucos ou revertermos nossa trajetória no planeta Terra.

Foi depois da palestra impactante de Gilmar Mauro que fui a um supermercado e ali fiquei refletindo sobre a merda na qual nos enfiaram (nos enfiamos).

Não há chances para nós e para o planeta sob a ordem hegemônica capitalista. Não há! E, mesmo assim, o socialismo sumiu do horizonte e dos objetivos dos sindicatos e dos partidos de esquerda. Pelo menos dos maiores. É proibido sonhar! (a não ser que o sonho seja ter dinheiro para consumir tudo que os capitalistas consomem e do jeito que eles consomem)

Ao ver aquelas prateleiras lotadas e coloridas e cheias de porcarias à base de substratos que fazem mal para a saúde humana, de mercadorias caras e abusivas e inacessíveis para mais da metade da população do Brasil, me lembrei do povo cubano e de outros povos como os palestinos, por exemplo, que não têm acesso a alimentação adequada (prateleiras vazias) por interferência política de alguns homens e governos como os EUA (bloqueio criminoso a Cuba) e Israel (que decidiu ocupar toda a Palestina expulsando ou eliminando os povos árabes que lá estão/estavam: os sionistas já mataram dezenas de milhares e expulsaram muitos mais). 

Na centena de dias que decidi avaliar o que fazer de minha vida, e estou sem rumo de verdade, sem objetivos claros, possíveis ou utópicos, estou identificando algumas coisas que não quero mais na minha vida. Olhando ao meu redor, vejo as coisas com a experiência que acumulei, e vejo o quanto algumas coisas me deprimem ou me empapuçam, me dão raiva, me dão nojo. E o pior é que, muitas vezes, não podemos fazer nada a respeito daquilo que não queremos para nossa vida ou nosso entorno. É a impotência. 

Amanhã iria a um evento político de solidariedade a Cuba. Iria, mas não vou. Sou solidário a Cuba e ao povo cubano. Sou grande admirador da altivez e amor-próprio do combativo povo cubano. Quem dera os brasileiros tivessem uma porcentagem da alma cubana! Já teríamos nos libertado daqueles capitalistas fdp que citei no início, os canalhas donos do poder que fodem com 90% do povo, como os poucos donos das mercadorias "alimentos".

Repito: - Toda a nossa solidariedade a Cuba! E toda a nossa solidariedade ao povo palestino!

(Olho ao meu redor da porta para dentro de minha casa e vejo o caos. Santo de casa não faz milagre...)

Que canseira...

William 


quinta-feira, 6 de junho de 2024

12 de 100 dias



12. A cada dia de avanço dos bárbaros e suas formas diversas de violência e autoritarismo, aumenta a responsabilidade da parcela humanista e civilizada de resistir ao mal e defender os direitos criados pelos homo sapiens ao longo de milhares de anos de evolução da espécie. 

Como disse o professor e jurista Pedro Serrano em artigo em uma edição de CartaCapital (comentário aqui), o direito não é algo natural, é uma criação humana, e se não defendermos os direitos da pessoa humana - direitos civis, políticos e sociais - os bárbaros da extrema-direita vão eliminar direitos civilizatórios que conquistamos em séculos e milênios. 

Entenderam o que quero dizer?

O que vem ocorrendo nos parlamentos brasileiros, principalmente na Câmara dos Deputados e no Senado Federal - o fim do diálogo e do decoro parlamentar por parte do bolsonarismo et caterva -, tudo sob os olhares complacentes dos presidentes daquelas casas legislativas, é projeto, tem método. O nazismo e o fascismo fizeram isso para vencerem a civilização daquela época, as primeiras décadas do século vinte.

O experimento ("case") de tomada à força das terras da Palestina, eliminando dois milhões de seres humanos daquele "espaço vital" para os sionistas é projeto, tem método (não é mera coincidência com a questão nazista de "espaço vital" de um século antes).

A normalização da violência extremada (sempre contra grupos marginalizados no capitalismo) e naturalização da barbárie e dos atos e ideias da extrema-direita bolsonarista no Brasil por parte da mesma mídia empresarial dos donos do poder (P.I.G.) que envenenaram o povo brasileiro até tornar-se "normal" carros circularem com a imagem da presidenta do Brasil de pernas abertas em bocais de tanque de gasolina dos veículos é projeto, tem método. 

Estou retirado do movimento sindical ao qual fiz parte por ao menos duas décadas. Não sei o que as lideranças da classe trabalhadora estão debatendo. Não sei. Nunca mais fui convidado a participar de fóruns nos quais contribuí por décadas.

Se estivesse nos debates como dirigente, pautaria debater novas formas e estratégias de enfrentamento aos nossos inimigos. Inimigos! Com o fim da política de diálogo e conciliação e da democracia "liberal" como nós aprendemos nas últimas décadas, é responsabilidade das lideranças da classe trabalhadora propor estratégias de enfrentamento aos inimigos. Sem isso, seremos presas fáceis no presente e futuro próximo. 

Na gravidade da atual conjuntura brasileira e mundial, não se pode seguir fazendo o mesmo que se fazia no passado, pois isso seria alienar a classe trabalhadora representada pelos movimentos sindicais e partidários da esquerda. 

É o que penso sendo cidadão do presente cenário mundial.

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EDUCAÇÃO E FORMAÇÃO POLÍTICA

No momento, avalio que escrever seja uma forma de compartilhar o que leio, estudo e reflito sobre o nosso mundo e a nossa sociedade humana. 

O que possibilitou a nossa espécie chegar até o ponto extraordinário no qual chegamos em relação às ciências diversas foi a educação, a transmissão dos saberes acumulados. 

Nossos inimigos objetivam destruir a educação porque ela pode mudar as pessoas e as pessoas podem agir e mudar o mundo. Quanto mais ignorância, miséria, medo e raiva, mais fácil a manipulação das massas humanas.

Por enquanto, seguirei estudando, lendo, refletindo e escrevendo para as pessoas que tenham interesse em manter a tecnologia milenar da educação, ferramenta que desenvolvemos para trocar conhecimentos, experiências e ideias para mudar as realidades naturais e não naturais nas quais nos vemos envolvidos: as comunidades humanas.

William Mendes 


quarta-feira, 5 de junho de 2024

11 de 100 dias



11. Ao ler a história contada por quem a faz, no livro "A geração que criou a CUT", fico pensando o quanto é importante para alguém que não nasceu em berço de ouro, berço burguês, conhecer a história da classe trabalhadora. Entendo que a história do mundo do trabalho é tão importante para nós quanto os mitos são importantes para as pessoas místicas. As histórias, verdadeiras ou inventadas, dão sentido às coisas do mundo humano. 

Ao ler a história da Central Única dos Trabalhadores contada por alguns bancários entrevistados no livro confirmo o quanto fui um privilegiado em fazer parte dessa categoria de trabalhadores que contribuiu bastante para a história dos direitos do mundo do trabalho no Brasil, direitos sociais, e contribuiu para os direitos políticos e civis do povo brasileiro. Que riqueza a história da categoria bancária!

As histórias mexem com a gente! Só para citar um exemplo nesta postagem, tem a do Luizinho Azevedo, companheiro do Banco do Brasil. Ele nos conta que tomou posse em 1974 na agência da Antônio Agú, em Osasco. A mesma agência na qual vivi um dos momentos mais bonitos de minha vida de sindicalista, em 2010. Em uma reunião com dezenas de colegas, após chorarmos juntos, convenci todo mundo a sair do ponto e entrar naquela greve. Marcou minha vida!

Temos no livro as histórias dos companheiros Gilmar Carneiro, Jacy Afonso, Cyro Garcia e dezenas de outras companheiras e companheiros da classe trabalhadora. Já li e escrevi emocionado sobre Avelino Ganzer, figura histórica da Central Única dos Trabalhadores e da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Agricultura (CONTAG). Ler comentário aqui.

Estou refletindo sobre o que fazer de minha vida e talvez eu avalie que ler e escrever seja a maneira de contribuir para a coletividade neste momento de minha existência. Amigas e amigos leitores, conhecimento é fundamental para libertar a classe trabalhadora da alienação e manipulação por parte dos donos do poder político e econômico em nosso mundo.

Entendo ser de muita responsabilidade o papel de cada bancária e bancário que se encontra neste momento participando dos congressos dos bancos públicos BB e Caixa aqui em São Paulo. É só tomarmos conhecimento do papel que os bancários sempre tiveram na vanguarda do movimento sindical brasileiro para compreendermos a responsabilidade de cada um e cada uma na organização das lutas em nossa categoria.

Desejo sabedoria para o conjunto dos participantes dos congressos de trabalhadoras e trabalhadores.

William Mendes


Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 5 de junho de 2024. Quarta-feira.


Opinião


NÃO ADIANTA! NÃO HÁ DEMOCRACIA NO BRASIL!

Não adianta continuar disfarçando!

Não adianta tentar mudar a realidade miserável do povo através da conciliação com quem não quer conciliar, da negociação com quem tem a força e não vai negociar porque não precisa negociar, através das formas tradicionais de mobilização que fazíamos até então. E que não fazemos mais!

Não adianta continuar disfarçando através da aparência! Não adianta!

O pior é que não teremos perspectivas de mudança da merda na qual estamos, na merda para a qual caminhamos, se não houver mudança de atitude, de procedimento, do fazer-a-luta por parte daqueles e daquelas que de verdade querem mudar a realidade de merda na qual estamos.

Chegamos ao momento histórico no qual não adianta o Lula! Não adianta o Lula sozinho, sem movimento junto. E de novo, não adianta aparências de democracia sem processos democráticos, inclusivos, não alienantes. Não adianta!

Não adianta imaginar que pela burocracia vamos mudar a realidade miserável do nosso povo. Não adianta! A burocracia é do domínio dos nossos inimigos, se liga! 

Os parlamentos da chamada democracia representativa só representam os donos do poder e do dinheiro, que compraram 99% das vagas de representação. Não adianta ficar disfarçando para o povão que aqui é democracia. Isso é enganação! Alienação!

É um saco tudo isso!

Drummond diria que os tempos são de fezes!

O nosso lado da classe deveria parar de iludir e enganar a massa com esse papo de democracia. Joga na real com o povo!

Eu empapucei até com essa gente do nosso lado que ficou falando xandão das massas, ou merdas do tipo, babando ovo para os desgraçados dessa casta de ricos que ocupam as vagas dos filhos de papai nos órgãos do Estado, ferramenta do capitalismo tupiniquim.

Aí até gente do nosso lado da classe fica repetindo papagaiando que não há democracia na República Socialista de Cuba, onde as 470 vagas do parlamento deles são ocupadas por mulheres e homens do povo, de todos os lugarejos do país. 

A gente aqui no Brasil não aguentou um "lawfarezinho" como a Lava Jato e já foderam tudo por aqui. Imaginem se os Estados Unidos decretassem um bloqueio mesmo, de verdade, contra nós, assim como fazem com o povo cubano há décadas! Os bloqueios são para causar miséria e mudança de governo pela revolta popular. Aqui já tem miséria de sobra, imaginem com um bloqueio como seria!

Não haverá mudança, não interromperemos os atos dos representantes dos donos do poder, os 99% que representam o 1% nos parlamentos municipais, estaduais e federal, fazendo falas em redes sociais, vídeos para lacrar e disputar likes (e os algoritmos são da direita...), em encontros fechados controlados, ou até com manifestações presenciais (inócuas, infelizmente, quando não há um plano estratégico, quando as manifestações são episódicas e voluntariosas) porque as decisões já foram tomadas pelos burocratas nos encontros pequenos, nos jantares, nos convescotes, e podem ser encaminhadas as decisões pelas vias virtuais. É o caso das privatizações de tudo, mesmo não sendo a vontade popular.

Tudo será privatizado, destruído, entregue, dominado pelo 1% enquanto o nosso lado seguir disfarçando que estamos vivendo num estado de democracia blá-blá-blá.

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Estava terminando a reflexão, quando me lembrei de uma coisa: qual é a estratégia do nosso lado da classe para mudar a realidade do Brasil se desfazendo? Foi feito um planejamento estratégico? Temos em algum lugar um plano com objetivos de curto, médio e longo prazo com atores definidos para encaminhar nosso projeto de mudança? Esses planos estão sendo encaminhados pelos partidos de esquerda e pelos sindicatos? Temos alguma utopia que não seja eleitoral e eleitoreira e burocrática?

William


Post Scriptum: não vamos mudar a realidade com essa coisa de ficar enxugando gelo, tipo os trabalhos encantadores e militantes de ficar individualmente defendendo nossas bandeiras da esquerda pelos logradouros onde ainda nos deixam ficar ali dialogando com transeuntes (outro dia os agentes do Metrô queriam me impedir de distribuir panfletos na calçada!).


terça-feira, 4 de junho de 2024

10 de 100 dias



10. Escrever quando a tendência é ser "youtuber" e "influencer"; os tempos são de áudio, imagem e vídeo. Porém, insistir em escrever.

Ler e escrever. Comentar sobre determinadas coisas através da linguagem escrita, com o signo linguístico inventado pelos animais humanos.

Seria essa a minha escolha para viver a vida a partir de agora, escrever?

Estudar algo e comentar através de texto? Estudar e aprender alguma forma de cultura e compartilhar minha impressão sobre ela?

Tenho perguntado a mim mesmo o que poderia fazer pelo planeta Terra, pela manutenção dos biomas e seres vivos. Minha mente deve estar ruim, pois não consegui achar ainda uma resposta.

Não tive criatividade ainda para definir o que poderia perseguir como objetivo pessoal nas próximas semanas.

Ler e escrever diariamente é uma das atividades desejadas por mim.

É isso!

William


segunda-feira, 3 de junho de 2024

9 de 100 dias



9. Baseado no que tenho refletido recentemente sobre minha vida pessoal, ainda não tenho claro o que estou perseguindo como objetivo por uma centena de dias. O que sei é que preciso lidar com sentimentos que limitam minhas potencialidades em relação ao que ainda poderia realizar enquanto sou e estou no mundo. Guardadas algumas exceções, avalio que ainda poderia ser e fazer muitas coisas, tanto para mim mesmo quanto para a coletividade humana.

E pelas condições gerais do meu existir, escrever seria talvez a coisa mais útil que eu poderia fazer para a comunidade à qual pertenço, mesmo estando neste momento com um sentimento de não pertencimento a quase nada. Querendo ou não, se parar para pensar friamente, eu pertenço a algumas abstrações mentais dessas criadas pelos animais homo sapiens.

Pertenço a uma determinada família, porque os seres humanos criaram esses conceitos nas relações sociais humanas. 

Pertenço a algumas comunidades determinadas por algo em comum, por exemplo, dos brasileiros e brasileiras. Eu pertenço àquela parte pequena dos brasileiros que trabalhou durante a vida na empresa pública Banco do Brasil e dessa "comunidade imaginada" - para usar o conceito de Benedict Anderson -, sou afiliado a diversas associações criadas pelas pessoas da comunidade de bancários do Banco do Brasil: Cassi, Previ, sindicato, associações de aposentados e atléticas etc.

Outro suposto pertencimento imaginado por mim seria ao segmento de pessoas no mundo que se entendem como pessoas de esquerda, que se identificam com supostos valores relacionados com princípios e objetivos da esquerda na sociedade humana. Os problemas dessas abstrações humanas já começam por aí: o que seria ser de esquerda hoje, tanto no Brasil quanto no mundo? Ao ver o comportamento e as proposições daqueles que entendia serem de esquerda, já não entendo mais nada... (ou entendo)

Enfim, o que poderia vislumbrar para uma centena de dias de existência em relação ao meu cotidiano e aos meus objetivos? Não posso enganar a mim mesmo nesta altura de minha vida. São necessários parcimônia e pés no chão para definir o que poderia perseguir como objetivo e depois avaliar o que rolou em minha vida nas próximas semanas, ou seja, em uma centena de dias, de 26 de maio a 2 de setembro.

Ver impresso o livro de memórias que estou editando? (e o que faria com isso?)

Ter sido "acabativo" em alguma empreitada de leitura e estudos e trilha de conhecimento?

Ter descoberto os motivos de minha perda de condição de saúde e, não sendo nada fatal, estar em processo de mudança e recuperação de alguma parte de minha saúde?

Ter avançado em algum projeto de estudo mais focado? 

Ter avançado em algum projeto de escrita no qual possa estar contribuindo com o compartilhamento gratuito de algo que sei?

Sei lá!

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Fiz algo nos últimos dias pouco comum em meu cotidiano: estive com pessoas que me fizeram rir e vi mídias de cultura que me fizeram rir e chorar. Isso é bom!

William Mendes


Leitura: Gen Pés Descalços (7) - Keiji Nakazawa



Refeição Cultural

Gen Pés Descalços

Volume 7


Dos volumes que já li de Gen Pés Descalços, talvez o sétimo seja o que tenha mais arcos ou pequenas histórias dentro da narrativa sobre a vida da família Nakaoka e do povo japonês no período posterior à derrota na guerra e após as duas bombas atômicas que mataram centenas de milhares de pessoas.

Já no início da história, Gen e Ryuta interrompem a busca de soluções para imprimir o livro "Fim de um verão" de Matsukichi Hirayama, contando ao mundo sobre as consequências da bomba atômica para o povo japonês. Eles precisam ajudar Noro, garoto que fugiu do reformatório com Ryuta e que queria se vingar do tio que roubou toda a herança de sua família, sendo responsável pela morte da irmã de Noro e prisão dele.

Esse arco foi resolvido graças à generosidade de Gen, um pacifista assim como toda a sua família. Da solução da história de Noro, os meninos foram atrás da impressão do livro do senhor Hirayama. Para isso, Gen procurou o senhor Bok, um coreano amigo da família Nakaoka desde antes da guerra.

O senhor Bok ajuda Gen e vemos no mangá a história dos coreanos subjugados pelos japoneses naquele período da guerra.


Neste momento da leitura, tomamos conhecimento de mais algumas informações relevantes para a história. O único que sabe ler no grupo de crianças vítimas da guerra, os amigos e protegidos de Gen, é ele mesmo, que deve estar com uns nove ou dez anos. Começa um arco aí, a leitura da história do senhor Hirayama, no livro "Fim de um verão".

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"O porto de Hiroshima, por exemplo, vivia repleto de soldados que só aguardavam o momento de serem enviados aos campos de batalha do Sul.", Gen leu no livro para os amigos. E continuou:

"Hiroshima era a cidade que sediava as divisões do exército japonês. Um lugar que prosperou como capital militar do país."

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Parte duríssima da história. Revemos toda a história e cenário do volume dois, o lançamento da bomba e as consequências dela. Cenas duras! O desenho de Nakazawa é impressionante!

Da distribuição do livro, começa um novo arco, porque era proibido aos japoneses falarem sobre a guerra e suas consequências. Os leitores vão conhecer agora os norte-americanos atuando no Japão como donos do mundo, os mesmos que ensinarão métodos de tortura aos ditadores sul-americanos nas décadas seguintes.

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NONSENSE que funciona bem com Nakazawa

Nakazawa tem uma forma muito peculiar de contar a história de seu povo, ele mescla na História em Quadrinhos violência extrema com humor, e a gente acaba entendendo o motivo de sua técnica. Neste volume, no arco dos agentes norte-americanos, os garotos em cativeiro "treinam" em si mesmos resistência às torturas que imaginaram que sofreriam em seguida. É algo nonsense, mas que dá todo o sentido naquela parte da história.

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Desse arco do cativeiro, surge outro bem legal. É a revanche! Os garotos descobrem como destruir as máquinas do inimigo com docinhos de açúcar.

O último arco do volume é muito emotivo. A mãe de Gen volta para casa, pois estava internada com a doença da bomba. O irmão mais velho dele, Kouji, também volta depois de um bom tempo sem notícias. A família está reunida novamente. 

Conhecemos a história do casamento dos pais de Gen e os duros tempos de guerra, quando o governo japonês torturava o próprio povo, quando alguém discordava da guerra e do imperador.

A mãe de Gen quer ir com a família a Kyoto e novamente vemos a humildade e determinação do garoto para conseguir os recursos para a viagem. Gen vai recolher fezes humanas para atingir seus objetivos.

Apesar do volume terminar de forma triste, vemos a determinação de Gen Nakaoka em querer falar com o chefão dos invasores norte-americanos e com o imperador do Japão sobre os efeitos da guerra e da bomba atômica.

Vamos para o oitavo volume. Como vocês perceberam, procurei falar das temáticas dos arcos sem dar spoiler sobre o que de fato aconteceu. Só lendo o mangá para conhecer os detalhes. O comentário do primeiro volume pode ser lido aqui. Os seguintes estão ao final de cada texto.

O volume seguinte, o oitavo, pode ser lido aqui.

William


domingo, 2 de junho de 2024

8 de 100 dias



8. Iniciei mais uma semana de vida neste domingo. Voltamos hoje do feriado que passamos na Colônia do Sinpro SP, na Praia Grande. Adoramos aquele lugar simples e aconchegante. E ainda tivemos o prazer da companhia de uma família de amigos professores que nos faz acreditar em sentimentos humanos que às vezes achamos perdidos para sempre: esperança, amor, amizade, bom humor, ética, atitude, e outras nobrezas da espécie humana.

No final da noite de domingo, assisti em casa a mais um filme da saga Mad Max, o Estrada da Fúria. Fiquei pensando se as ficções abordando temas sobre mundos destruídos e ambientes humanos sem sociabilidade alguma seriam ficções idealizadas por causa de previsões e estudos sobre o amanhã na Terra, causando nos espectadores um certo temor a respeito do futuro e uma certa conscientização do que estamos fazendo com o único lugar habitável no universo, ou se seriam só diversão mesmo, passatempo. Ou as duas coisas.

Estou com sono para escrever. Vou dormir. Meu desejo é encontrar algum objetivo de curto prazo que mude alguma coisa no meu cotidiano. Ainda não me veio a resposta. 

Outro desejo deste animal humano que fala através de seus registros em um blog na internet é ser útil de alguma forma para a coletividade humana no sentido de libertar as pessoas da opressão e da miséria, e da ignorância política predominante na maioria (sei que isso soou arrogante...), mesmo após tanta ciência e descobrimentos realizados pela nossa espécie.

Não encontrei respostas para esses desejos. Avaliando um pouco, me parece que qualquer contribuição que eu ainda poderia fazer seria escrevendo alguma coisa, falando alguma coisa que sei e que gostaria de compartilhar de forma gratuita com os outros. 

Durante décadas, procurei respostas para a vida, para a minha vida, para compreender a vida humana e o nosso mundo. Já encontrei as respostas, hoje compreendo as coisas.

O difícil agora é encontrar sentidos para as buscas que estou fazendo depois das respostas que encontrei sobre a vida.

William


sábado, 1 de junho de 2024

7 de 100 dias



7. Enquanto caminhava pela orla da Praia Grande, pensava nas coisas da vida. Vendo o cenário e as pessoas na paisagem, me veio à mente a questão da saúde e da não saúde, inclusive da saúde mental, e a questão do saber e do não saber.

Fiquei muito incomodado ao ver logo cedo uma matéria nas redes sociais sobre nossa autogestão em saúde, anunciando como uma grande conquista a novidade de que agora qualquer um dos 588 mil participantes do sistema pode se cadastrar numa empresa capitalista de consultas por telemedicina com psicólogos e psiquiatras... sem recomendação e orientação adequada por parte das equipes de saúde (da Estratégia de Saúde da Família) da própria Caixa de Assistência.

Aí, um leigo em gestão de saúde, em gestão de saúde do modelo assistencial que nós preconizávamos na Cassi, poderia me dizer assim: - Ué, não é uma boa notícia? Pelo que a operadora anunciou, é uma ótima notícia! Agora qualquer usuário dos planos do sistema Cassi pode fazer quantas consultas quiser com psicólogo e psiquiatra. É só criar uma conta lá na empresa conveniada e pronto. Que mal há nisso?

Eu fico admirado, mas não surpreso, na forma como as coisas se desenvolvem no mundo atual. E fico me cobrando por que eu insisto em perder meu tempo elaborando comentários sobre coisas relativas à nossa Caixa de Assistência. No fundo eu sei por que me cobro isso: porque alguém que tem conhecimento sobre algo não pode se isentar de dizer o que sabe sobre aquilo. Eu conheço a Cassi e o modelo assistencial, conheço o mercado onde ela opera e os problemas da autogestão. Não posso me calar!

A notícia sobre um convênio com uma empresa do mercado para que os participantes do sistema Cassi possam fazer consultas à vontade com seus sócios ou profissionais é uma notícia no mínimo preocupante para a sustentabilidade da operadora, para os próprios assistidos dos planos e para o modelo que a Cassi deveria perseguir caso queira sobreviver por bastante tempo. 

Sério: vendo a forma como a notícia foi dada, qualquer gestor de saúde que olha os custos do sistema saberia o que estou dizendo. É uma temeridade a notícia! É um incentivo ao gasto aberto sem resolutividade aparente e com risco de uma conta impagável para a operadora.

Mas vai entender! Isso não deveria ser problema meu, nem preocupação minha. Sei de diversas pessoas dentro da gestão da operadora que deveriam saber que nosso modelo não era para ter foco no estímulo aos participantes para fazerem suas "demandas" na rede prestadora assim como está na propaganda, ao sabor do mercado. 

Era para ser o inverso. Era para um participante da Cassi só passar por uma consulta ou exame na rede privada capitalista consumidora dos recursos do sistema Cassi caso um médico ou alguém da própria equipe de família que acompanha e monitora aquele participante sugerisse a marcação da consulta ou exame. Repito: era para toda a gestão da Cassi ter isso em mente! O que mudou tanto?

Então, por que eu estou preocupado com essa notícia esquisita, chamando os 588 mil participantes do sistema a saírem se cadastrando na tal empresa conveniada e fazendo consultas quantas vezes quiserem? A empresa vai lucrar mais com o estímulo da própria operadora que vai pagar a conta para seus usuários irem às comprar no mercado de venda de serviços de saúde. Francamente!

O mundo humano está muito esquisito. Vai saber quantas daquelas pessoas que vi por uma hora na orla da Praia Grande não são participantes dos planos de saúde da Cassi e não poderiam começar já a se cadastrarem na tal empresa e marcarem consultas com psicólogos e psiquiatras à vontade... (É a lógica do Emplasto Brás Cubas que expliquei aos usuários da Cassi quando era gestor eleito da operadora)

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Enfim, não consegui deixar para lá essa coisa martelando nas minhas ideias e consciência e incomodando meu dia. 

Apesar desse incômodo, foi excelente meu sétimo dia de uma centena de dias sendo vividos em busca de sentidos, de prazer, de amizade, de amor, de conhecimento, e de mudanças.

A foto que ilustra essa postagem é da Colônia dos Professores onde estamos neste feriado. Passamos boa parte do dia conversando com gente inteligente, alto astral, gente da classe trabalhadora e que atua com educação. 

Foi um dia feliz. Imaginem vocês que enquanto aproveitávamos o dia, aprendemos muitas coisas novas de cultura geral.

William