sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Necrológio para minha querida tia Alice

Tia Alice, escrevi ontem no livrinho de lembranças em seu velório o quanto lhe amava e admirava. Ali, anotei que uma das coisas que sempre admirei na senhora foi ter e manter a curiosidade filosófica que a maioria dos jovens hoje já não possui. Admirável a senhora manter a curiosidade de saber sobre as coisas e de ter a humildade de sempre perguntar e ir atrás do conhecimento, mesmo em toda a sua simplicidade – simplicidade robusta em sabedoria. Outro dia a senhora estava me perguntando sobre o caso de Honduras, mesmo vivendo à custa de alimentação por sonda. Que fome de saber simples e bela! Como eram belas nossas tardes em família “filosofando sobre coisas do mundo”. Escrevi também que pessoas simples como a senhora é que nos incentivam de seguir lutando para mudar o mundo. Mas, confesso à senhora que, às vezes, eu me pego cansado e querendo partir para outra. Eu, por exemplo, represento uma categoria que ganha bem mais que a média da população brasileira e, muitas vezes, depois de toda a luta que organizamos, ainda nos ofendem. Quantas vezes já não ouvi de colegas, que ganham dez vezes o que ganho, me ofenderem e dizer que sou isso ou aquilo. Tia, sei que a senhora queria viver e viver de qualquer jeito e pensou nisso até anteontem. Pela manhã, queria estar curada para poder comer como todos da casa e, à tarde, seu corpo esfriou e a pressão caiu e o coração e pulmão lhe falharam. Eu só tenho que admirar pessoas apegadas à vida como a senhora. Tia Alice, obrigado por sua companhia nestes quarenta anos. Obrigado mesmo! Como escrevi ontem, a senhora viverá eternamente, ao menos enquanto eu viver, pois estará sempre em minha lembrança.

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