terça-feira, 3 de novembro de 2009

Literatura Portuguesa IV - A questão da Saudade

Teoria Ontológica

Queda e esperança

(texto de Teixeira de Pascoaes: "Os Poetas Lusíadas". Porto, 1919. Cap. VI)

A Saudade inclui a esperança; e por isso, a lembrança visa também o futuro. Estas duas forças (uma criadora e outra perpetuadora) são a essência e o corpo da Saudade. Várias vezes aludimos a este facto que nos deixa pressentir o sentido da nossa Elegia nevoenta e misteriosa, como a ilha do Encoberto. Sendo a Saudade uma força criadora (esperança) e perpetuadora (lembrança) a Saudade é a própria Natureza afeiçoada ao sentimento lusitano, porque esta é absolutamente redutível àquelas duas forças, razão e efeito de tudo quanto existe. Em tudo se revela uma força invisível, num sentido superior e divino, mas logo decaída e aprisionada em aparências inertes e corpóreas. É a esperança e a sua materialização ou decadência em formas de lembrança: a Aparição e a Aparência, Deus e o Mundo.

Se o Universo é a infinita lembrança da esperança, ele é, por isso mesmo, a expressão cósmica da Saudade.

Também a consciência humana resulta dum movimento reflexo do espírito criador sobre as suas formas já criadas, da esperança espiritual sobre a lembrança espiritual , da imaginação revolucionária sobre a memória conservadora. E, por isso, a alma, como síntise daquelas duas forças, é a expressão transcendente da Saudade.

(segue...)

Bibliografia:
DALILA L. P. da Costa e PINHARANDA Gomes. "Introdução à Saudade" (antologia Teórica e Aproximação Crítica). Lello & Irmão - Editores. 1976, Porto.

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