terça-feira, 26 de maio de 2020

260520 (d.C.) - Diário e reflexões



Flores e livros.

Refeição Cultural 

Morrer agora, seria uma coisa estúpida, temos que viver e ver o fim dessa desgraça em que nos colocaram


Hoje é terça-feira, dia 26 de maio, do mundo depois do novo coronavírus.

Estou ouvindo a Sinfonia nº 5, de Beethoven, enquanto reflito sobre o momento por alguns minutos aqui neste espaço virtual de escritura. Me pareceu que a 5ª Sinfonia é propícia para o momento.

O país em que vivo, uma das regiões mais privilegiadas do planeta Terra em termos geográficos e geológicos, sofreu um processo complexo de destruição recente, destruição motivada pelo incômodo que os governos do Partido dos Trabalhadores causaram aos homens da casa grande por ter o PT distribuído um pouco da riqueza gerada pelo povo explorado e gerar oportunidades ao povão por pouco mais de uma década. Isso foi imperdoável para a elite e para os manipuláveis da chamada "classe média"! 

Entre 2003 e 2016, ano do golpe de Estado que retirou o PT do governo, vi o processo de destruição do país e da sociabilidade do povo brasileiro porque eu era um dirigente político e estudioso de linguagem e comunicação e das causas populares, e vi em andamento o processo que resultaria no golpe e na tragédia seguinte.

A casa grande não suportou ver de novo o PT no poder pelo voto popular. O partido havia sido eleito democraticamente pela 4ª vez em consulta aos cidadãos brasileiros e o candidato da casa grande, do partido da chamada "social democracia" brasileira, havia avisado que se o povo escolhesse novamente o PT, o partido não governaria mais. Eles cumpriram a ameaça.

Inventaram a Lava Jato, envenenaram o povo com ódio e medo, perseguiram os partidos e lideranças do campo popular, desrespeitaram o voto de 54,5 milhões de brasileiros, e entregaram o Brasil a uma bandidagem e gente má que nunca se viu na história do período republicano do país. Chegamos aonde chegamos. Com um grupo ligado às milícias no poder, nos poderes, e um bando de centenas de homens e algumas mulheres que representa tudo o que não presta nas instâncias do Estado nacional. Perdemos todos.

Eu não aceito em hipótese alguma que se esconda ou esqueça ou releve o que era o Brasil de Bolsonaro e tucanos e destruição total dos direitos civis, políticos e sociais e das instituições do Estado antes da chegada da pandemia de Covid-19 em janeiro deste ano. Se uma fada acabasse com a pandemia hoje, nada mudaria a destruição de nosso mundo, causada pelo golpe de 2016 e pelos agentes que cito aqui. Nada!

CENA DE MATRIX QUE EXPRESSA UM POUCO DA IMPOTÊNCIA QUE SINTO

Tem um momento no clássico Matrix (1999), que nunca me saiu da cabeça, porque me faz pensar que nos encontramos naquela situação de impotência, após tanto lutarmos contra os poderosos e contra o mal. Morrer daquele jeito é muito humilhante, é uma forma muito estúpida de morrer após lutar contra tanta coisa grande e após tanta exposição à morte nas batalhas contra os inimigos.

Cypher decide trair seus companheiros de luta, faz acordo com os agentes do sistema, e chega o momento em que ele está na nave Nabucodonosor e começa a matar um por um, daqueles que estão naquele momento lutando na Matrix. Para matar seus companheiros, ele simplesmente desconecta o cabo que está plugado neles e a pessoa cai morta do outro lado. Ele está falando com Trinity pelo telefone e avisa a ela que vai matar um por um. Eu até me arrepio quando ela olha para Switch, fazendo ela perceber que chegou a vez dela morrer, e ela com olhar desesperado diz antes de cair morta: - não assim...


Belinda McClory como Switch, em Matrix.

Me sentiria como Switch, se morresse por esses tempos, seja de Covid-19, de depressão, de doença me comendo por dentro, enfim, morrer agora, vendo toda a desgraça que nosso mundo se transformou por causa do que nos fizeram os desgraçados da casa grande e seus representantes da grande imprensa e seus partidos de merda. 

---------------------

LEITURAS

Além de uma novela por dia do clássico Decameron, já li 54 em 54 dias de quarentena, estou lendo Hobsbawm, A era dos extremos, e estudando língua japonesa.

A leitura de Hobsbawn é difícil e tiro o chapéu para quem conseguiu ler de forma fluente e direta. Não consigo ler mais que 15 ou 20 páginas por dia. Cada página faz você lembrar e relembrar e refletir sobre o ontem e ligar o ontem ao hoje. É leitura que nos traz amargura, porque não aprendemos nada com a história. Que merda somos nós nesse sentido. No ritmo em que estou, e tendo firmeza de propósito, espero acabar a leitura em mais umas 18 sentadas. Coisa de vinte e poucos dias.

Desde que retomei a leitura, já li cerca de 130 páginas. Li os capítulos 6. "As artes 1914-45", 7. "O fim dos impérios", 8. "Guerra fria", 9. "Os anos dourados", e estou terminando o 10. "A revolução social 1945-90".

O capítulo em que estou me lembrou muito os governos do PT no Brasil, ocorridos no início do século XXI, porque as semelhanças em termos de avanços para as classes populares são impressionantes. Os governos de Lula e o primeiro de Dilma foram para os trabalhadores brasileiros o que foram os anos dourados dos países desenvolvidos no pós-guerra em relação aos avanços para a classe trabalhadora.

Enfim, chega. Nem sei como tive saco para escrever tanto. 

William
Me sentindo meio Switch. Espero que não morra de forma tão estúpida e inútil como a personagem de Matrix, sobreviver às batalhas e morrer por uma traição.

Nenhum comentário: