1º de Maio no Vale do Anhangabaú em 2019. |
1º DE MAIO
Hoje é 1º de Maio de 2020, um dos dias mais importantes da classe trabalhadora mundial em relação ao calendário anual. Um dia de reflexões, de balanços, de lutas. Um dia de revigorar as utopias que movem os seres humanos que desejam um mundo mais justo e solidário, igualitário, sustentável, democrático e que tenha a paz mundial como um dos objetivos a serem alcançados. Não haverá evento presencial com trabalhadores e suas lideranças. Estamos enfrentando uma pandemia mundial de Covid-19 e a morte espreita por aí. A recomendação é isolamento social e quarentena.
O cenário brasileiro e mundial neste 1º de Maio é um dos mais adversos da história da classe trabalhadora em décadas de organização e lutas por um mundo com mais oportunidades para todos e com melhor distribuição da riqueza produzida pelos trabalhadores. O mundo do trabalho já enfrentava dificuldades desde a crise do subprime em 2007 quando os Estados nacionais deram trilhões de dinheiros para banqueiros e empresários e vinténs para milhões de pessoas que viviam de suas forças de trabalho. Aí veio a pandemia do novo coronavírus em 2020 e desgraçou de vez as condições de vida dos povos pelo mundo.
O Brasil e o povo brasileiro tiveram datas de 1º de Maio memoráveis durante os anos iniciais do século 21 (entre 2003 e 2015), anos em que o Partido dos Trabalhadores esteve na Presidência da República na data em questão, com Luiz Inácio Lula da Silva e com Dilma Rousseff. Só para lembrar: aumentos reais consecutivos do Salário Mínimo e dos salários das categorias profissionais, ampliação de direitos trabalhistas e de oportunidades de ascensão social através do financiamento público da educação em todos os níveis e criação de aproximadamente 15 milhões de empregos com carteira assinada. A taxa de desemprego em dezembro de 2014 foi de 4,3% (IBGE), um feito histórico.
Em 2016 veio o Golpe de Estado e a abertura da Caixa de Pandora. Sai de cena governos democráticos e populares com identificação histórica com as classes populares e ao iniciarmos um período de exceção (que gente vil e incautos seguiram chamando de "democracia") entram em cena no comando das instituições do país todas as espécies de gente que não presta - mafiosos, corruptos de colarinho branco, milicianos, estelionatários, manipuladores da fé, uma horda de gente violenta e sem cultura, bárbaros de toda espécie. Um dos organizadores do Golpe assume o governo e começam as reformas que viriam a destruir os direitos dos trabalhadores brasileiros. O coroamento da desgraça toda viria com as eleições fraudulentas de 2018, que nos colocou na situação em que estamos neste 1º de Maio.
Enfim, esses registros de lembranças que comecei a fazer após conhecer há pouco tempo um livro muito interessante de Margo Glantz - Yo también me acuerdo (2014) - não são para escrever sobre a história do Brasil nem da classe trabalhadora brasileira, eu não teria saco para isso nesta altura de minha vida, mesmo que tivesse competência para tal. São para registrar momentos que vivi enquanto cidadão ao longo das últimas décadas. Todos fazemos parte da história porque a história se desenvolve através do cotidiano das gentes. Nada nada fui dirigente eleito por 16 anos de uma das categorias profissionais mais organizadas do país, os bancários. Fiz parte da organização de greves importantes do movimento estudantil como a da FFLCH-USP em 2002. E vivi muitos 1º de Maio, inclusive os debates organizativos do mês que antecedia à organização dos eventos.
Me deu vontade de registrar algumas lembranças que vivi nesta data tão importante para a classe trabalhadora. Não tenho muito fôlego para escrever várias datas, mas algumas não custa tentar.
DIAS D@S TRABALHADORES
2006
ME LEMBRO que em 2006 eu assumi novos desafios no movimento sindical brasileiro. Os bancários decidiram ampliar o escopo de representação da estrutura sindical da categoria para fazer frente às novas formas de exploração por parte dos patrões do setor, os banqueiros. Eles já vinham se organizando em holdings e corporações e ao longo de anos foram retirando os trabalhadores da cobertura da Convenção Coletiva de Trabalho dos bancários (CCT/CUT). Criamos a Confederação Nacional dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf-CUT) e seu primeiro Congresso foi em abril de 2006. Tive a honra e o privilégio de fazer parte dessa história e fui eleito secretário de comunicação da entidade. A experiência seria engrandecedora para mim e por 9 anos (3 gestões) fiz parte da organização nacional dos bancários. O 1º de Maio de 2006 foi na Av. Paulista, com mais de 1 milhão de participantes. Os eixos temáticos eram: fortalecer a democracia, mais e melhores empregos, renda e ampliação de direitos.
Me LEMBRO que o desafio das comunicações me levou a pensar diversas estratégias para aprofundar meus conhecimentos na área. Eu passei a participar de diversos fóruns sobre comunicações, imprensa, jornalismo, mídia etc. Participei do Movimento dos Sem Mídia. Li livros sobre o tema e me aproximei muito do dia a dia da CUT Nacional, sem descuidar do que aprendi com meus companheiros do coletivo do Banco do Brasil no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região: nunca perder o contato com a base, tanto os locais de trabalho quanto o seu sindicato de origem. Participava de todas as reuniões da direção do Sindicato e fazia visita às agências e departamentos do BB - era bom sindicalizador, levava bancários para cursos de formação, para assembleias de base e escrevia muito, muito.
ME LEMBRO que tive o privilégio de atuar na secretaria de comunicação com profissionais da mais alta competência, grandes jornalistas e militantes das comunicações e das causas populares. Até definirmos o modelo de gestão na secretaria da Confederação, aprendi muito tanto com o pessoal da Fórum, sob a liderança do Renato Rovai, quanto sob a liderança do Coelho, amigo de décadas, em outra etapa da secretaria. No mandato seguinte, quando fui para a área de formação, teria a oportunidade de ver na comunicação o brilhantismo do companheiro Ademir. Ou seja, imaginem vocês como fui um privilegiado pela oportunidade de compartilhar os aprendizados e experiências dessas figuras e suas equipes de trabalho.
2007
ME LEMBRO que o ano de 2007 foi um ano intenso para nós do Banco do Brasil. Tivemos mobilizações do movimento e negociações com a Caixa de Assistência dos Funcionários, a Cassi. No dia 9 de abril daquele ano, a Contraf-CUT enviou ofício ao Banco questionando diversas retiradas de direitos dos associados por parte do CD da Cassi (veja reprodução do teor do ofício aqui) e a pressão do movimento sindical fez o Banco e a direção da Cassi voltarem atrás. Ainda sobre a Cassi, participei da Conferência de Saúde da Cassi SP na AABB, no sábado 14 de abril. Neste ano, eu fazia a posse de funcionário novos do BB na Gepes para apresentar o Sindicato a eles e sindicalizava muitos bancários no 1º dia de trabalho. Eu era responsável também pela confecção da revista nacional O Espelho, dedicada aos temas do funcionalismo do Banco do Brasil. Olhando o registro de prestação de contas que eu fazia no blog A Categoria Bancária (mês de abril/2007: ver aqui) percebi que passei vários dias do mês estudando a história de lutas no Banco do Brasil para escrever tese e ou projeto para o BB e os trabalhadores. Nessa época, eu já escrevia bastante para o movimento sindical. O 1º de Maio tinha como um de seus temas o veto do Presidente Lula à Emenda 3, que atacava diversos direitos trabalhistas como férias, 13º salário, FGTS etc. Eu não fui aos atos porque estava terminando os textos sobre o Banco do Brasil.
2008
ME LEMBRO que neste ano tivemos eleições no Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região. Como dirigente da Executiva da Contraf-CUT e do Sindicato, eu já me dividia entre as atividades das duas entidades. Minhas jornadas eram longas, quando ia para a secretaria à tarde é porque já havia estudado a manhã toda ou participado de eventos do Sindicato. Ao rememorar o meu mês de abril de 2008, consultando o blog (mês de abril/2008: ver aqui) percebi que fiz reuniões com os trabalhadores na base ao longo do mês, além das atividades de estudos e construção de conteúdo nacional para os sindicatos filiados à Confederação. O 1º de Maio desse ano tinha como temas centrais a redução da jornada de trabalho sem redução de salários e a luta pela ratificação das Convenções 151 e 158 da OIT. Os trabalhadores brasileiros tinham uma pauta de avanços nos direitos e não de redução como passou a ser após o Golpe de 2016.
2009
ME LEMBRO que nesse ano meus desafios no movimento sindical se ampliaram, porque tivemos o 2º Congresso da Contraf-CUT em abril e fui eleito secretário de formação. Ali se iniciava uma das etapas mais produtivas e prazerosas que vivi no movimento sindical, ao lado de valios@s companheir@s do Dieese e de sindicatos de todo o país. Olhando o mês de abril, que antecede o 1º de Maio, vi através do blog uma agenda cheia e produtiva (mês de abril/2009: ver aqui). Realizamos o 20º Congresso Nacional dos Funcionários do Banco do Brasil em Brasília (DF); eu fiz um artigo de contribuição aos debates naquela semana. (ler aqui). O papel do BB e as incorporações era um dos eixos temáticos. Meu artigo fala sobre remuneração e condições de trabalho e estratégias de luta. Fiz outro artigo sobre comunicação e formação (ler aqui). O 1º de Maio teve como tema "1º de Maio de luta - Pelo Desenvolvimento com Trabalho, Renda e Direitos" e os eventos foram descentralizados e sem o patrocínio de grandes empresas. O mundo vivia a crise do subprime e nós defendíamos que não eram os trabalhadores que tinham que pagar pela crise. Eu participei das atividades da CUT na Cidade Dutra, zona Sul de São Paulo. Participei também no domingo dia 3 da II Etapa do Circuito Osasco de Corrida de Rua - I Desafio dos Trabalhadores (corri 8k). O nosso Sindicato ajudou a promover a prova e incluiu centenas de bancários no evento. Eu era uma das pessoas voluntárias no Sindicato a sugerir ideias de atividades culturais, de esporte e saúde para aproximar os bancários do dia a dia do Sindicato e apostamos em algumas parcerias em corridas de ruas. Foi um sucesso a iniciativa.
APENAS LEMBRANÇAS E REGISTROS
Passei algumas horas de ontem, 30 de abril, até agora, tarde de 1º de Maio de 2020, Dia dos trabalhadores e trabalhadoras, relembrando dias de lutas, dias de vida. Mas vou parar, por enquanto. Para uma postagem, já está bom.
Como representante eleito da classe trabalhadora, busquei ao longo de quase duas décadas criar estratégias de politização, formação e informação de meus pares. Os dois blogs que criei tinham esse objetivo.
O auge dos blogs foi atingido durante o mandato que exerci na Cassi. Naquele momento, cada postagem tinha centenas ou milhares de acessos. Ali eu atingi o objetivo de criar leitores e manter uma relação fiel com eles. Agora isso passou.
Na atualidade, se eu mando o texto produzido por mim para dezenas de pessoas de meu contato ou compartilho em um monte de grupos de Facebook ou WhatsApp, acabo conseguindo que algumas pessoas leiam o texto, chegando a algumas dezenas de acessos. Se eu não divulgo o texto dessa forma, não tem quem os leia. Tenho pensado em não mandar mais pra ninguém. O dia que mando ainda é porque a vaidade falou mais alto.
Palavras, palavras, palavras. Na realidade o que temos aqui no blog é um amontoado de palavras, que tentam contar histórias de luta, reflexões e alguns desabafos, às vezes.
Abraços aos leitores e viva a classe trabalhadora!
William
Post Scriptum:
Para aquel@s que tiverem a curiosidade de ler os outros dois capítulos dessas lembranças, aqui estão os links. Clique aqui para o 1º texto e aqui para o 2º.
Fontes de informações:
Blog Categoria Bancária: http://categoriabancaria.blogspot.com/
Cedoc da CUT: http://cedoc.cut.org.br/cronologia-das-lutas
CUT: https://www.cut.org.br/noticias/rumo-ao-1-de-maio-ab21
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