quarta-feira, 8 de abril de 2020

080420 (d.C.) - Diário e reflexões




Quarta-feira. Tempos de pandemia mundial do vírus Covid-19. Tempos de pandemia nacional de uma doença mental e comportamental identificada com uma palavra relativamente nova na Língua Portuguesa do Brasil, o Bolsonarismo. Tempos de pandemia do modo de produção capitalista, crise humanitária antiga antiga. Tempos de projetos para por fim à sociedade humana, por mais que não concordem que o resultado das merdas que os humanos estão fazendo vá levar a isso.

Não consegui fazer o que queria nesta manhã de quarentena. Acordei pensando em realizar afazeres pessoais que estabeleci mentalmente como algo que poderia chamar de rotinas para superar a nova realidade existencial com a mudança do mundo a partir da pandemia do novo coronavírus. Mas a verdade é que no contexto atual nosso ânimo varia a cada instante, num segundo queremos vencer todas as dificuldades, no outro achamos que não vale mais a pena tentar algo.

Quarentena e isolamento social são estratégias definidas por parte das autoridades mundiais da saúde para tentar frear a velocidade de contágio do Covid-19, já que não existe vacina ainda e já que ele se espalha rapidamente colapsando os sistemas de saúde existentes. Quanto mais humanos pegam a doença em menos tempo, maior a possibilidade de falência dos sistemas de saúde e mais mortes podem ocorrer por falta de assistência e aparelhos para manutenção da vida.

O Universo é muito antigo. E nele são muito antigas as diversas formas de coisas existentes. E elas se juntam, e se separam e se transformam. Coisas são criadas e coisas são extintas o tempo todo. O próprio Universo é uma dessas coisas. O planeta Terra é uma coisa do Universo. E a Terra tem bilhões de anos e zilhões de coisas, dentre elas a espécie humana, que por sinal é muito recente no planeta, ao considerarmos o tempo de existência de uma e de outra (coisa). Aparecemos dias atrás e já afetamos o planeta de forma a quase inviabilizarmos a coisa.

O novo vírus que está por aí mudou nossas vidas. Ele é invisível a olho nu e cheio de tentáculos para grudar nas coisas; está esperando o contato com novos corpos humanos para se reproduzir e seguir adiante com o seu objetivo (seria involuntário, já que é só um vírus? Uma coisa?). A gente vai dormir com a garganta arranhando, o nariz entupido, um pouco de dor de cabeça e já vem aquele sentimento de que estamos com a peste e podemos morrer em pouco tempo. Ou transmitir a coisa a outras pessoas e prejudicá-las também. Aí você acorda melhor e acha que teve aquilo que teve a vida toda, por décadas, quando baixa a resistência por cansaço ou estresse. E o dia recomeça dessa forma no novo cotidiano dos tempos de pandemia...

Gente, juro pra vocês! A gente tá fazendo tudo que recomendam de higienização. Mas que saco! Se ficar pensando que a vida daqui adiante será assim, vai ser um porre viver! Vai dar preguiça só de pensar nas coisas do dia a dia. Álcool pra lá, álcool pra cá; lava a mão toda hora porque pôs a mão nas coisas. Não pode mais pôr a mão no rosto. Lava tudo que entra em casa que veio da rua. Não pode mais abraçar e beijar as pessoas que a gente ama... Cara! Que saco! E dizem que a vacina demora anos para se atingir a produção em escala para se vacinar as pessoas mundo afora.

Estou sem vontade de fazer as lições de Japonês, que havia começado a estudar há três meses e vinha evoluindo bem. Era algo diferente que estava fazendo para o bem de meu cérebro ainda curioso de cinquenta anos. Depois de um mês sem minhas aulas de Kung Fu, começo a esquecer a quantidade grande de katis (séries de movimentos) que havia aprendido em um ano de prática dessa arte marcial. Foi outra coisa que inventei fazer aos cinquenta para desenvolver a concentração, o condicionamento físico e reencontrar a energia que sempre tive.

Eu adoro ler e estudar e não tenho conseguido avançar na leitura como gostaria já faz um certo tempo, praticamente desde que minha vida mudou radicalmente com a saída do movimento sindical e de representação dos trabalhadores. Talvez eu perceba mais dia menos dia que a força motriz da minha existência tenha atingido o auge ou o ponto de equilíbrio durante a fase de participação nas lutas populares entre os trinta e os cinquenta anos. Foi o tempo que menos vivi para mim e os meus e mais vivi para os outros, para o coletivo. Acho que a questão de pertencimento a algo maior que nossa dimensão pessoal dá sentido ao viver. Viver para a coletividade permite preencher os sentidos, inclusive os pessoais. Já o inverso...

Chega por hoje. Lá vamos nós para mais um cotidiano de saber que parte das pessoas ao nosso redor são bolsonaristas. Isso nos quebrou o moral profundamente... Sei que é impossível se colocar no lugar dos outros, mas dá pra imaginar a tristeza e desilusão que as vítimas dos piores regimes políticos da humanidade sentiram ao verem seus pares apoiarem Hitler ou monstros do tipo.

Lá vamos nós lidar com mais um dia sabendo que, no momento, os banqueiros, empresários e bilionários em geral estão vencendo a corrida pela vida em detrimento dos outros 99%, que estão se ferrando na vida - e são tão humanos quanto eles (e mortais). Não há lei da física ou da biologia ou o raio que nos parta que justifique isso.

Para valer a pena viver as coisas precisam mudar. Ou os 99% acabam com essa situação anormal, não natural, de uns com tudo e o restante com nada, ou a vida da coletividade humana não vale a pena.

Uma década atrás, e isso é um instante no tempo da história humana, parte civilizada dos pensadores do mundo refletiam sobre uma possibilidade e necessidade de mundo em que as pessoas teriam que trabalhar poucas horas e com bons salários para distribuir a riqueza gerada pela coletividade humana, já que a tecnologia existente pode substituir a mão de obra em grande parte das coisas. 

Vários governos democráticos e populares atuavam na América Latina para distribuir melhor os recursos do PIB nacional, mesmo que fosse sem rupturas com o pessoal do 1%. Aí vieram os golpes e rupturas democráticas, com novas formas de ataques aos povos e seus líderes (lawfare). Esse pessoal da casa grande não tem jeito mesmo, não sabe conviver com os pobres!

Ou a gente pega essa riqueza humana e distribui para todos e vamos ser felizes pelo amor e amizade, pela arte e pelo bem comum com tolerância ao diferente, ou a gente se acaba numa barbárie nunca vista de uns contra os outros, mas que comecemos pelo 1% que desgraça a vida humana no planeta.

William

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