terça-feira, 14 de abril de 2020

140420 (d.C.) - Diário e reflexões





Teremos que retomar a pauta da mudança do sistema de produção e exploração capitalista por outra forma cooperativa e coletiva, pois temos riqueza e tecnologia para todos viverem bem: é só trabalharmos menos e distribuirmos a riqueza produzida por todos!


Terça-feira, 14 de abril. Dia nublado e um pouco frio em Osasco. A família completa hoje um mês na quarentena por causa da pandemia mundial do novo coronavírus (Covid-19). Sou o único que saio de casa para repor os itens de necessidade básica, pegar entregas na portaria do condomínio e correr a cada três ou quatro dias.

O confinamento voluntário amplia o estresse psicológico que já era grande nas pessoas que se colocam sob o guarda-chuva daquilo que denominamos como campo democrático-popular ou campo progressista, onde cabem diversas linhas de pensamento como a esquerda, o centro e até setores liberais. Já estamos sofrendo há anos ao ver a destruição do país com o golpe de Estado de 2016.

Após trabalhar com gestão de saúde por quatro anos, consigo imaginar muito melhor hoje como deve estar a condição de saúde de parte importante dos cidadãos brasileiros. Acho que nunca estivemos tão infelizes e desesperançosos em relação ao presente e futuro de nossas vidas pessoais e coletivas. O golpe colocou no poder em todas as instituições do Estado nacional o que há de pior na sociedade. O mal ascendeu ao poder. E isso afetou nossa saúde física e psicológica.

Temos que buscar e inventar ferramentas internas de sobrevivência durante esse período nefasto porque não há ainda o menor sinal de reação por parte da sociedade "civilizada", conceito esquisito mas que talvez aglutine seres humanos que não apoiem o mal representado pelo movimento bolsonarista ou por segmentos humanos semelhantes que pregam o ódio, a violência, o favorecimento dos ricos, o desprezo absoluto pelos pobres e pela classe trabalhadora do país.

É nesse cenário dramático que vemos o desalento e o início de processos depressivos em diversas pessoas que conhecemos, tanto pessoalmente quanto pela convivência nas diversas dimensões sociais em que nos encontramos. Devemos resistir à tristeza e ao desânimo! Resistam, por favor! O mundo vai precisar de cada pessoa de nosso campo de pensamento, tanto para relembrar o passado, sem mentiras ou fake news, quanto para construir um mundo solidário e de esperanças com o que sobrar do mundo.

Ao ler um texto de um grande amigo professor, fiquei muito sensibilizado porque ele expressou aquilo que tenho ouvido dos profissionais da área da educação, tão atacada pelo fascismo no poder. O que eu disse a ele foi justamente para que resista e busque a resiliência necessária para atravessarmos essa fase distópica de nosso mundo. 

Vamos precisar de todos os progressistas de todas as áreas do conhecimento humano - professores, filósofos, biólogos, artistas - tanto das áreas atacadas pelo fascismo quanto das áreas menos atacadas para reconstruir o nosso mundo. Teremos que retomar a pauta da mudança do sistema de produção e exploração capitalista por outra forma cooperativa e coletiva, pois temos riqueza e tecnologia para todos viverem bem: é só trabalharmos menos e distribuirmos a riqueza produzida por todos!

ESPERANÇA - ontem, eu pensava a respeito das pessoas que conheço. Se eu começar a contar nos dedos um... dois... três... quatro... cinco... seis... sete... oito... nove... dez... onze... doze... vejam só, amig@s! Faltam dedos para eu contar quanta gente boa, humanista, que pratica o bem coletivo por amor, por amizade, porque quer um mundo melhor, que são engajadas em alguma atividade coletiva, enfim, se eu continuar a contar, serão dezenas...

Percebi que sou um afortunado! Sou um afortunado por conhecer tanta gente pelas quais vale a pena estarmos vivos. E tenho consciência que também sou um privilegiado - porque no Brasil de passado e presente escravocrata ter condição de sobrevivência é praticamente um privilégio de parte da população.

É através dessa consciência de ser afortunado pelos amigos que tenho e privilegiado por poder sobreviver numa sociedade bárbara e contra a vida que busco vencer os dias nesses tempos duros de pandemia de ignorância e pestes. 

Eu não sei como ajudar o mundo nesse momento (acho que ajudo fazendo a quarentena que nos pedem e não transmitindo vírus Covid-19 a ninguém). Sei que ajudei a construir coisas boas e coletivas durante as décadas que participei do movimento de luta dos trabalhadores. 

Devemos sobreviver a essa desgraça toda para dar ao menos nosso testemunho às novas gerações de lutadores sobre os avanços que tivemos com a unidade e mobilização que ajudamos a construir enquanto dirigentes do mundo do trabalho.

Amig@s, resistam! Os principais valores da sociedade humana não resultaram dos barbarismos animalescos de monstros que pregam o ódio, a morte, a eliminação do diferente, a falta de liberdade, o privilégio de poucos e a exploração das maiorias. Vieram dos pensamentos e atos das pessoas esclarecidas e humanistas.

Abraços fraternos e com solidariedade.

William

2 comentários:

Unknown disse...

Meu grande amigo William, texto fabuloso. Repleto de amor. Ao mesmo tempo que nos chama para a realidade, nos enche de esperança. Parabéns!

William Mendes disse...

Obrigado pelo comentário, prezado ou prezada leitor(a). Como você se esqueceu de se identificar, não tem como direcionar meu comentário de agradecimento. Fraterno abraço!

William