domingo, 30 de agosto de 2020

300820 (d.C.) - Diário e reflexões



Domingo, 30 de agosto, depois do aparecimento da Covid-19 (d.C.).

Hoje é aniversário de meu pai. Meus parabéns, pai! 78 anos! Sei que a vida não está fácil. Estamos vivos e isso já é alguma coisa. Resistimos até aqui ao coronavírus, mesmo com os abusos que cometemos em relação ao isolamento social: estamos o tempo todo na rua, apesar dos cuidados recomendados. Resistimos até aqui, mesmo com os abusos que cometem cotidianamente contra nós, cidadãos comuns desse país sob golpe de Estado e regime fascista, regime baseado na mentira e privilégio dos ricos. 

Sobrevivemos até aqui aos infartos, aos derrames e acidentes vasculares, depressões, cânceres, raivas e frustrações e outras merdas que nos matam de morte morrida. Que bom que estamos vivos, pois a vida é única e viver é uma oportunidade diária de acontecimentos bons para amenizar a dureza da existência. Ontem vi o nascer do sol. Hoje vi um lindo ipê branco no dia de seu desabrochar. Pai, desejo ao senhor a saúde possível, já que o senhor tem diversos desgastes da passagem do tempo. Também já tenho os meus aos 51 anos. Amo vocês, pai, mãe, irmã e sobrinhos. Se cuidem aí. A pandemia impediu que nos víssemos este ano. Mas estamos por aqui. Saudades de vocês!

Por falar em coronavírus, a pandemia mundial já infectou 25 milhões de pessoas no mundo, sendo 3,8 milhões no Brasil. Já morreram 843.826 pessoas, sendo 120.462 brasileiras e brasileiros. O inumano no poder, seus asseclas e apoiadores nazifascistas afirmam que a Covid-19 é uma "gripezinha". Além disso, o sujeito no poder por fraude e golpe diz que não é coveiro, que todo mundo vai morrer um dia e a posição do governo sobre a situação das mortes pela pandemia é "E daí?". (informações sobre a pandemia: Johns Hopkins University)

Estou às voltas com minhas coisas guardadas, materiais que acumulei para estudar e ter mais conhecimentos em diversas áreas. Nunca pude ler os materiais porque a vida de um proletário se gasta no próprio viver de jornadas de manhãs, tardes e noites na sobrevivência cotidiana. Não tenho coragem de jogar fora, a gente tenta se desfazer e fica com pena de tanta informação e conhecimento nas revistas, nas apostilas, nos livros diversos, nas mídias de cultura. E no fundo, a questão é sobre a utilidade de tudo isso para mim hoje. O que aprendi serviu para o momento que já vivi, para o que eu já fui como ator social. Meu tempo passou para a maioria dos materiais que acumulei, e as coisas são assim mesmo. O que fazer com esse conhecimento à disposição de quem queira conhecimento? Os tempos são de se enaltecer a ignorância, a força bruta, a violência das armas.

Os materiais são fascinantes. Não sei se teria agido melhor como representante de classe se tivesse lido tudo isso, mas a leitura agora tem qual sentido para a minha vida neste mês? Neste ano e nos próximos que eu possa me pegar vivendo? É tudo esquisito.



Li algumas matérias de um jornal de setembro do ano passado - A VERDADE -, que me trouxeram conhecimento novo. Gostei da matéria sobre "Milton Santos, cientista negro, latino-americano". Vi pelo texto que não conhecia absolutamente nada do professor Milton Santos. Eu só sabia que ele era um dos maiores geógrafos do país. Não sabia que ele era natural da Bahia, descendente de escravos emancipados. Formado em Direito e Doutor em Geografia pela Universidade de Estrasburgo, França. Na ditadura civil-militar de 1964, foi demitido da Universidade Federal da Bahia, onde lecionava, foi preso por 60 dias e se exilou por muito anos. O texto me deu muito orgulho de saber quem foi Milton Santos.

Também li uma matéria grande sobre "Ludwig Feuerbach, filósofo da libertação". Gostei muito da matéria. O filósofo foi referência para Marx e Engels; foi aluno de Hegel e depois se tornou um crítico dele. Em sua obra "Reflexões sobre a morte e a imortalidade", de 1830, ele se opõe à crença na imortalidade e rompe com o cristianismo. Sua principal obra "A essência do cristianismo" (1841) afirmou que Deus seria a projeção das principais qualidades humanas. Mas "Ao se projetar em Deus, porém, o homem não se reconhece mais nele. Deus é encarado como um ser externo, independente do homem e com vida própria. Embora Feuerbach não utilize este termo, ele opera aqui com o conceito hegeliano de alienação (Entfremdung), que também seria apropriado por Marx no contexto de sua crítica ao capitalismo...". Vejam quanta coisa interessante se conhece ao ler, ao estudar materiais que temos em casa.

Enfim, enquanto estamos vivos, temos que buscar ser melhores que antes. Melhores para nós mesmos, melhores para os outros, melhores para o entorno social ao qual vivemos.

William


Fonte da citação: A VERDADE, edição de 05 de agosto a 05 de setembro de 2019, nº 219, ano 19.

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