sexta-feira, 14 de agosto de 2020

À la Benjamin Button... (2)




Refeição Cultural

Olhar para trás...

Quando criei meu perfil na rede social que viria a ser uma das maiores do mundo e que passaria a ser uma ferramenta de ódio global e manipulação de centenas de milhões de pessoas, inclusive através de mentiras em escala nunca vista na história da humanidade, eu criei o perfil pensando em me aproximar das pessoas; acredito que boa parte dos usuários de redes sociais pensou de forma semelhante: encontrar pessoas, compartilhar as coisas da vida, passatempo e distração e atividades humanas do tipo.

Hoje não temos ilusão alguma. As poucas redes sociais do mundo e seus poucos donos estão destruindo os seres humanos. Não aproximaram as pessoas, afastaram pessoas, desfizeram famílias e amizades. As sociedades permitiram que poucas pessoas detivessem poder demais num mundo com 7 bilhões de pessoas. Poucas pessoas detêm quase todo o patrimônio humano; poucas pessoas têm poder de vida e morte sobre os próprios humanos, fauna e flora, água, terras, alimento; poucas pessoas estão estragando a vida do planeta Terra, que até o momento a ciência afirma ser o único no universo com vida.

Se o tempo andasse para trás, será que faríamos as coisas diferentes? Se pudéssemos voltar no tempo, será que as coisas teriam sido melhores para a maioria dos humanos? Dificilmente. As coisas são como são, a natureza e as coisas simplesmente são. Se não fosse como são, seriam de outra forma e pode ser que fossem melhores para alguns seres e piores para outros seres. Mas não vou me enveredar por esses senões. Não vem ao caso.

Ao rever o filme O curioso caso de Benjamin Button (2008) fiquei pensando a respeito da estória. Aliás, assisti ao filme novamente porque já estava pensando nele. Acho que o bolsonarismo faz a gente querer voltar no tempo e encontrar uma forma de evitar que essa desgraça aconteça, e olha que o bolsonarismo é anterior à pandemia de Covid-19, então não serve de desculpa dizer que o mundo estragou por causa da pandemia, porque estragaram o meu país, o meu mundo, muito antes da pandemia do novo coronavírus.

Eu não estou sofrendo por mim, juro. Estou sofrendo pelos jovens que tiveram seu presente e futuro estragados por essa desgraça de golpe de Estado que fizeram no Brasil para interromper o processo de avanços para o povo miserável, processo que era tocado através da política e liderado pelo Partido dos Trabalhadores, partido com seus defeitos, mas respeitador do processo democrático. E os avanços para o povo ocorriam sob um regime de paz, temos que destacar isso. Será que eu poderia ter feito algo a mais para evitar essa desgraça em nosso país? Em nosso mundo? Onde errei? Onde erramos? É duro! Estou vivo e por isso me questiono.

Na rede social que usa meus dados para manipular o mundo publiquei postagens em agosto sobre a leitura de Hannah Arendt e sua tese da banalidade do mal, tese desenvolvida ao presenciar o julgamento do nazista Adolf Eichmann no início dos anos sessenta. Publiquei lamentos também, algo muito comum em redes sociais, algo captado pelos algoritmos da rede e utilizados contra nós mesmos e contra nossa gente e nosso lugar de viver. É um dilema o que vivemos hoje, porque a sociedade humana se moldou à tecnologia de comunicação disponível e não basta decidir apertar um botão e dizer "tô fora disso" porque o mundo é isso. Não temos que sair do mundo.

Chega por enquanto. Vamos dormir pois já são duas horas da manhã. A vida segue e a gente insiste em viver e pensar, a gente insiste em não abandonar nosso cérebro e nossa inteligência. A razão existe para ser utilizada. Seguirei pensando sobre tudo isso que estou refletindo e que está incomodando o viver.

William

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