sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Eichmann, o mal no Brasil, e o silêncio dos cínicos
"(...) ele já havia sido informado da ordem do Führer para a Solução Final. Tornar o país judenrein na data que Heydrich prometera em relação à Boêmia e à Morávia só podia significar concentração e deportação para pontos de onde os judeus poderiam ser enviados com facilidade para campos de extermínio." (ARENDT, 2019, p. 97)
Refeição Cultural
Registrar nossas impressões e nossas histórias pessoais é preciso. Os acontecimentos que observamos para além da pauta dominante são fatos da vida do povo nas sociedades. A pauta que hegemoniza é a dos donos dos meios midiáticos que estabelecem o que deve ser visto, ouvido e falado e o que deve ser invisibilizado.
Como se já não fosse difícil para aqueles que combatem a exploração humana e lutam por um mundo mais justo e solidário lidar com as fake news dos meios formais seculares - jornais, revistas, rádios e TVs de barões políticos e bilionários -, agora temos que lidar com as fake news de mídias sociais manipuladas por algoritmos e legiões de robôs (tudo alimentado e mantido com muito dinheiro, que só os capitalistas donos do poder têm).
Por que parte dos seres humanos foram caracterizados como seres subumanos, coisificados, definidos como descartáveis, depois ampliado o conceito de descartáveis para odientos e indesejáveis e, por fim, classificados como algo necessário de extermínio, sendo assassinados em guetos e campos de concentração por fome, doença, tiro, gás e fornos de cremação?
Porque enquanto esse processo ocorria, de forma planejada e racional, as pessoas e as instituições não fizeram nada para impedir que o processo avançasse. Enquanto se planejava e executava o mal, as pessoas viviam o seu cotidiano bom ou ruim "normalmente". Essa banalização do mal ocorreu na Alemanha de Adolf Hitler. Essa banalização do mal está acontecendo no Brasil, que eu não sei nem como nominar. Brasil do bolsonarismo?
De onde vem essa gente bárbara, ignorante, indiferente, cínica e má que sociólogos e demais estudiosos reúne sob a alcunha de "bolsonarista"? Nome emprestado por um sujeito que passou três décadas na política, no baixo clero, e que marcou definitivamente o domínio do mal no país ao enaltecer no plenário do Congresso Nacional o nome do torturador da presidenta do país, que passava por novo processo de tortura (caçada e cassada por um sistema de ódio machista e misógino montado contra ela). O sujeito não saiu preso naquele dia e, dali adiante, todo mal era permitido e incentivado.
Já registrei cinco parágrafos dessa refeição cultural indigesta que a casa grande nos enfiou goela abaixo nos últimos anos. Que saco isso! É impossível não pensar em todas as semelhanças entre o processo de nazificação do povo alemão e o processo de transformação do povo brasileiro nisso que se chama hoje bolsonarismo.
Hannah Arendt e Adolf Eichmann fazem parte da história humana. Se tomo conhecimento dos debates ocorridos no julgamento tardio daquele nazista, nos anos sessenta, acusado de cometer crimes contra a humanidade, é porque a filósofa escreveu, registrou o que viu e ouviu e apresentou seus pontos de vista. Conhecemos o passado através dos registros que chegam até nós. Aliás, será que saberíamos algo do passado se os registros fossem feitos em algum material que não resistisse ao tempo? (exemplo, um link de internet que registra e depois virá "error" por não existir mais)
Disse no primeiro parágrafo sobre a importância em se registrar os fatos, as impressões, a história, nem que seja a história pessoal. Não fosse assim, eu não teria lido os diários da garota judia vítima do nazismo, Anne Frank (ler comentário aqui). Não fosse assim, não teria lido a descrição do desenvolvimento do sistema nazista através da linguagem e da comunicação que o filólogo Klemperer nos legou como lição de história (ler comentários aqui).
A banalidade do mal no Brasil foi um projeto para interromper a melhoria de vida do povo através dos mandatos do Partido dos Trabalhadores
A banalidade do mal foi se instalando no Brasil e nas pessoas como um projeto da casa grande, que percebeu que não ganharia mais eleições presidenciais após derrotas sucessivas para o Partido dos Trabalhadores. O envenenamento das pessoas com ódio e medo, ódio à política e a um segmento da sociedade, foi idealizado pelos meios midiáticos e pelos capitalistas e seus ideólogos ano após ano a partir do advento de governos democráticos de esquerda, que distribuíam um pouco da riqueza do país para os pobres e trabalhadores, em processo de paz. Basta ver a melhora do Índice de Gini entre 2002 e 2013, que avançou de 58,6 para 52,9.
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Importante: a esquerda governou sem autoritarismo, sem perseguir ou tentar eliminar os adversários políticos. Lula e Dilma conviveram democraticamente com todos aqueles que passaram todo o período atacando a eles, denunciando e até inventando mentiras contra eles (fake news). Respeitaram as leis e promoveram avanços na educação, saúde, economia, soberania nacional, direitos sociais, tudo com inclusão das classes populares.
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Ainda sobre a importância em se registrar as coisas em tempos de banalidade do mal, processos de lawfare contra lideranças populares e fake news. Quando fui a bola da vez nesses processos de assassinato de reputações de lideranças, e montaram contra mim um processo duríssimo de assédio moral e tortura psicológica por meses, os registros públicos e transparentes de meu mandato foram importantes para nossa defesa administrativa e jurídica, pois cada mentira contra mim era desfeita nos autos através de registros públicos. Meu blog de prestação de contas aos trabalhadores me salvou do processo de assédio e lawfare.
Chega por hoje. Ao ver o silêncio e a paz dos cemitérios dos meios midiáticos empresariais para a destruição do patrimônio público - Petrobras, BB, Caixa, Correios, Eletrobras etc -, dos direitos sociais do povo brasileiro, silêncio para a normalização da morte dos pobres através da Covid-19, para o extermínio dos povos indígenas, das florestas e biomas brasileiros e toda a tragédia que vivemos, não tem como não lembrar dos cenários que estudamos a respeito da Alemanha de Adolf Hitler, que foi cometendo crimes em 1933, 1934, 1935, 1936... e os cidadãos alemães não faziam nada, nem os líderes e países do mundo.
William
Bibliografia:
ARENDT, Hannah. Eichmann em Jerusalém - Um relato sobre a banalidade do mal. Companhia das Letras, São Paulo, 2019.
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