quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Leitura - Robinson Crusoé (VI) - Daniel Defoe



Refeição Cultural

A leitura do clássico de Daniel Defoe, As aventuras de Robinson Crusoé (1719), tem sido lenta como imaginei. Estou completando um mês do início da leitura e após ler mais quatro capítulos estou chegando perto de 2/5 da obra. Gostaria de terminar a leitura em dezembro, mas não sei se será possível.

A leitura é de fácil andamento, com linguagem prosaica e com a técnica narrativa baseada em um narrador que conta ele mesmo suas aventuras e desventuras na forma de um diário. Até o momento em que estou no romance, o capítulo XIII, Crusoé está na Ilha do Desespero há 24 anos. Ele diz ter chegado à ilha com 36 anos, então estaria com cerca de 60 anos.

"A minha salvação miraculosa na ilha depois do naufrágio foi no dia do aniversário do meu nascimento, 30 de setembro, trinta e seis anos antes..." (p. 136)

Robinson Crusoé passou todo esse período sem uma companhia humana. Sua "família" se resumiu a um cão, um papagaio e gatos. E alguns cabritos amansados. Ele nos disse que o cão morreu de velhice com 16 anos (p. 174).

Às vezes, tenho dúvidas nas contagens de tempo e idade do personagem, mesmo fazendo uma leitura atenta. Calculo que ele está com 60 anos por causa das marcas que vou encontrando no texto. Sei que saiu de casa com 19 anos e daí por diante vou anotando as referências de tempo que ele mesmo nos dá.

"Fui feliz em não tornar a avistá-los até maio do vigésimo quarto ano da minha vida solitária, no qual tive com eles um encontro estupendo que a seu tempo relatarei..." (p. 175)

Terminei a leitura do capítulo XIII com novidades em relação ao cotidiano regular em que ele viveu durante alguns anos na ilha. Um navio naufragou nas costas da ilha, como ocorreu com o dele décadas atrás. Ele visitou os destroços e encontrou mortos. Vivo, só um cachorro.

Crusoé passou os últimos anos com muito medo e precavido porque descobriu que canibais de alguma ilha vizinha aportavam em "sua" ilha para alguns rituais de canibalismo. Há anos ele espera um confronto com os canibais. Após a descoberta da existência deles nunca mais teve paz para fazer sequer os barulhos que fazia como atirar para caçar.

Na edição que estou lendo, há um resumo do capítulo na entrada do texto. Acho isso terrível. Nunca leio. É um spoiler do que o leitor vai ler. O Decamerão, de Giovanni Boccaccio, que li ano passado, também tinha esses spoiler. Eu só leio os resumos após ler o capítulo, para relembrar alguma coisa.

ATENÇÃO - Aqui nas postagens, local onde reflito para mim mesmo sobre o que estou lendo e para leitoras e leitores que acompanham o blog, parto do princípio que se alguém está lendo esta postagem é porque resolveu seguir a sequência dessas postagens sobre a leitura de Robinson Crusoé, categoria ou tag "Daniel Defoe", e já leu as anteriores, que fui fazendo desde o início da leitura do livro. Então, não considero que estou dando spoiler aqui porque conto o que já li em quase 200 páginas do clássico.

Abaixo, vou deixar um exemplo dos cabeçalhos dos capítulos que dizem o que vai ser o destaque naquele texto. Quem não leu a obra e não quer saber antes mais detalhes, pare por aqui.

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CAPÍTULO X

"Ponho com bom êxito a nova canoa a nado. - Parto para uma viagem costeira no sexto ano do meu reinado ou cativeiro. - Contratempos no mar. - Arribo a uma praia depois de grandes dificuldades. - Adormeço e acordo a uma voz chamando pelo meu nome. - Imagino vários planos para apanhar cabras vivas e sou bem-sucedido." (p. 140)

O capítulo tem uma filosofada interessante:

"É assim a natureza humana: só apreciamos o valor das coisas quando as perdemos ou experimentamos os inconvenientes de outras." (p. 142)

Nesse capítulo Crusoé acelera o tempo e vamos de 6 a 11 anos na ilha. Ele já dominou a técnica para fabricar diversos utensílios de seu cotidiano. Após domesticar cabras, o seu cardápio era farto e diversificado. Melhor do que o dos milhões de seres humanos da atualidade, em completa insegurança alimentar em meio a tanta riqueza produzida pelo homem do século XXI.

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CAPÍTULO XI

"Descrição pitoresca da minha figura. - Descrição da minha morada, dos cercados e das tapadas. - Medonho terror e sobressalto de que sou assaltado por distinguir na areia de uma praia pegadas humanas. - Reflexões. - Tomo medidas de precaução contra prováveis invasores." (p. 150)

Nesse capítulo Crusoé descreve de forma até engraçada sua aparência e situação de conforto na ilha. Reforça sua crença religiosa na Providência de Deus.

Após descobrir as pegadas na praia, sua tranquilidade vai por água abaixo. Reflete muito a respeito. Dilemas entre querer e não querer encontrar um humano após todos os anos de solidão.

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RELIGIÃO E FÉ, ABSTRAÇÕES QUE DÃO CONFORMIDADE AOS DILEMAS DA VIDA HUMANA - Eu fui uma pessoa criada na cultura e ambiência das religiões. Criado na cultura católica por meus pais e família, tive contato também com matrizes diversas de crença religiosa como candomblé, espiritismo etc. 

Essa experiência do viver me permite entender um pouco por onde passa toda essa situação em que nos encontramos no Brasil em 2021, momento no qual alguns segmentos religiosos avançam em seus projetos de dominar o país através da política, dominar o Estado nacional. Parte dos neopentecostais apoiadores do bolsonarismo tem um projeto de poder agressivo e totalitário, na minha opinião. 

Enfim, como fui religioso por décadas consigo compreender minimamente o que sente uma pessoa religiosa. É algo muito forte, a pessoa faz qualquer coisa em função daquilo que crê ou que é levada a crer.

Por que fiz esse comentário? Para citar um trecho do diário do personagem Robinson Crusoé que marquei como uma forma de pensamento que tive por quase 30 anos de minha vida.

"Efetivamente, apenas serenaram um pouco tamanhas apreensões, considerei que a minha situação era o efeito de uma Providência, infinitamente boa e sábia; e que sendo eu incapaz de penetrar as suas vistas a meu respeito, era da minha parte gravíssima audácia tentar subtrair-me à soberania do Ente Supremo, que, como meu criador, tem o direito absoluto de dispor da minha sorte, e como juiz, o de punir-me quando assim o entender, pois que se pelos meus pecados atraí a sua indignação, devia também sujeitar-me aos castigos. Pensei que Deus, sendo onipotente e justo, assim como julgou bom afligir-me, assim também podia livrar-me da infelicidade e da desgraça; e que, se em seus altos desígnios resolvesse continuar a tribular-me, só me restava aguardar com perfeita resignação os seus decretos, continuando a confiar n'Ele e a dirigir-lhe as minhas súplicas." (p. 156)

Pois é! Quantos e quantos amigos e amigas tenho que pensam exatamente assim nesse momento do viver... e cabe a nós respeitarmos a opinião de cada uma e cada um deles. Cada ser humano tem a sua vida, a sua crença, o seu tempo, as suas veredas.

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O MEDO NOS TIRA A RAZÃO

"Pensei nessa insânia toda a noite, quando o meu ridículo terror estava no seu auge; o que mostra que o receio do perigo é mil vezes mais insuportável do que ele próprio, e que a imaginação exagerada de um mal longínquo nos inquieta mais do que quando ele se declara francamente." (p. 158)

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CAPÍTULO XII

"Avisto uma embarcação ao longe no mar. - Descubro na praia os restos de um banquete de antropófagos. - Horror a propósito. - Redobro o meu armamento pessoal. - Terrível susto causado por uma cabra. - Dou com uma caverna ou gruta singular, da qual faço celeiro. - Continua o meu receio e medo de que os selvagens venham desembarcar na ilha." (p. 161)

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CAPÍTULO XIII

"A minha situação no 23º ano de residência na ilha. - Avisto selvagens nus na costa onde ficava a minha habitação, em redor de uma fogueira. - Meu horror quando contemplo o espantoso festim, em que se estão banqueteando. - Resolvo-me de novo a exterminar os bandos a todo o transe. - Navio perdido no mar em frente da ilha. - Vou a bordo da embarcação naufragada, que julgo ser espanhola. - Aproveito grande quantidade de objetos." (p. 172)

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É isso! Sigo lendo os clássicos da literatura mundial da maneira que é possível. Estou também escrevendo memórias em relação ao período central de minha vida adulta, o período no qual fui um representante dos trabalhadores da categoria bancária. Isso está dividindo meu tempo com as leituras clássicas e literárias. Mas sinto que preciso fazer isso, apesar de ter uma lista imensa de clássicos na estante para ler enquanto vivo estou.

William


Bibliografia:

DEFOE, Daniel. As aventuras de Robinson Crusoé. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.

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