Refeição Cultural
"A doença não me intimide, que ela não possa
chegar até aquele ponto do homem onde tudo se
[explica.
Uma parte de mim sofre, outra pede amor,
outra viaja, outra discute, uma última trabalha,
sou todas as comunicações, como posso ser triste?" ("Os últimos dias", CDA)
Último dia do ano, último livro do ano (foram 57 obras lidas). Ano passado li A Rosa do Povo, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1945. Que livro! Cinquenta e cinco poemas porradas. Neste mês de dezembro, reli o livro dentro de um projeto de ler toda a poesia de Drummond em ordem cronológica. Com isso, reli os 4 livros que já conhecia e José, de 1942.
Que livro! Perfeito para os tempos que correm. Drummond diz que o livro é um livro que traz características de um tempo, de uma época, tanto do poeta quanto do mundo, que vivia a mortandade da 2ª Guerra Mundial, nazismo, fascismos, Estado Novo de Vargas. Não falo que o livro é perfeito para os tempos que correm!
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"E a matéria se veja acabar: adeus, composição
que um dia se chamou Carlos Drummond de Andrade.
Adeus, minha presença, meu olhar e minhas veias
[grossas,
meus sulcos no travesseiro, minha sombra no muro,
sinal meu no rosto, olhos míopes, objetos de uso
[pessoal, ideia de justiça, revolta e sono, adeus,
vida aos outros legada." ("Os últimos dias", CDA)
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Difícil um poeta no qual meu Eu se veja melhor nos Eu-líricos dos poemas do que Drummond. Difícil alguém que me represente mais do que Drummond e seus personagens.
RETROSPECTIVA DE LEITURAS POÉTICAS
Com a releitura de A Rosa do Povo, encerro um ano de bastante leitura de poemas. Li os 5 livros iniciais de Drummond, são 170 poemas. Agora vou pras novidades, tudo que não conheço dele em 18 livros a ler.
No começo do ano li as poesias de Bertolt Brecht. Li uma coletânea de 260 poemas publicados entre 1913-1956. Que poemas, também! Demais!
No primeiro semestre, li poemas de outros poetas modernistas - Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira. De Mário li Pauliceia Desvairada (1922) e Losango Cáqui (1926). De Oswald li Pau-Brasil (1924). De Manuel Bandeira li Libertinagem (1930). Tudo releituras.
Em agosto li Espumas Flutuantes (1870), de Castro Alves. Reli também Distraídos venceremos (1987), de Paulo Leminski.
Finalmente, li o clássico Odisseia, de Homero, em versos, na tradução do maranhense Odorico Mendes, o patriarca da transcriação.
Por fim, li vários livros de Cecília Meireles, dentro de um projeto de ler as obras poéticas completas da poeta.
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Registro feito. Repito: de tudo que li, ninguém chega perto de Carlos Drummond de Andrade em relação à identificação entre Eu-lírico e Eu mesmo.
É isso.
William
Post Scriptum: fiz uma postagem de retrospectiva cultural do ano de 2021. Foram 57 obras lidas no ano. Para ler a postagem é só clicar aqui.
Bibliografia:
ANDRADE, Carlos Drummond. Nova Reunião: 23 livros de poesia - volume 1. 3ª edição - Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.
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