domingo, 12 de dezembro de 2021

José (1942) - Carlos Drummond de Andrade



Refeição Cultural

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
" ("José", p. 129)


Aproveitei o cansaço que sentia ao acordar neste domingo para ler um pequeno livro de poesias de Carlos Drummond de Andrade: José (1942). São 12 poemas. Mas não são quaisquer 12 poemas... a começar pelo poema "José", que nos deixa sem saber o que responder até hoje!

"você marcha, José!
José, para onde?
" (p. 131)

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O primeiro poema - "A Bruxa" parece ter sido feito pra mim, hoje. Poderia ser o Eu-Lírico.

"A BRUXA

Nesta cidade do Rio, 
de dois milhões de habitantes, 
estou sozinho no quarto 
estou sozinho na América.

(...)

Mas se tento comunicar-me,
o que há é apenas a noite
e uma espantosa solidão.
" (p. 113/14)

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O segundo poema é demais - "O Boi", parece feito pra nós, hoje. Enquanto lia e relia ficava vendo as pessoas em situação de rua, a miséria do povo sem terra e sem teto, sem emprego e sem direitos sociais, as casas vazias de bilionários da especulação imobiliária.

"O BOI

Ó solidão do boi no campo,
ó solidão do homem na rua!
Entre carros, trens, telefones,
entre gritos, o ermo profundo.

Ó solidão do boi no campo,
ó milhões sofrendo sem praga!
Se há noite ou sol, é indiferente,
a escuridão rompe com o dia.

Ó solidão do boi no campo,
homens torcendo-se calados!
A cidade é inexplicável
e as casas não têm sentido algum.

Ó solidão do boi no campo!
O navio-fantasma passa
em silêncio na rua cheia.
Se uma tempestade de amor caísse!
As mãos unidas, a vida salva...
Mas o tempo é firme. O boi é só.
No campo imenso a torre de petróleo.
" (p. 114/15)

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O poema "O Lutador" é maravilhoso! Talvez ainda escreva na vã esperança de lutar com palavras. Nesse momento não tenho acreditado nelas, mas tenho que me esforçar e acreditar nas palavras.

"O LUTADOR

Lutar com palavras
é a luta mais vã.
Entanto lutamos
mal rompe a manhã.

(...)

Lutar com palavras
parece sem fruto.
Não têm carne e sangue...
Entretanto, luto.
" (p. 121/22)

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CONHECENDO DRUMMOND

Passei anos conhecendo poucos poemas de nosso poeta modernista C.D.A., basicamente os poemas dos três primeiros livros dele - Alguma Poesia (1930), Brejo das Almas (1934) e Sentimento do Mundo (1940). Ano passado, nas leituras durante a pandemia mundial de Covid-19, li o livro A Rosa do Povo (1945). E só. É o que conheço até agora. 

Tenho em casa a obra completa de poesia de Drummond. São 23 livros. Resolvi expandir meu conhecimento em relação à produção poética de nosso poeta maior. Com a leitura do livro José (1942), conheço agora 5 livros. São 170 poemas reunidos nesses livros.

É isso. Estou fazendo o mesmo com a obra poética de Cecília Meireles.

William


Bibliografia:

ANDRADE, Carlos Drummond. Nova Reunião: 23 livros de poesia - volume 1. 3ª edição - Rio de Janeiro: BestBolso, 2010.


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