Refeição Cultural
Fico tão triste quando vejo pessoas que amo alcoolizadas! A palavra usada pela sociedade para a condição é "bêbadas". Na verdade, pessoas alcoolizadas estão drogadas, ou seja, com seu estado alterado pela ingestão ou contato com algum componente químico.
Fico triste porque as pessoas estão bebendo muito, as pessoas estão se destruindo no álcool. As pessoas estão se expondo à condição de perda da consciência ou razão durante o tempo em que estão alcoolizadas e ficam vulneráveis num mundo duro, violento, ruim. Isso é muito triste!
As bebidas alcoólicas fazem parte da história das sociedades humanas desde sempre, sociedades antigas ou primitivas, sociedades dos dias atuais. As pessoas bebem pra comemorar, pra esquecer, pra tomarem coragem, pra relaxar, pra se excitar, as pessoas bebem por qualquer motivo.
Quem não perdeu uma ou mais pessoas queridas para as drogas? Para o álcool? Quem? As pessoas queridas que bebem em excesso se vão, morrem em decorrência de algum ato durante a bebedeira - atos impensados, estimulados ou que não ocorreriam sem o efeito do álcool -; morrem em decorrência da falência de alguma parte do corpo por efeito da ingestão do álcool.
As pessoas morrem porque outras pessoas beberam e as mataram.
Eu fui um bêbado durante muitos anos em minha vida. Comecei a tomar bebida alcoólica desde uns doze ou treze anos naquele mundo miserável e violento onde cresci no Bairro Marta Helena, em Uberlândia. Como a maior parte das pessoas, continuei bebendo durante as graduações escolares, quando estava com ódio, triste, feliz, sempre, com ou sem motivo.
Como bêbado, coloquei a minha vida e a dos outros em risco por quase duas décadas. Bebia e dirigia motos, ficava valente e me alterava com os outros, brigava, vivia pensando em morrer de morte morrida, matada ou suicidada. Quantas vezes vomitei de tanto beber!
Em qualquer lugar do mundo, bêbado é tudo a mesma coisa, apesar de cada caso ser único porque as pessoas são únicas e cada consequência é diferente também. Diria que na maior parte das vezes a consequência é nenhuma, e algumas vezes dão merdas irreparáveis.
O álcool arrebenta diversos órgãos e sistemas do corpo humano. Rins, fígado, sistema digestivo, células etc. Essa droga é uma merda! E mesmo assim, bebemos. Uns mais, outros menos ("socialmente"). É o livre-arbítrio. É a "liberdade", aquela que a poeta diz que mesmo sem saber conceituar, todo mundo sabe o que é...
Pelo texto acima, ficou claro que não sou ninguém para falar de alguém a respeito do álcool. Não sou. Cada um, cada um. Cada uma, cada uma... me parece que as mulheres estão bebendo mais que nunca. Liberdade. Livre-arbítrio.
Até essa minha condição de alguém que vivia bebendo em excesso e colocando em risco a minha vida, a dos outros e os sistemas de saúde mudou quando me tornei um dirigente sindical no início dos anos dois mil. (ainda bem que não recaí na bebedeira agora que fui excluído do coletivo político de forma dura, até desleal)
Me perceber na condição de uma pessoa que representava dezenas de milhares de colegas trabalhadores me deu um peso no ombro, um "sentimento do mundo" em minhas mãos como diz o poeta, que decidi que nunca mais beberia até ficar bêbado, até perder a minha consciência, o meu estado de alerta, porque meus inimigos de classe poderiam se aproveitar daquela condição contra mim e meus pares. (como líder e representante não era apenas um, era legião)
Até isso devo à politização que tive e à representação que exerci durante quase duas décadas. Eu bebo com amigos, bebo quando estou triste, alegre, pra relaxar, pra comemorar, pra esquecer um pouco, mas não posso ficar bêbado, não me dou esse direito. O mundo está muito foda! Temos que estar alertas para qualquer merda contra nós, no mínimo para morrer lutando ou se defendendo.
Vou reencontrar amig@s e vou beber um pouco, como quase todo mundo faz, mas as pessoas precisam beber menos, beber sem se destruírem.
Paro por aqui. Termino como comecei. Fico muito triste ao ver as pessoas que amo beberem até perderem o sentido, até ficarem alcoolizadas e vulneráveis e colocarem a saúde em risco.
Como estará meu fígado depois de tudo que fiz a ele? Meus rins? Meu sistema digestivo? Minhas células? Como estarão? Somos hoje o que sobrou de ontem...
A bebida alcoólica é uma droga lícita no país hoje, coisas da política. A maconha não é, coisas da política. Somos livres. Liberdade. Livre-arbítrio. Podemos beber porque somos livres, gozamos de liberdade e temos livre-arbítrio. Então, tomemos nossa cervejinha, nossas doses de cachaça, vinho etc.
Mas repito a mim mesmo: não vou me colocar na condição vulnerável de estar alcoolizado até a perda da consciência, do estado de alerta. Nossos inimigos estão por aí. E o azar também.
William
Nenhum comentário:
Postar um comentário