quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Tempo (IX)



Refeição Cultural

O tempo. As configurações do tempo nas diversas formas de narrativas e poesias. O tempo como tema da última disciplina que faço na graduação em Letras na Universidade de São Paulo. O tempo.

As disciplinas que fiz na faculdade após essa volta para concluir o bacharelado nas duas habilitações que escolhi me fizeram pensar muito mais que antes. Pelo menos é o que me parece. Porém, o tempo decorrido entre o antes e o agora não me facilita a constatação se refleti mais que antes por estar mais velho, mais experiente, ou se as disciplinas e seus conteúdos é que se encaixaram melhor na conjuntura e contexto do momento.

Ao longo do tempo da minha existência exerci diversas ocupações sociais que me fizeram ser o que sou. Quando leio textos que refletem sobre a vida humana, sejam textos ficcionais, sejam textos ensaísticos, críticos e filosóficos, percebo agora que fui o que foi possível ser. Sobre o presente e o amanhã, há uma indefinição natural por causa da incerteza e há também certa falta de objetivos que movem as pessoas que realizam suas jornadas existenciais. Isso está pesando negativamente no meu viver. Mas lido com isso de forma estoica, racional. Busco resolver a questão.

Nossa disciplina de Literatura Comparada II começou o programa refletindo sobre as concepções de tempo na Antiguidade, na Idade Média e nos tempos modernos. Já fiquei pensando muito a respeito dos textos que lemos sobre o passado. A espécie humana inventa deuses e mitos desde muito cedo em sua constituição enquanto animal que pensa. Eu fico impressionado com o fato de continuarem coexistindo as crenças nesses mitos sobrenaturais ao mesmo tempo em que as ciências avançam e demonstram o que somos no mundo natural. 

Os povos primitivos de milhares de anos atrás viam o mundo de uma forma encantada e sobrenatural da mesma forma que os seres humanos veem hoje, dia 11 de outubro de 2020 no século XXI. Raios e trovões desesperavam os povos primitivos que viam deuses em fúria assim como hoje os mesmos raios e trovões fazem milhões de pessoas verem deuses em fúria. Nossa... difícil isso! É pior agora, porque salafrários manipuladores têm muito mais técnicas e ferramentas para idiotizar milhões de pessoas e ainda arrancarem delas os parcos recursos que têm e direcionarem elas para fazerem coisas estúpidas em nome de deuses e seres sobrenaturais.

O passado, o presente e o futuro. O tempo que avança ininterruptamente para mim, para todos, para tudo. Transformações, tudo muda o tempo todo. Dentro de mim, o tempo avança e meu corpo muda. Estou vivo e estou morrendo porque sou um animal, sou natureza. Vou durar mais um segundo ou mais trinta anos. Neste momento em que escrevo, mais células morrem que nascem em mim. É o ciclo natural da existência animal. Não tem nada sobrenatural nisso. O que sou? Meu cérebro, meu corpo, e por ser um animal racional e viver no mundo em sociedade, sou o que já fiz, sou o que posso fazer. Vivo, existo independente de ser reconhecido por algo ou alguém. Morto, só existirei enquanto for lembrado por algo ou alguém. Isso em termos relativos: morto não existo, não sou nada; mas alguns humanos ainda "existem" porque são lembrados.

William


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