segunda-feira, 16 de novembro de 2020

Tempo (XII)



Refeição Cultural

O tempo. A passagem do tempo. As diversas formas de sentir a passagem do tempo. É possível voltar no tempo? Os sentidos do tempo: ele é linear e avança ou não? Podemos usar melhor o tempo, que passa inexoravelmente para todos? O tempo.

Cansaço. É possível não se cansar à medida que o tempo avança e com ele avançamos, ou seja, envelhecemos? Há diversos tipos de cansaço, o cansaço mental, o cansaço físico passível de solução com o descanso, o desgaste do tempo e seus efeitos nas células e estruturas do corpo. O cansaço.

Manhã de segunda-feira, dia 16 de novembro do ano do aparecimento da pandemia de Covid-19. O tempo avança no calendário arbitrário que seguimos aqui onde vivo. Psicologicamente, somos culturalmente treinados para aguentar só mais um pouco porque o ano de 2020 estaria acabando e com a "passagem" do ano e um novo ano, tudo se renovaria... organizamos a vida social com calendários e datas que facilitam essas construções mentais de fim e recomeço. Sem elas talvez não aguentássemos o cansaço...

O fato é que o tempo em si está passando do mesmo jeito, a cada segundo, a cada instante, em todos os lugares do universo. Meu coração segue batendo e se desgastando. Meu sangue segue circulando impulsionado pelo coração que bate. Meu sangue pode conter mais ou menos elementos favoráveis ou desfavoráveis ao funcionamento de todos os sistemas que dependem dele em meu organismo. Colesterol, glicose, minerais essenciais, oxigênio. Artérias e veias podem estar livres ou entupidas. O tempo passa a cada segundo.

Vamos retomar a leitura dos textos que tenho que estudar no contexto da disciplina que estou fazendo na faculdade de Letras. São os últimos textos, da última matéria, do último semestre de estudos na USP. Acho que meu cérebro cansou dessa longa convivência com meu curso nunca acabado de Letras. Como a vida é uma jornada e não um destino, posso afirmar a mim mesmo que o resultado desse esforço que fiz ao fazer graduação em Letras foi o que tinha que ser. Eu não poderia ter deixado de ser dirigente sindical enquanto fazia o curso na década passada. Ser professor naquela condição era mais inviável ainda. Ser professor agora não rola mais. Estou terminando o curso por birra, por orgulho, por vaidade. Não acho certo deixar de completar os créditos e disciplinas exigidos pela faculdade para colar grau nas duas habilitações que fiz. O tempo segue avançando para o fim, para o meu fim, que pode ser no instante seguinte como pode demorar uns 30 anos. Cansaço.

Vou ler os textos de Borges, mas acho que não me identifico com ele. Gosto mais dos outros que lemos, o Kafka, o Tchekhov, Mann. Acho que Borges não desce por ele ser de um espectro político oposto ao meu. Estou tão enojado com o avanço da direita no mundo, no meu mundo, ao ver os desgraçados que deram o golpe e destruíram o nosso país e nossos direitos estarem por aí na boa, que estou contaminado para qualquer coisa, para falar com gente de direita, andar no mesmo elevador, ler e ouvir coisas de gente de direita. Essa merda toda.

Vamos ler. Faltam poucas semanas para acabar um tempo de minha vida, um tempo que poderia ter sido tão bem aproveitado e não foi. Foi do jeito que foi e do jeito que poderia ter sido.

William


2 comentários:

Unknown disse...

Adorei seu texto william ! Avida tem muitas dificuldades , mas com luta e persistência,venceremos .Parabéns pelo texto .

William Mendes disse...

Olá, caro(a) leitor(a)!

Obrigado pelo comentário e pelo elogio. Procuro ser sincero neste espaço de escrita e reflexões.

Fraterno abraço e tudo de bom pra ti.

William