sexta-feira, 13 de novembro de 2020

131120 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Sexta-feira 13. Milhares de anos de predomínio no planeta Terra dos homo sapiens sapiens ("os que sabem que sabem". Será?). Tempos de pandemia mundial de um vírus, o Covid-19. Tempos de ódio, de fanatismo religioso; tempos de muita ignorância, apesar da ciência e do conhecimento disponíveis. Tempo de poucos humanos que detêm tudo e bilhões de miseráveis sem nada, que lutam pela existência diária vendendo seus corpos e suas almas. Dizem que as sociedades humanas sempre foram injustas (mas há controvérsias). Sexta-feira 13.

Tempos de exceção, de estado de exceção desde o fim da democracia precária que havia no Brasil até 2016. Tempos de faz de conta e pós-verdade como nunca antes nos cinco séculos nos quais esta terra é explorada por grupos de invasores estrangeiros. No faz de conta em que vivemos, no mundo paralelo em que todos fazem de conta, teremos "eleições" no domingo 15. Vários candidatos do campo popular ou não podem ser votados porque são "ficha suja" (No Rio de Janeiro, Lindbergh do PT é ficha suja e Crivella do Republicanos não é...) ou tiveram impugnações porque a casa grande não quer eles na política. Se alguns forem eleitos é só cassar o mandato deles com alguma ferramenta de lawfare, prendê-los etc.

Este momento de escrita não é pra discorrer sobre essas merdas que falei no início; é que no fundo eu não dou conta de ficar sem falar da situação do mundo assim que começo a escrever. Que saco! Quero falar de corrida, de saúde, de luta pela sobrevivência física e mental em tempos tão adversos como este em que nos metemos. 

Enfim, antes de refletir sobre corridas, é bom registrar que a pandemia voltou a crescer no mundo, dizem que é uma segunda onda. Alguns países estão vendo a contaminação e mortes crescerem exponencialmente nas últimas semanas. Governos tomam medidas severas para conter o avanço do novo coronavírus. Já aqui na terra da jabuticaba, os governos fascistas e de ultradireita sumiram com os dados da pandemia faz uns dez dias, talvez por causa das "eleições" e pelo fato de a questão de saúde ter virado caso de política e polícia. Estamos por nossa própria conta para sobreviver à Covid-19, estamos sós.

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O SONHO DE CORRER UMA MARATONA

Faz muito tempo que sonho em correr e completar uma maratona. A vida de trabalhador e estudante nunca me permitiu conciliar o tempo necessário para adaptar o corpo para correr por horas seguidas, coisa de 4 a 5 horas para percorrer os 42 Km de uma maratona. Estou falando de corredores amadores e normais e não de profissionais, que fazem o percurso em pouco mais de 2 horas, quase super-homens e supermulheres.

Na vida, tive a felicidade de correr 10 edições da São Silvestre (15 Km), a corrida mais charmosa do calendário brasileiro de corridas. E vivi a experiência de correr uma única vez uma meia maratona, em Florianópolis, em 2015. Foi uma sensação incrível completá-la. Também corri uma 10K na areia, que exige bastante do corpo.

Tudo se tornou mais difícil na atualidade. Não é porque fiquei mais velho. É porque a condição em que estou mais velho não é satisfatória. O corpo sentiu o acúmulo de ódio e tristeza que a jornada da vida me proporcionou. E tenho que superar isso, se for possível, para conseguir lidar com as sequelas no corpo oriundas dessa trajetória desgastante dos órgãos internos do organismo vivo que somos.

Além da perda de massa muscular nas estruturas essenciais da atividade de corrida, sofri desgastes na estrutura do quadril, informações que obtive após exames em 2019. Não tem remendo na coisa, tenho que lidar com ela. Outras questões de saúde preocupam, pois meus níveis de colesterol e triglicerídeos pioraram nos últimos dois anos. Estou com barro na vesícula, barro que antecede cálculos. Isso pode ser consequência do colesterol alto, genética e alimentação. Meu sistema digestório não é mais eficaz como antes. Minha pressão arterial voltou a subir neste ano desgraçado de pandemia e destruição do país.

Por causa da pressão arterial, voltei a correr de forma persistente faz alguns meses para tentar sobreviver à tristeza pandêmica, que deve ser um dos motivos da alteração da pressão. Estava correndo percursos pequenos, entre 3 e 6 Km. Em julho corri 6 vezes (29 Km), em agosto 7 vezes (27,5 Km), em setembro 9 vezes (36,5 Km). 

Em outubro, decidi começar a correr mais olhando o tempo de duração do trote do que a distância percorrida. Aos poucos, me veio a ideia de tentar aumentar a resistência do corpo para correr por bastante tempo. Há anos meu trote varia entre 6 e 7 minutos o Km. Ou seja, quando corro uns 40', corri uns 6,5 Km. E assim, corri poucas vezes no mês, mas fiz uma corrida de 51' e outra de 71'. Fiquei feliz porque meu corpo aguentou.

Neste mês de novembro, decidi que pretendo treinar para ver se meu corpo aguenta correr daqui a um tempo, um ano mais ou menos, uma maratona. Não será nada fácil. Estamos em pandemia, e vem aí uma segunda onda. É uma deprê danada essa coisa. Nem perspectiva de vacina temos por causa do verme no poder central do país. Enfim... a vida segue enquanto a gente não morre de morte morrida ou matada.

Na primeira corrida, fiz um trote de 75' (dia 4). Fiquei bem contente de aguentar. Estou correndo alternando planos, subidas e descidas. Depois corri mais 55' e me concentrei muito no corpo para pisar leve e tentar não forçar tendões e quadril (dia 7). No dia seguinte, pedalei 60' (não pedalava há anos). Ontem, corri 75' e estou com o quadril dolorido. Entretanto, estou satisfeito por me superar a cada corrida. Fico atento a mim mesmo, concentração total, dizendo a mim para pisar leve e ser como uma pluma, protegendo minha estrutura de corrida.

Cada dia é mais um dia na luta para superar a pandemia mundial, a destruição do nosso mundo, e para fazer a vida ter algum sentido. A vida é um instante, é incerta e imprevisível. "Life's a journey, not a destination/And I just can't tell just what tomorrow brings..." (já cantava a banda Aerosmith). 

O tempo físico avança a cada segundo. O tempo histórico também. Tudo muda o tempo todo, a certeza é a transformação das coisas. Que meu corpo mude, então, com minhas atitudes e seja mais resistente a tudo, às corridas e às raivas e tristezas.

William


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