sexta-feira, 29 de outubro de 2021

291021 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

Osasco, 29 de outubro de 2021.


Ao caminhar por Osasco por 75' nesta sexta-feira dei sequência a minhas reflexões sobre a busca de sentidos e formas de significar a minha existência neste momento e num eventual futuro. Essas reflexões partem de algumas questões que me colocam a pensar sobre a vida e sobre o viver.

Já estava pensando sobre a vida e o viver quando li algumas páginas do livro de Hélio de Seixas Guimarães sobre Os leitores de Machado de Assis (2004), e no meu caso, inevitavelmente, sou pautado por meus escritos e a releitura deles nos blogs que mantenho há 15 anos. Uma das coisas que fiz durante minha vida pública foi escrever e isso teve sentido.

"Antonio Candido assinala na Formação da Literatura Brasileira que um dos possíveis critérios para diferenciar períodos e escolas seria 'a destinação pública da literatura', observando que 'o escritor, quando escreve, prefigura, conscientemente ou não, o seu público, a ele se conformando'. (GUIMARÃES, 2004, p. 40)

Quando releio postagens de meus blogs - o de cultura e o sobre a categoria bancária - tenho uma noção clara a respeito do escritor ou feitor dos textos naquela época em que era estudante de Letras e dirigente sindical. Meu lugar de fala dava sentido ao desejo de comunicação com determinado público leitor. Queria compartilhar conhecimento e queria influenciar e politizar trabalhadores. Hoje, os contextos são outros e estou perdido ao seguir escrevendo.

Na margem de página da citação acima escrevi que "foi assim com o blog na época da Cassi". Eu sabia exatamente o que estava fazendo e qual era o objetivo das postagens sobre o mandato e sobre a autogestão em saúde na qual era diretor eleito. E criei um público leitor do blog. Para aquele momento, meus textos tiveram sentido e meio milhão de visualizações confirmaram que aquilo foi importante. Hoje, nem os materiais que guardei da época têm mais sentido - livros, revistas, quilos de textos políticos e históricos.

Nas caminhadas desses dias, voltei a pensar numa lista de desejos e objetivos para me guiar por esses caminhos tão difíceis que compõem a jornada da vida. Num dos piores momentos de minha existência fiz isso e aquelas metas foram muletas para seguir caminhando mesmo quando queria interromper a jornada.

Ao olhar aqueles objetivos naquela velha folha de papel vejo que ter elencado aquelas coisas teve algum sentido, pois no final das contas estou aqui até hoje, décadas depois.

Realizei alguns daqueles desejos, eles fizeram parte da jornada de meu viver nesse meio século. Alguns objetivos realizados ou não perderam completamente o sentido de acordo com quem sou hoje. As veredas da vida, aliás, mudaram a maior parte das metas traçadas. Impressionante isso! Em boa parte da jornada não fui condutor de nada, fui conduzido... E isso não foi ruim! Fica muito claro que a jornada é muito muito mais importante que a chegada a algum lugar.

Nem vontade de escrever tenho tido mais. Não vejo sentido nisso. Por outro lado, parece a morte não escrever, não registrar as coisas. Esquisito isso! Mas tenho que encontrar sentidos e significar o viver, mesmo nas condições atuais do meio onde vivemos. O cenário onde exercemos nossa jornada da vida é bem desafiador: o caos e a destruição de nosso país, da vida das pessoas da classe trabalhadora e a destruição acelerada da vida no planeta Terra.

Para fazer uma lista de desejos ou de objetivos a dar rumo na jornada da vida - utopias - é preciso estar vivo e vivo com autonomia, com relativa saúde. Como as limitações físicas começam a me impedir de realizar algumas atividades físicas - creio que não irei correr uma maratona -, devo inventar algumas que me mantenham vivo, com o sangue fino, pressão e colesterol razoáveis, órgãos vitais funcionando.

Caminhar muito pode ser uma alternativa. E na caminhada, me desconectar de toda essa merda que virou o mundo virtual, o mundo paralelo que muda a realidade material. Isso se a pessoa caminhar sem aparelhos eletrônicos, sem ser um boi com cara no cocho.

Sei lá. Caminhar e pensar, ver se encontro alguns sentidos e rumos a seguir.

William


Bibliografia:

GUIMARÃES, Hélio de Seixas. Os leitores de Machado de Assis: o romance machadiano e o público de literatura no século 19. São Paulo: Nankin Editorial: Editora da Universidade de São Paulo, 2004.


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