terça-feira, 5 de outubro de 2021

Alice (e nós) no tabuleiro (do mundo)



Refeição Cultural

" 'Veja só! Está demarcado exatamente como um grande tabuleiro de xadrez!' Alice disse por fim. 'Deve haver algumas peças se mexendo em algum lugar... ah, lá estão!' acrescentou encantada, e seu coração começou a disparar de entusiasmo enquanto continuava. 'É uma partida de xadrez fabulosa que está sendo jogada... no mundo todo... se é que isso é o mundo. Oh, como é divertido! Como eu gostaria de ser um deles. Não me importaria de ser um Peão, contanto que pudesse participar... se bem que, é claro, preferiria ser uma Rainha.'

Ao dizer isso, olhou de rabo de olho, um tanto acanhada, para a verdadeira Rainha, mas sua companheira apenas sorria amavelmente e observou: 'É fácil arranjar isso. Você pode ser o Peão da Rainha Branca, se quiser, pois Lily é muito novinha para jogar; você está na Segunda Casa; quando chegar à Oitava Casa, será uma Rainha...' Exatamente nesse instante, sabe-se lá por quê, as duas começaram a correr." (p. 35/38)


Certa vez, muito tempo atrás, peguei emprestado de meu primo Jorge Luiz um livro de xadrez para aprender no mínimo o nome das peças, as regras do jogo, como as peças se movem etc. Eu ficava inconformado por não saber jogar xadrez por causa do filme de Ingmar Bergman O Sétimo Selo (1956). Nunca prestei pra jogar, mas aprendi o que precisava para ver e ouvir jogadores falando a respeito dos movimentos das peças no tabuleiro. 

Após ler o clássico As aventuras de Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, decidi iniciar a leitura de Através do espelho e o que Alice encontrou por lá (1871), publicado por Carroll seis anos após o sucesso de Alice. Minha nossa! A lógica do livro é bem diferente! Enquanto no enredo a personagem infantil tem alguns meses de diferença entre a 1ª e a 2ª aventura (entre 7 e 8 anos), a exigência em relação ao leitor aumenta significativamente. Pelo menos essa é a minha impressão inicial. A começar pela relação entre a estória e o jogo de xadrez.

Li os dois primeiros capítulos (para tudo... a compreensão está ruim!). Vi uma crítica a respeito do livro na internet. Reli os dois capítulos (mas e a relação com o xadrez?). Fui reler as regras do jogo de xadrez, pois havia esquecido quase tudo. Reli parte do segundo capítulo para compreender melhor o que estava lendo. Ufa! Após esse percurso inicial é que posso dizer que Alice entrou no jogo como um Peão Branco e na 2ª casa da Rainha Branca. Dá pra ver Alice ali na foto do tabuleiro rsrs.

Enfim... que interessantes reflexões podemos tirar só desse começo de aventura. Eu, por exemplo, relembrei claramente o quanto é importante ter noções das coisas, noções! Se as pessoas tivessem ao menos noções das coisas, a vida em sociedade poderia ser bem melhor.

Mas vivemos num mundo sem noção! As pessoas não têm sequer noções básicas sobre as coisas do mundo e da vida! Que foda isso!

E, sem noções, as pessoas vão criando e espalhando mentiras, ódios, maledicências, vão sendo manipuladas por alguns reis e rainhas neste tabuleiro mundo que está se acabando, ou melhor, sendo acabado por alguns desgraçados em posições de reis e rainhas. Estamos no tabuleiro, mas teríamos que jogar. Aff!

William


Bibliografia:

CARROL, Lewis. Aventuras de Alice no País das Maravilhas & Através do espelho e o que Alice encontrou por lá. Edição comemorativa - 150 anos. Zahar, Rio de Janeiro, 2015


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