sexta-feira, 8 de outubro de 2021

36. Através do espelho e o que Alice encontrou por lá - Lewis Carroll



Refeição Cultural - Cem clássicos

"Nesse momento a Rainha Vermelha recomeçou. 'Sabe responder a perguntas úteis?' disse. 'De que é feito o pão?'

'Isso eu sei!' Alice exclamou, animada. 'Pega-se um pouco de farinha...'

'Onde se colhe a farinha?' perguntou a Rainha Branca. 'Num jardim, ou nas cercas vivas?'

'Bem, ela não é colhida', Alice explicou; 'é moída...'

'De pancada?' disse a Rainha Branca. 'Não devia omitir tantas coisas.' " (p. 134)


Amigas e amigos leitores, esse diálogo maluco acima não é um trecho daquele programa absurdo de "debates" do canal de notícias bolsonarista. 

O excerto acima é ficção de verdade, é um trecho de um romance inglês. Quem diria que diálogos ficcionais como esse se tornariam realidade num país sul-americano no século XXI... 

(todos os absurdos imagináveis e inimagináveis viriam a acontecer no Brasil governado por genocidas, corruptos e dementes em 2021)


CONHECENDO ALICE AOS 50 ANOS

A obra que acabei de ler completou neste ano 150 anos. Através do espelho é o segundo livro com aventuras da garotinha Alice, personagem com 7 anos e meio de idade nesta estória - ela tinha 7 anos quando entrou na toca do coelho. Agora ela atravessou o espelho de sua sala e viveu novas aventuras.

Em Aventuras de Alice no País das Maravilhas (1865), a jovem Alice vê um coelho apressado passar por ela, com um relógio em mãos se dizendo atrasado e, por curiosidade, sai atrás do coelho. Entra na toca com ele, cai no mundo subterrâneo (depois chamado de "Wonderland") e lá no fundo da toca vai viver diversas aventuras. 

Alice, uma garota da Inglaterra vitoriana, o império do mundo naquela época, tenta lidar com aquele mundo subterrâneo ou "das maravilhas", seus personagens e suas regras com uma lógica racional de seu mundo real. E isso não funciona lá. 

Em Através do espelho e o que Alice encontrou por lá (1871), a jovem Alice está sozinha em casa, desta vez não é verão, é inverno. Está só, mas está com suas gatinhas. A gata Dinah teve filhotes: uma gatinha branca e uma gatinha preta, Kitty, a responsável por tudo, segundo Alice. É nesse contexto que Alice atravessa o espelho e vive novas aventuras.

Novamente, as regras do mundo de Alice não funcionam naquele ambiente, tudo é invertido, diferente. Para ficar mais interessante a estória, as aventuras da jovem se dão num tabuleiro de xadrez. É muito legal a forma como Carroll desenvolveu esse segundo livro. Nas duas aventuras, Alice lida com súditos e rainhas amalucados.

Finalmente conheci os clássicos de Alice, do reverendo Charles Lutwidge Dodgson, escritor e professor em Christ Church, universidade onde ensinou a vida toda. Dodgson nasceu em Cheshire (como o gato de Cheshire na 1ª estória). O autor assinou os romances com o pseudônimo de Lewis Carroll.

Eu tenho 3 edições diferentes desses clássicos. Uma em inglês e duas em português. As ilustrações originais de John Tenniel são incríveis! São indissociáveis da obra de Carroll. Esta edição que li da Zahar, com ilustrações-colagens de Adriana Peliano está maravilhosa, a proposta da artista é muito agradável para os leitores. 

Um século e meio depois de publicados, os romances com as aventuras de Alice se tornaram muito maiores que seu autor, que até hoje desperta polêmicas por causa de suas relações com crianças, meninas especificamente. São décadas de debates e questionamentos que avaliam se houve ou não pedofilia na relação do autor com crianças. Nunca houve acusações formais, sequer por parte das crianças envolvidas. Basta lembrar que Alice Liddell faleceu bem idosa e nunca se pronunciou sobre a questão.

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ALICE E DEMAIS FÁBULAS NÃO FIZERAM PARTE DE MINHA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Cada vez que conheço um novo clássico da literatura mundial, preencho uma espécie de lacuna cultural. 

Às vezes, minha esposa fica impressionada ao me ouvir dizer que não conheço Alice, que não conheço o Mágico de Oz, ou o personagem Peter Pan etc. Talvez a explicação seja a minha infância e adolescência após os 10 anos de idade no Brasil dos anos oitenta e noventa.

Tento lidar com essa "culpa" da forma que dá. Só fui conhecer Moby Dick este ano. Ainda vou ler e conhecer Gulliver e Robinson Crusoé, os livros estão na fila de leitura, junto com o personagem capitão Nemo, de Júlio Verne. Esses personagens famosos estão juntos com um monte de clássicos que não li ainda. Espero ter tempo de ler dezenas de obras literárias, caso siga vivo nos próximos anos.

Acho que dei sorte na vida. Sobrevivi à adolescência (um momento de explosão vulcânica no planeta humano). Sobrevivi às mortes severinas do Brasil da casa-grande e das senzalas. Não li um monte de clássicos, mas li um monte de best sellers dos anos setenta e oitenta. Estudei e completei o ensino fundamental e completei dois cursos universitários. Não posso reclamar de nada.

As leituras das aventuras da personagem Alice não foram fáceis para mim. Li 3 vezes o primeiro livro e agora li o segundo. Vi vários vídeos de resenha, comentários de professores e críticos e as informações me ajudaram bastante na compreensão que adultos podem captar da leitura dos dois livros.

É provável que ainda vá ler de novo os livros de Alice, talvez leia a edição em inglês. As possibilidades de leitura são impressionantes.

É isso! Mais um clássico lido. É melhor ler que não ler um clássico. Acho até que vou pegar o Mágico de Oz agora...

William


Bibliografia:

CARROL, Lewis. Alice: edição comemorativa - 150 anos. Colagens Adriana Peliano; tradução Maria Luiza X. de A. Borges. 1ª edição. Rio de Janeiro: Zahar, 2015.


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