segunda-feira, 25 de outubro de 2021

37. Pedro Páramo - Juan Rulfo




Refeição Cultural - Cem clássicos

“... Hacía tantos años que no alzaba la cara, que me olvidé del cielo. Y aunque lo hubiera hecho, ¿qué habría ganado? El cielo está tan alto, y mis ojos tan sin mirada, que vivía contenta con saber donde quedaba la tierra. Además, le perdí todo mi interés desde que el padre Rentería me aseguró que jamás conocería la gloria. Que ni siquiera de lejos la vería... Fue cosa de mis pecados; pero él no debía habérmelo dicho. Ya de por sí la vida se lleva con trabajos. Lo único que la hace a una mover los pies es la esperanza de que al morir la lleven a una de un lugar a otro; pero cuando a una le cierran una puerta y la que queda abierta es nomás la del infierno, más vale no haber nacido... El cielo para mí, Juan Preciado, está aquí donde estoy ahora.”


Conheci as histórias de Pedro Páramo, Susana San Juan, Dolores Preciado, Juan Preciado e outros personagens intrigantes de Comala logo que entrei na Faculdade de Letras da Universidade de São Paulo. 

Me inscrevi numa disciplina optativa cuja temática era a morte e como os autores hispano-americanos lidavam com o tema em suas diversas formas narrativas no século vinte. Foi um dos livros mais impactantes que já li.

A disciplina era ministrada pelo professor Marcos Piason Natali e lemos diversos contos de autores diferentes e este romance do escritor mexicano Juan Rulfo. Entre os hispano-americanos constava um brasileiro, nosso Guimarães Rosa com o conto "Páramo". A matéria foi incrível! Lemos textos de Sigmund Freud e Karl Marx. Demais! A disciplina coroou minha entrada na Letras, após decidir ser aluno da USP após os trinta anos de idade.

Fiz um trabalho para a disciplina do professor Marcos P. Natali a respeito do romance de Juan Rulfo. O que me chamou muita atenção foram os diálogos entre os mortos ao longo do romance, que inova em outras técnicas também. Meu texto elenca um conjunto de recortes dos diálogos dos personagens que nos fazem refletir muito sobre a situação dos povos oprimidos e explorados. 

O texto se chama "Pedro Páramo - Narrativas da vida e da morte" e está disponível aqui no blog (clique aqui para ler). O lançamento da obra de Rulfo se deu em 1955 e o romance hispano-americano vivia o seu Boom.

É um tremendo clássico da literatura das américas! Ao reler o texto que fiz, vi o quanto o cenário e os personagens retratam toda uma história de misérias e explorações de nossos povos sul-americanos, exatamente como estamos vivendo neste momento no Brasil golpeado e destruído após 2016. Abaixo um excerto do trabalho que fiz:

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Pedro Páramo inova, porém, ao deixar que os mortos falem por si mesmos. Mais que isso: deixa-nos ouvir os murmúrios dolorosos de vidas mal-vividas e de mortes “mal-vividas” pois, agora no reino dos mortos, descobrimos que as almas penam por aí e que não há sequer a salvação esperada, e os sofrimentos seguem até nos corpos, inclusive, com as águas das chuvas:

“...Lo que pasa con estos muertos viejos es que en cuanto les llega la humedad comienzan a removerse. Y despiertan.”
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Enfim, é uma obra para reler sempre! Um clássico que nos põe a pensar sobre a condição humana.

William


Bibliografia:

RULFO, Juan. Pedro Páramo. Edición de José Carlos González Boixo. Catedra Letras Hispánicas. Madrid, 1998.

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