Refeição Cultural - Cem clássicos
Aos poucos vou contabilizando minhas leituras de obras clássicas. Após muita leitura de livros no ano passado, neste ano eu sabia que não iria ler tanto por outras prioridades que teria na vida pessoal. Mas finalmente conheci o famoso romance do escritor irlandês Oscar Wilde.
O contexto da leitura: como não estabeleci a rotina de ler todas as manhãs neste ano, aproveitei que iria viajar por muitas horas de ônibus em uma visita à casa de meus pais e peguei o romance de Wilde. Detalhe: isso foi no dia 5 de maio...
Li quase 2/3 do livro na viagem, leitura interessante e fluida. Eu nunca tinha lido resenha alguma e não sabia do que se tratava a estória. Porém, voltando da viagem guardei o livro na estante e não peguei mais. Anteontem, acabei decidindo que era a hora de terminar a leitura do romance.
É um bom romance de ficção. A estória tem referência com dois mitos clássicos: a questão da beleza de Narciso e a questão de vender a alma por juventude e beleza.
A ESTÓRIA
"Não. Seria impossível. A cada hora, a cada semana, a imagem reproduzida sobre a tela envelheceria. Poderia escapar à feiura do pecado, mas a feiura da idade estava à espreita. As faces se encovariam e se enrugariam. Vincos amarelecidos cercariam os olhos murchos e os tornariam horríveis. Os cabelos perderiam o brilho, a boca encovada e descaída tomaria essa expressão grosseira ou estúpida que tem a boca dos velhos. Mostraria o pescoço repleto de rugas, as mãos frias com veias azuladas e o corpo encurvado daquele avô de quem se lembrava havia pouco, que fora tão duro com ele em sua infância. O retrato devia permanecer escondido. Outra coisa não seria possível." (p. 144)
Três personagens na trama: Dorian Gray, Basílio e Henry. Dorian é um jovem belíssimo e bom rapaz, até conhecer Henry por intermédio de seu amigo e pintor Basílio. Henry o seduz para um estilo de vida bem diferente do que ele levava antes.
Uma das questões centrais da trama é o retrato que Basílio pinta e dá de presente ao amigo Dorian. A beleza do rapaz e da pintura são tão grandes que o jovem gostaria de ficar para sempre como a imagem imortalizada no quadro.
De alguma forma, o desejo de Dorian passa a se realizar, como se o quadro fosse o retrato de sua alma e dali adiante a imagem passa a sofrer a ação do tempo e o jovem não. Mais que isso, à medida que o comportamento do rapaz muda e ele prática más ações, todas elas refletem no retrato.
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ROMANCE POLÊMICO À ÉPOCA E CENSURA
Pelo que pude pesquisar, minha edição é baseada na edição que o próprio autor fez com cortes por causa das censuras que sofreu à época do lançamento, em 1891. A edição censurada tem 20 capítulos como essa da editora Nova Cultural e Círculo do Livro, na tradução de Enrico Covisieri.
O pior é que na edição que tenho não tem o famoso prefácio do autor, onde ele se posiciona sobre o romance e sobre sua poética. Wilde era adepto de movimentos de época que valorizavam a arte pela arte, e era contra a relação entre literatura e moralidade ou ensinamentos edificantes através de obras de arte.
Enfim, conheci mais um clássico da literatura mundial. Como diz Italo Calvino, é melhor ler do que não ler os clássicos.
William
Bibliografia:
WILDE, Oscar. O retrato de Dorian Gray. Imortais da Literatura Universal. Editora Nova Cultural, 1996.
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