Quarta Parte
Economia de transição para o trabalho assalariado (século XIX)
XXIX. A descentralização republicana e a formação de novos grupos de pressão
Como vimos no capítulo anterior, a depreciação do câmbio para beneficiar os exportadores brasileiros era um procedimento que só beneficiava os caras da casa-grande. O governo se ferrava na arrecadação e a população se ferrava para adquirir as coisas essenciais do viver: roupa, comida, utensílios.
Além do que já citamos no capítulo anterior (ver aqui), ainda tem os empréstimos externos para manter esse sistema de concentração de riqueza na casa-grande e a inflação para piorar a vida do povão...
"A forma de operar do sistema fiscal merece particular atenção, pois, se por um lado contribuía para reduzir o impacto das flutuações externas, por outro agravava o processo de transferência regressiva da renda nas etapas de depressão. O fato de que se reduzisse a carga fiscal ao depreciar-se a moeda - isto é, nas etapas em que os preços dos produtos exportados baixavam no mercado internacional - operava evidentemente como um fator compensatório da pressão deflacionária externa. Sem embargo, a redução da carga fiscal se fazia principalmente em benefício dos grupos sociais de rendas elevadas. Por outro lado, a cobertura dos déficits com emissões de papel-moeda criava uma pressão inflacionária, cujos efeitos imediatos se sentiam mais fortemente nas zonas urbanas. Dessa forma, a depressão externa (redução dos preços das exportações) transformava-se internamente em um processo inflacionário." (p. 174)
Furtado nos explica os conflitos de interesses que começam a ficar evidentes nos dois últimos decênios do século 19, o último imperial e o decênio que começa com a república.
O último parágrafo do capítulo resume o que viria a ocorrer nos próximos decênios com as divisões políticas estabelecidas com o novo regime republicano.
"Se a descentralização republicana deu maior flexibilidade político-administrativa ao governo no campo econômico, em benefício dos grandes interesses agrícola-exportadores, por outro lado a ascensão política de novos grupos sociais, de rendas não derivadas da propriedade - facilitada pelo regime republicano - veio reduzir substancialmente o controle que antes exerciam aqueles grupos agrícola-exportadores sobre o governo central. Tem início assim um período de tensões entre os dois níveis de governo - estadual e federal - que se prolongará pelos primeiros decênios do século atual." (p. 177)
E assim, vamos agora para a última parte do esboço de Furtado. Pouco a pouco, vou avançando no clássico Formação Econômica do Brasil.
William
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Bibliografia:
FURTADO, Celso. Formação Econômica do Brasil. Grandes nomes do pensamento brasileiro. 27ª ed. - São Paulo. Companhia Editora Nacional: Publifolha, 2000.
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