Trótski, capa interna do livro de Padura. |
Refeição Cultural - Cuba (IV)
Osasco, 15 de janeiro de 2023. Manhã ensolarada. Li com a pálpebra pesada pela sonolência de uma noite mal dormida.
Defini que nestes primeiros meses do ano irei ler e estudar um pouco a respeito da história de Cuba, de seu povo e de figuras destacadas da ilha caribenha ao longo do tempo. Hoje já sei alguma coisa a mais do que sabia ontem sobre esse país fantástico, sobre seu povo aguerrido que resiste ao embargo imperialista de décadas, povo que persegue os objetivos históricos de construir uma sociedade mais justa e igualitária.
Optei por começar a leitura de um livro que já é considerado um clássico da literatura, apesar de ser um romance contemporâneo, lançado em 2009 pelo escritor cubano Leonardo Padura. O livro O homem que amava os cachorros é um livro que mescla história com ficção, e temos no enredo a lendária figura de um dos líderes da Revolução de Outubro, Trótski. É um livrão, denso, de leitura lenta. Levarei semanas na leitura.
Também decidi ler José Martí, figura histórica e muito importante na história de Cuba, na história de Nuestra América e na história da intelectualidade porque ele é escritor, ensaísta, poeta, político, diplomata e um dos líderes da independência da ilha caribenha em relação à Espanha no final do século XIX. Adquiri uma obra comemorativa organizada pela Real Academia Espanhola (RAE) e demais academias da Língua Espanhola (ASALE). Se trata do livro Martí en su universo. Una antología (2021). Já li os ensaios que abrem o livro e agora vou começar a leitura de seus textos. É leitura pra muito tempo também.
Estou pra receber um terceiro livro com a temática relativa a Cuba. Se trata do livro reportagem de nosso querido escritor Fernando Morais - A ilha (1976). Assim que chegar eu começo a leitura também. Dessa maneira, vou alternando diferentes visões a respeito de Cuba e de sua história, visões de hoje e do passado.
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AOS HUMANOS O QUE SÃO DOS HUMANOS: OS SENTIMENTOS DIVERSOS, AS CONTRADIÇÕES, ESPERANÇAS E DESESPERANÇAS, UTOPIAS E DECEPÇÕES
Cenário 1 - No romance que estou lendo - li os capítulos 6 e 7 -, o personagem Liev Davidovitch vive dramas pessoais como quaisquer dos mortais humanos. Para a história das sociedades humanas dos séculos XX e XXI, Trótski foi uma figura lendária, foi um dos artífices de uma das maiores revoluções da história humana. Um pensador, articulador, organizador das massas. Em um momento, estava numa condição de liderança e condução da revolução. Noutro momento, estava exilado, expurgado, perseguido. Era mantido vivo para ser a justificativa de seu perseguidor em aprofundar o expurgo e a repressão contra ideias dissonantes do regime socialista: o ex-líder seria uma espécie de "contrarrevolucionário". Liev Davidovitch viu sua família se dividir, filhos e filhas e netos sofrerem as consequências de sua vida política. Esse homem sofreu as dores e alegrias de conciliar sua vida com a vida de seu personagem na história.
Cenário 2 - Após uma noite mal dormida, preocupado com o filho que não voltou pra casa, vejo pela manhã diversas mensagens e tentativas de ligações de minha mãe informando a piora do estado de saúde do irmão, nosso tio. Nesse meio tempo, o filho chega e vai dormir. A manhã se consome entre decidir viajar ou não para a cidade onde está o familiar adoecido e de que forma. Meu papel é mais ou menos o de tentar ajudar a família da forma mais adequada. As tratativas do que fazer são tensas porque a cada dia está mais difícil lidar com os seres humanos, além da dificuldade das dores e tristezas que deixam a todos sem saber o que fazer, temos a intolerância que nos dominou como animais humanos. As casas brasileiras nas quais não são as mulheres que suportam e sustentam tudo - nestas, os ambientes são mais tolerantes e acolhedores -, é comum haver machos alfa cheios de intolerância e de comportamento opressor. É o caso da casa de meus pais. A família está toda distante uns dos outros, centenas de quilômetros (distância física e psicológica). Decidir se alguns viajam, quem, quando é um quebra-cabeça. Nenhum humano escapa dessas horas na vida.
Cenário X - Para cada ser humano tem-se um cenário de situações complexas, contraditórias, difíceis de se resolver. Esteja a pessoa bem-posicionada na escala social, esteja na pior das condições sociais, o viver é uma complexidade sem tamanho. O presidente Lula viveu um dos momentos inesquecíveis de sua vida no domingo 1º de janeiro, dia de sua posse do mandato popular e com a população no comando, inclusive na transmissão da faixa presidencial. No domingo seguinte, o homem e o político sentiram uma dor inenarrável, pois é difícil imaginarmos o que sentiu Lula ao ver toda aquela destruição dos símbolos dos poderes da república e saber que aquilo contou com a organização e conivência de certas autoridades do Estado nacional que deveriam proteger aquelas instituições.
E assim é a vida para cada ser humano, liderança política ou pessoa simples do povo, rico ou pobre. Um bilionário pode se achar grande coisa e num instante sofrer uma tragédia pessoal indescritível. Às vezes, nem o dinheiro, essa criação humana, tira a sensação de impotência e miséria dos seres humanos.
Citei esses cenários comuns dos contextos humanos porque a vida me parece ser exatamente isso o tempo todo - oportunidades de acontecimentos bons e situações difíceis a todo momento do viver - e desde que nós homo sapiens passamos a existir e observar e tentar racionalizar a vida e o ambiente onde vivemos lidamos com os antagonismos, as contradições, as alterações de bons e maus momentos e situações.
PRA FINALIZAR O REGISTRO DO INSTANTE
Eu, por exemplo, tento racionalizar o viver. Compreendo bem melhor a existência hoje do que ontem. Neste instante, já não tenho tantas perguntas sem respostas como tive por décadas. Não acharia que isso fosse possível se me colocasse no meu lugar tempos atrás.
Apesar de não concordar com um monte de coisas e não aceitar as coisas como elas são, tenho uma compreensão melhor do porquê as coisas são como são. A busca de sabedoria no existir do ser humano é seguir tentando identificar o que é passível de mudança e o que não é...
É isso! Sigo estudando, observando, quando possível interferindo nas coisas.
Sigo lendo sobre Cuba e os cubanos. A postagem anterior está aqui. Ao final das leituras saberei um pouco mais do que sei hoje.
William (revisão final do texto às 15h23)
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