terça-feira, 26 de setembro de 2023

Brasil capitalista e racista



Refeição Cultural

Osasco, 26 de setembro de 2023. Terça-feira.


Opinião


"Se os negros vivem nas favelas porque não possuem meios para alugar ou comprar residência nas áreas habitáveis, por sua vez a falta de dinheiro resulta da discriminação no emprego. Se a falta de emprego é por causa de carência de preparo técnico e de instrução adequada, a falta desta aptidão se deve à ausência de recurso financeiro. Nesta teia, o afro-brasileiro se vê tolhido de todos os lados, prisioneiro de um círculo vicioso de discriminação – no emprego, na escola – e trancadas as oportunidades que lhe permitiriam melhorar suas condições de vida, sua moradia, inclusive." (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado", by: Abdias Nascimento)


O Brasil é um país racista. Nós somos um povo racista. Não existe democracia racial no Brasil. Nós somos um povo violento. Somos um país capitalista. Somos um país misógino. Não somos um país laico. Somos um povo violento até quando achamos que não somos. Essas são as minhas impressões sobre o país onde nasci e vivo há décadas. Essa é a minha opinião após anos de estudos e de vivência entre a classe trabalhadora, que representei e organizei por muito tempo. Essa é a minha opinião dita aqui como garante a lei maior a respeito da liberdade de opinião, a mesma lei maior - a Constituição Federal de 1988 - que usam para dizer que o Brasil é laico e que, no entanto, fala em nome de "Deus" em seu preâmbulo... (laico, sim, sei...)

Somos racistas e violentos não porque queremos ou por destino, como se fosse algo biológico ou do plano místico, somos o que somos por causa da história, por causa da nossa história, por causa da nossa realidade material construída nos últimos séculos. Somos o que somos pelos acontecimentos históricos que impactaram na conformação da vida nacional. Como não existem essas abstrações mentais deterministas de destino ou que algo estava escrito em algum lugar místico, poderíamos no instante seguinte mudar a tendência de seguir sendo o que somos... o problema é que não vislumbro perspectivas de mudança, infelizmente.

Estou lendo Eliane Brum discorrendo sobre a Amazônia e a emergência climática num calor de fritar ovo no asfalto, cozinhando corpo e mente em nosso apartamento sem ar-condicionado, só com ventiladores soprando o vento quente da realidade material do mundo sendo consumido por nós consumistas das coisas criadas pelas corporações capitalistas do mundo. O livro Banzeiro òkòtó (2021) é uma catarse a cada parágrafo, a cada capítulo, e a gente vai lendo e sofrendo ao entender o quão foda é o que estão(mos) fazendo com a floresta amazônica e com os povos que protegiam a floresta de nós. (aí me lembro que nem as lideranças do PT aceitam mais falarmos em socialismo e lutar contra o capitalismo...)

Enquanto frito no calor da realidade da emergência climática, leio também o livro-denúncia de Abdias Nascimento - O genocídio do negro brasileiro (1978). Que porrada! Já começo a acumular leituras de textos engajados nessas temáticas sobre a condição das negras e negros no Brasil (as pessoas "de cor"). No entanto, Abdias traz novidades ao fazer tantas citações de figuras públicas que eu não sabia que eram racistas que a gente fica de queixo caído... Somos um povo racista, até quando achamos que não somos, essa é a verdade!

Aliás, o desconforto que Eliane Brum descreve por ter plena consciência de sua condição de branca no Brasil racista deveria ser o mesmo desconforto ou consciência que todos nós poderíamos sentir ao nos identificarmos como brancos nessa terra racista. Como percebemos ao ler Abdias Nascimento e Eliane Brum, em algum momento de nossas vidas de brancos neste país racista, tivemos nosso cotidiano marcado por algum privilégio por causa da cor da nossa pele ou origem racial. Qualquer dado estatístico sobre o povo brasileiro demonstra os efeitos do racismo estrutural.

Da leitura de hoje de Abdias, pincei uma frase do escritor e pensador que ilustra bem o que aprendi nas formações políticas do movimento sindical, um conceito que a companheira Deise Recoaro explicava nas suas palestras sobre questões de gênero, raça e orientação sexual. Ela nos explicava que:

- Preconceito gera discriminação, discriminação gera falta de oportunidades e falta de oportunidades gera desigualdade social. Somos nós, o Brasil, o país mais desigual do mundo! Um país capitalista e racista. E misógino! Tudo junto e misturado.

Enfim, somos natureza, tudo está contido na mesma natureza chamada planeta Terra. Nós animais humanos só somos componentes da natureza, como todos os demais componentes da natureza. Assim como a natureza muda o tempo todo, e o animal humano altera a natureza com mais velocidade que os demais seres e elementos, podemos alterar a tendência atual das coisas. A questão é: queremos mudar a tendência escatológica das coisas no mundo atual? Se queremos, estamos atuando para mudar algo ou não em relação a postergar o fim das condições de vida na Terra?

William


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