Refeição Cultural
Osasco, 6 de outubro de 2023. Sexta-feira.
"GENOCÍDIO – geno-cídio: O uso de medidas deliberadas e sistemáticas (como morte, injúria corporal e mental, impossíveis condições de vida, prevenção de nascimentos), calculadas para o extermínio de um grupo racial, político ou cultural ou para destruir a língua, a religião ou a cultura de um grupo. Webster’s Third New International Dictionary of the English Language, Springfield: G&C Merriam, 1967.
GENOCÍDIO – geno-cídio: Genocídio s.m. (neol.). Recusa do direito de existência a grupos humanos inteiros, pela exterminação de seus indivíduos, desintegração de suas instituições políticas, sociais, culturais, linguísticas e de seus sentimentos nacionais e religiosos. Ex.: perseguição hitlerista aos judeus, segregação racial etc. Dicionário Escolar do Professor, organizado por Francisco da Silveira Bueno. Brasília: Ministério da Educação e Cultura, 1963, p. 580." (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado" by: Abdias Nascimento
REFLEXÃO
A leitura do livro O genocídio do negro brasileiro - Processo de um racismo mascarado (1978), do grande intelectual Abdias Nascimento (1914-2011), foi uma leitura que me trouxe grandes reflexões e novos conhecimentos. A obra de Abdias se incorpora aos textos que tenho lido recentemente que têm impactado profundamente minha forma de ver o mundo.
Ao ler esse texto-denúncia de Abdias, ficou muito mais claro como eu - um branco - fui enganado ao longo de minha vida sobre o mito da "democracia racial" no Brasil. Como nós fomos enganados! Além de denunciar a mentira da "igualdade" de tratamento aos afrodescendentes, Abdias faz propostas de solução para o problema, propostas que seriam abraçadas pelas lutas antirracistas tempos depois.
Quando leio e ouço os estudos e reflexões do intelectual Jessé Souza, nos explicando sobre o racismo estrutural na sociedade brasileira, compreendo cada dia mais por que as coisas são como são por aqui. Antes de Jessé, Abdias já nos alertava para a mentira da "democracia racial" para os afrodescendentes no Brasil.
Devo agradecer ao Instituto Conhecimento Liberta (ICL), e especialmente aos professores Lindener Pareto e Suze Piza, a oportunidade que me deram da referência a Abdias Nascimento, pessoa incrível que eu nem conhecia para ser bem sincero como costumo ser. O livro de Abdias fez parte dos "13 livros para compreender o Brasil", curso que fiz no ICL (ler comentário aqui).
A busca pelo conhecimento é muito facilitada quando temos à disposição boas trilhas de estudos, caminhos a percorrer nas leituras e reflexões. É assim quando entramos em uma graduação de nível superior. As disciplinas e os mestres constroem listas e roteiros de leituras para percorrermos e galgarmos novos conhecimentos.
Escrevo há quase vinte anos que reconheço a minha ignorância (não saber) em quase todas as dimensões do conhecimento humano. Nunca neguei isso. Sou todo lacunas culturais e por isso leio, estudo e escrevo, para tentar melhorar como um ser vivo na natureza, ser que vive em sociedade, e melhorar como homo sapiens.
Os textos do livro são tão profundos - cada capítulo, cada ideia e cada argumento de Abdias Nascimento - que não adiantaria eu fazer diversas citações aqui no blog. E os textos complementares? Um melhor que o outro. Um dos prefácios, por exemplo, é feito por Florestan Fernandes!
No entanto, para deixar a curiosidade aguçar o desejo de leitura da obra, cito abaixo os capítulos do livro:
I. Introdução
II. Escravidão: O mito do senhor benevolente
III. Exploração sexual da mulher africana
IV. O mito do "africano livre"
V. O branqueamento da raça: uma estratégia de genocídio
VI. Discussão sobre raça: proibida
VII. Discriminação: realidade racial
VIII. Imagem racial internacional
IX. O embranquecimento cultural: outra estratégia de genocídio
X. A perseguida persistência da Cultura Africana no Brasil
XI. Sincretismo ou Folclorização?
XII. A bastardização da Cultura Afro-Brasileira
XIII. A estética da brancura nos artistas negros aculturados
XIV. Uma reação contra o embranquecimento: o Teatro Experimental do Negro
XV. Conclusão
Como nos ensinam os bons mestres, nenhuma crítica ou comentário sobre um livro substitui a leitura do próprio livro. LEIAM essa obra de Abdias, é o que posso deixar como sugestão aos que não desistiram de estudar e buscar compreensão da realidade do mundo.
Deixo abaixo, algumas citações só para instigar leitoras e leitores a lerem a obra de Abdias.
Antes disso, comento que achei emocionante ver que o 3º Governo Lula retomou o programa de bolsas de estudos Abdias Nascimento, criado no Governo Dilma em 2015, antes do golpe de Estado, e sem recursos desde então. Lula retomou o programa em junho de 2023 e hoje há recursos para as bolsas de estudos para afrodescendentes, indígenas e pessoas com deficiência.
Lindo isso! Fizemos o L para isso, para criar oportunidades para tod@s no Brasil.
William
---
A MENTIRA MITOLÓGICA DA "DEMOCRACIA RACIAL""O preconceito de cor, a discriminação racial e a ideologia racista permaneceram disfarçados sob a máscara da chamada “democracia racial”, ideologia com três principais objetivos: 1. impedir qualquer reivindicação baseada na origem racial daqueles que são discriminados por descenderem do negro africano; 2. assegurar que todo o resto do mundo jamais tome consciência do verdadeiro genocídio que se perpetra contra o povo negro do país; 3. aliviar a consciência de culpa da própria sociedade brasileira" (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado", by: Abdias Nascimento)
A MENTIRA DA "LIBERTAÇÃO" DOS ESCRAVIZADOS
"Teoricamente livres, mas praticamente impedidos de trabalho, já que o imigrante europeu tinha a preferência dos empregadores, o negro continuou o escravo do desemprego, do subemprego, do crime, da prostituição, e principalmente, o escravo da fome: escravo de todas as formas de desintegração familiar e da personalidade." (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado", by: Abdias Nascimento)
GENOCÍDIOS DE INDÍGENAS E AFRODESCENDENTES TRAVESTIDOS DE NOMES BONITOS
"A sociedade dominante no Brasil praticamente destruiu as populações indígenas que um dia foram majoritárias no país; essa mesma sociedade está às vésperas de completar o esmagamento dos descendentes africanos. As técnicas usadas têm sido diversas, conforme as circunstâncias, variando desde o mero uso das armas, às manipulações indiretas e sutis que uma hora se chama assimilação, outra hora aculturação ou miscigenação; outras vezes é o apelo à unidade nacional, à ação civilizadora, e assim por diante." (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado", by: Abdias Nascimento)
ABDIAS NASCIMENTO E PAULO FREIRE
"Nossa arte negra é aquela comprometida na luta pela humanização da existência humana, pois assumimos com Paulo Freire ser esta 'a grande tarefa humanística e histórica do oprimido – libertar-se a si mesmo e aos opressores'." (from: "O Genocídio do negro brasileiro: Processo de um Racismo Mascarado", by: Abdias Nascimento)
Nenhum comentário:
Postar um comentário