"Uma complexidade da língua portuguesa, que prolonga uma situação latina, é a distinção que convém fazer entre radical e 'tema'. O tema vem a ser o radical ampliado por uma vogal determinada, que entra assim na flexão dos nomes e dos verbos.
Em vez de CANT-, FAL-, GRIT-, por exemplo, temos os temas em -a: CANTÁ-, FALÁ-, GRITÁ-, que colocam esses verbos numa classe morfológica, dita 1a conjugação. Analogamente, temos a classe dos verbos de tema em -e- (2a conjugação) e a dos de tema em -i- (3a conjugação).
Não é costume das nossas gramáticas estabelecer a mesma distinção para os nomes. Mas a conveniência de fazê-lo me parece inegável. Há nos nomes os temas em -a (rosa, poeta, planeta), os temas em -o /u/ átono final (livro, tribo, cataclismo) e os temas em -e /i/ átono final (dente, ponte, análise). Assim não se confunde a desinência de feminino -a, que aparece especialmente nos temas em -o (lobo, loba) e a vogal temática -a, que não é marca de gênero (cf. poeta, masculino; artista, masculino ou feminino conforme o contexto).
Nos nomes, a ausência da vogal temática cria as formas que podemos chamar atemáticas e se circunscrevem, a rigor, aos oxítonos em -á, ou -ê, -ó, ou -ô, -u e -i (alvará, candomblé, noitibó, urubu, tupi). Os nomes terminados no singular em consoante pós-vocálica têm uma forma teórica em -e /i/ átono final, que se deduz dos plurais. Compare-se: feliz - felizes, mar - mares, e assim por diante (nos nomes terminados em /l/ há regras especiais que alteram superficialmente o resultado)."
Bibliografia:
CÂMARA Jr., J. Mattoso:
.Estrutura da Língua Portuguesa, 23a. edição, Editora Vozes, Petrópolis 1995.
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