1 - Entre as palavras usadas para a designação da ciência dos textos, FILOLOGIA e ECDÓTICA estão definitivamente marcadas pelos problemas da polissemia. Por este motivo, aos usuários de tais palavras, por imposição da clareza que deve caracterizar a boa linguagem científica, impõe-se o cuidado de só se valerem das mesmas num contexto em que esteja bem especificado o sentido a elas atribuído, como opção de uso legítima e incontestável diante dos fatos comprovados a que fizemos referência. De fato, vimos com clareza que FILOLOGIA no uso moderno tanto corresponde ao sentido amplo das definições de Carolina Michaëlis e de Leite de Vasconcelos como ao sentido restrito de crítica textual; e que a palavra ECDÓTICA, usada por Salomon Reinach e por Dom Henri Quentin para indicar a fase culminante da crítica textual, também é tomada para designar uma ciência de objetivos mais amplos, da qual a crítica textual seria a parte nuclear.
2 - Não há a menor razão para justificar a substituição da forma ECDÓTICA por EDÓTICA, esta última divulgada por infeliz iniciativa de Silveira Bueno em 1946, e adotada por Segismundo Spina: é uma palavra de cunho erudito, e não é a única que pode causar espécie aos iniciantes em estudos das ciências da linguagem, aos quais não restam outras alternativas senão conformar-se com o uso desta e de numerosas palavras ou expressões de aparência hermética ou então simplesmente rejeitá-las e substituí-las se possível por outras designações mais simples e adequadas.
3 - A vantagem oferecida pelas designações CRÍTICA TEXTUAL, CRÍTICA DE TEXTOS ou CRÍTICA DOS TEXTOS, de uso já tão generalizado, é que contribuem de imediato para a percepção do seu significado, sem necessidade de explicações etimológicas ou relativas a problemas de polissemia, que não as envolvem.
4 - A melhor maneira de designar os especialistas em CRÍTICA TEXTUAL sem deixar nenhuma dúvida a esse respeito é no nosso entender usar a expressão CRÍTICO TEXTUAL, como tem feito Ivo Castro nos seus valiosos trabalhos. A palavra filólogo, pela sua polissemia, não se aplica exclusivamente a quem se dedica à crítica textual.
5 - Quanto à palavra TEXTOLOGIA, na verdade, pondo de lado a restrição de sentido que lhe impôs Laufer, consideramos que poderia merecer a atenção dos estudiosos, como uma das boas soluções para o problema terminológico em pauta, pois o sentido dos radicais que a constituem em nada impede que viesse também a ser aplicada à ciência dos textos de modo geral, tendo em vista a origem dos mesmos, a sua transmissão através dos tempos e reprodução em edições fidedignas e edições críticas, como está nos planos da crítica textual.
Bibliografia:
CONFLUÊNCIA. Revista do Instituto de Língua Portuguesa. N.23 – 1º semestre de 2002, Rio de Janeiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário