terça-feira, 2 de junho de 2009

Leitura de Mariátegui, vida e obra - Leila Escorsim



Refeição Cultural

Lendo o capítulo III

As concepções marxistas de Mariátegui

Mariátegui considera o Tratado de Versalhes (ver aqui) um "Tratado de guerra" pois "a paz de Versalhes é o ponto de partida de todos os problemas econômicos e políticos de hoje (1923). O Tratado de Paz de Versalhes não deu ao mundo a tranquilidade nem a ordem que dele esperavam os Estados. Ao contrário: trouxe novas razões de inquietude, de desordem e de mal-estar. Nem sequer pôs definitivamente fim às operações bélicas. Essa paz não pacificou o mundo. Depois de firmá-la, a Europa continuou em armas - e até enfrentando-se e ensanguentando-se parcialmente. Assistimos hoje mesmo à ocupação do Ruhr (ver aqui), que é uma operação militar e cria entre a França e a Alemanha uma situação pré-bélica. O Tratado não merece, portanto, o nome de tratado de paz. Merece, sobretudo, a designação de tratado de guerra" (Mariátegui)

Mariátegui tem uma clareza fantástica de que é o poder econômico que estabelece o poder político.

"O poder político é uma consequência do poder econômico. A plutocracia europeia e norte-americana não tem nenhum medo dos exercícios dialéticos dos políticos democratas. Quaisquer dos trustes ou dos carteis industriais da Alemanha e Estados Unidos influem na política de sua respectiva nação mais que toda a ideologia democrática..." (Mariátegui)

(e essa visão ele já a tinha na década de 20, heim!)

O limite da democracia esbarra em não mexer com o poder dos poderosos.

"atualmente, a intensificação da luta de classe, o agravamento da guerra social, acentuou esta crise da democracia. O proletariado tenta o assalto decisivo ao Estado e ao poder político para transformar a sociedade. Seu crescimento nos parlamentos ameaça a burguesia. Os instrumentos legais da democracia resultaram insuficientes para conservar o regime democrático. O conservadorismo necessita apelar à ação ilegal, aos meios extralegais" (Mariátegui)

Sempre vimos isso. As classes dominantes em geral têm o controle dos "processos democráticos". Quando o povo subverte "a ordem" e elege mais do que o tolerado, logo se organiza uma forma de derrubar os governos e parlamentos mais representativos do povo e acaba-se com essa "brincadeira" de democracia.

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COMENTÁRIO: Nós já vimos isso em um passado recente com João Goulart no Brasil, com Salvador Allende no Chile etc. Nestes dias (julho de 2009) estamos vendo o golpe militar em Honduras, que depôs Manuel Zelaya. Pelo menos desta vez, nem os EUA estão apoiando os militares golpistas.

Tem uma observação da autora sobre o que Mariátegui afirma a respeito do liberalismo "de fachada" que me faz lembrar os liberais e "democratas" brasileiros representados pelo PSDB, DEM e PMDB.

Ela pede que observemos o que Mariátegui se refere quando diz "Liberalismo e conservadorismo são hoje duas escolas políticas superadas e deformadas*. Atualmente, não assistimos a um conflito dialético entre o conceito liberal e o conceito conservador, mas a um contraste real, a um choque histórico entre a tendência a manter a organização capitalista da sociedade e a tendência a substituí-la por uma organização socialista e proletária" (Mariátegui)

*Isto indica que o liberalismo não tem continuação e atualidade senão em um plano puramente intelectual e filosófico e que, se se desce ao terreno da política prática e concreta, o liberalismo está representado por conservadores, atentos somente à sua técnica administrativa e econômica e carentes de seu espírito revolucionário, obstinados na tarefa reacionária de resistir ao socialismo [...]" (idem)

E aí, não parece estar descrevendo o Serra, Aécio ou outro liberalzinho de fachada?


Bibliografia:

ESCORSIM, Leila. Mariátegui - Vida e Obra. Editora Expressão Popular. 1a edição, Rio de Janeiro, 2006.

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