segunda-feira, 22 de junho de 2009

A importância do ato de ler, de Paulo Freire (1982)




Um livro simples e fundamental para aqueles que buscam na leitura muito mais que ler palavras, buscam ler sentidos.

"A leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele".


O livro é constituído de três artigos do educador Paulo Freire. Artigos que elucidam questões como "o mito da neutralidade da educação"; explica sobre a ideia equivocada de acharem que o educando é uma folha em branco, sem conhecimento prévio; e um dos principais focos dos artigos é: estudar não é só um direito, mas um ato revolucionário.


Além da importância do ato de ler, Freire descreve como devemos organizar as bibliotecas para a educação conscientizadora dos povos.


Também dedica uma boa parte do livro a nos mostrar como foi o processo revolucionário de educar o povo de São Tomé e Príncipe - alfabetização e pós-alfabetização, povo recém-liberto do jugo colonialista português e em busca da "criação de uma nova sociedade".


Para nós que buscamos e pensamos um outro mundo possível, mais solidário, paritário e de respeito às diversidades, ficam da leitura ensinamentos básicos:


- a importância na forma correta de ler o texto em relação ao contexto;


- o povo tem o direito (e o dever) de ser sujeito e não objeto na construção da realidade;


- a aprendizagem da leitura e a alfabetização são atos de educação e educação é um ato fundamentalmente político;


- a insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. Visão que urge ser superada.


"A memorização mecânica da descrição do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala" p.17


Paulo Freire nos ensina a importância fundamental de organizarmos a nossa palavra ao contexto de nossos educandos. É a ideia do universo vocabular dos grupos: "palavras do Povo, grávidas do mundo".


A leitura crítica da realidade no processo de educação associada a práticas de mobilização e organização "pode constituir-se num instrumento para o que Gramsci chamaria de ação contra-hegemônica".


O mito da neutralidade da educação leva à negação da natureza política do processo educativo.


Segundo Freire é impossível separar o inseparável: a educação da política.


"Sempre vi a alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por isso mesmo como um ato criador" p.19

"A alfabetização é a criação ou a montagem da expressão escrita da expressão oral" p.19


Mas, se não é possível pensar a educação sem pensar o poder e sem pensá-la como prática autônoma ou neutra, isto não significa que a educação seja uma pura reprodutora da ideologia dominante.


Como cita o professor "o que temos de fazer então, enquanto educadores ou educadoras, é aclarar, assumindo a nossa opção, que é política, e sermos coerentes com ela, na prática".


Nessa relação dialógica, que nos inclui a todo(a)s como pais e mães, sindicalistas, educadore(a)s, devemos escutar o(a)s outro(a)s pois "cada um de nós é um ser no mundo, com o mundo e com os outros".


Toda a questão do conhecimento passa pelos princípios ensinados a nós de que há uma relação dinâmica entre a leitura da palavra e a "leitura" da realidade. Também é necessário que os povos sejam sujeitos.


Terminamos com o ensinamento sobre o ato de estudar:


"Estudar exige disciplina. Estudar não é fácil porque estudar é criar e recriar é não repetir o que os outros dizem. Estudar é um dever revolucionário!".


Leiam esse pequeno livro (87 páginas) com grandes ensinamentos.

William Mendes
(publicado originalmente como artigo meu no Portal da Contraf-CUT em 26.9.08)

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