segunda-feira, 29 de junho de 2009

Pau Brasil, de Oswald de Andrade, de 1925


Prefácio de Paulo Prado

No prefácio de Paulo Prado, de 1924, a apresentação da Poesia Pau Brasil, com vários excertos do Manifesto da Poesia Pau Brasil, já nos diz e fala da radicalidade da obra.

"Não só mudaram as ideias inspiradoras da poesia, como também os moldes em que ela se encerra. Encaixar na rigidez de um soneto todo o baralhamento da vida moderna é absurdo e ridículo. Descrever com palavras laboriosamente extraídas dos clássicos portugueses e desentranhadas dos velhos dicionários, o pluralismo cinemático de nossa época, é um anacronismo chocante, como se encontrássemos num Ford um tricórnio..." p.58

"Sejamos agora de novo, no cumprimento de uma missão étnica e protetora, jacobinamente brasileiros. Libertemos-nos das influências nefastas das velhas civilizações em decadência. Do novo movimento deve surgir, fixada, a nova língua brasileira, que será como esse 'Amerenglish' que citava o Times referindo-se aos Estados Unidos" p.59

"Nesta época apressada de rápidas realizações a tendência é toda para a expressão rude e nua da sensação e do sentimento, numa sinceridade total e sintética" p.59

"Grande dia esse para as letras brasileiras. Obter, em comprimidos, minutos de poesia (...) A nova poesia não será nem pintura nem escultura nem romance. Simplesmente poesia com P grande, brotando do solo natal, inconsciente. Como uma planta" p.59

Por ocasião da Descoberta do Brasil

ESCAPULÁRIO

No Pão de Açúcar
De Cada Dia
Dai-nos Senhor
A Poesia
De Cada Dia


FALAÇÃO
"(...)
A língua sem arcaísmos. Sem erudição. Natural e neológica. A contribuição milionária de todos os erros"
(...)
Contra a argúcia naturalista, a síntese. Contra a cópia, a invenção e a surpresa." (BRASILIDADE)

História do Brasil

PAÍS DO OURO
Todos têm remédio de vida
E nenhum pobre anda pelas portas
A mendigar como nestes Reinos


AS AVES
Há águias de sertão
E emas tão grandes como as de África
Umas brancas e outras malhadas de negro
Que com uma asa levantada ao alto
Ao modo de vela latina
Correm com o vento

FREI MANOEL CALADO

CIVILIZAÇÃO PERNAMBUCANA
As mulheres andam tão louçãs
E tão custosas
Que não se contentam com os tafetás
São tantas as jóias com que se adornam
Que parecem chovidas em suas cabeças e gargantas
As pérolas e rubis e diamantes
Tudo são delícias
Não parece esta terra senão um retrato
Do terreal paraíso

J.M.P.S
(da cidade do porto)

VÍCIO NA FALA
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados

(Fabuloso! A poesia está nos fatos. Este é nosso retrato. "povo burro" = povo culto, puro e sábio)

Poemas da colonização

O GRAMÁTICO
Os negros discutiam
Que o cavalo sipantou
Mas o que mais sabia
Disse que era
Sipantarrou

O CAPOEIRA
-Qué apanhá sordado?
-O quê?
-Qué apanhá?
Pernas e cabeças na calçada

RELICÁRIO
No baile da Corte
Foi o Conde d'Eu quem disse
Pra Dona Benvinda
Que farinha de Suruí
Pinga de Parati
Fumo de Baependi
É comê bebê pitá e caí

São Martinho

O VIOLEIRO
Vi a saída da lua
Tive um gosto singulá
Em frente da casa tua
São vortas que a mundo dá

rp 1

DITIRAMBO
Meu amor me ensinou a ser simples
Como um largo de igreja
Onde não há nem um sino
Nem um lápis
Nem uma sensualidade

NOVA IGUAÇU
Confeitaria Três Nações
Importação e Exportação
Açougue Ideal
Leiteria Moderna
Café do Papagaio
Armarinho União
No país sem pecados

(um poema substantivos...)

Postes da Light

ANHANGABAÚ
Sentados num banco da América folhuda
O cow-boy e a menina
Mas um sujeito de meias brancas
Passa depressa
No Viaduto de ferro

MÚSICA DE MANIVELA
Sente-se diante da vitrola
E esqueça-se das vicissitudes da vida
Na dura labuta de todos os dias
Não deve ninguém que se preze
Descuidar dos prazeres da alma

(E eu que deixei de exercer isso, heim!)

PRONOMINAIS
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro

(Pau Brasil!!!)

BIBLIOTECA NACIONAL
A Criança Abandonada
O Doutor Coppelius
Vamos com Ele
Senhorita Primavera
Código Civil Brasileiro
A arte de ganhar no bicho
O Orador Popular
O Pólo em Chamas

(De novo, substâncias... Pau Brasil!!! Essas eram as leituras do Brasil de então...)

DIGESTÃO
A couve mineira tem gosto de bife inglês
Depois do café e da pinga
O gozo de acender a palha
Enrolando o fumo
De Barbacena ou de Goiás
Cigarro cavado
Conversa sentada

HÍPICA
Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails

(substâncias... a vida social.
Este poema nos lembra o Rondó dos cavalinhos, de Bandeira. Perfeita crítica social)

Roteiro das Minas

PAISAGEM
Na atmosfera violeta
A madrugada desbota
Uma pirâmide quebra o horizonte
Torres espirram do chão ainda escuro
Pontes trazem nos pulsos rios bramindo
Entre fogos
Tudo novo se desencapotando

(Me lembra Drummond)

LONGO DA LINHA
Coqueiros
Aos dois
Aos três
Aos grupos
Altos
Baixos

Lóide Brasileiro

CANÇÃO DE REGRESSO À PÁTRIA
Minha terra tem palmares
Onde gorjeia o mar
Os passarinhos daqui
Não cantam como os de lá

Minha terra tem mais rosas
E quase que mais amores
Minha terra tem mais ouro
Minha terra tem mais terra

Ouro terra amor e rosas
Eu quero tudo de lá
Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para São Paulo
Sem que eu veja a rua 15
E o progresso de São Paulo

(Oswald de Andrade também tem o seu poema "Recife"...)

LAUS DEO

O livro é tudo de bom!!

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