sexta-feira, 12 de junho de 2009

Ainda sobre a natureza humana


Refeição Cultural

O mundo pode tanto melhorar quanto piorar, a depender da educação e do envolvimento das massas populares


Minha digestão cultural de hoje diz respeito ao homem e sua natureza destrutiva.

Assisti ao filme A queda - As últimas horas de Hitler, de 2004. Tenho lido também Eric Hobsbawn e seu livro fantástico Era dos extremos, que focaliza o mundo no século XX entre a 1ª Guerra Mundial e a Queda do muro de Berlim.




Minha reflexão em relação ao filme sobre Hitler e o Nazismo, foi pensar naqueles cidadãos alemães após a rendição incondicional no início de maio de 1945.

Por que refletir sobre os alemães e não sobre as vítimas dos nazistas ou da guerra em geral, que dizimou 50 milhões de vidas humanas?

Eu me peguei imaginando a vergonha e a humilhação daquela nação e daquelas pessoas nos dias, meses, anos e anos seguintes ao fim da guerra.

A Alemanha foi novamente fatiada, tutelada e controlada pelos vencedores como ocorreu ao final da 1ª Guerra Mundial.

Tem uma cena no filme onde Joseph Goebbels diz que o povo alemão, ou seja, os civis também, deve perecer junto ao exército, pois os ideais nazistas eram partilhados por ampla maioria da sociedade.

Volto a pensar na situação daquele povo quando o mundo passou a julgá-los por seus crimes de guerra contra judeus, comunistas, homossexuais, eslavos e pessoas com algum grau de deficiência. Estima-se em 10 milhões os mortos nos campos de concentração.

Não deixem de assistir ao filme O leitor, de 2008, vencedor do Oscar de melhor atriz para Kate Winslet.


Lendo sobre o período entre a 1ª e a 2ª Guerra Mundial nas aulas de Hobsbawn, fico conhecendo melhor o passado e observando os dias que correm nesta década primeira do século XXI e vejo semelhanças preocupantes.

Em 2008 estourou novamente uma crise econômica e mundial que tem levado os países a adotarem as mesmas medidas que ocorreram nas décadas de 20/30. Vemos a ascensão dos partidos de direita em diversos países da comunidade europeia. Estamos assistindo à crescente onda contra imigrantes e demais povos que simbolizam a alteridade do terceiro mundo frente ao chamado "primeiro mundo" em crise global.

Fico pensando sobre o que se passa na cabeça do povo italiano ao repetir o mesmo erro hoje (2009) com a eleição e manutenção de apoio àquela "coisa Berlusconi" como diz o escritor José Saramago. Nas primeiras décadas do século XX, ascendeu ao poder Mussolini e os italianos caminham no mesmo sentido nos dias de hoje. Será que não sentirão vergonha disso no futuro? Mas, pode ser tarde...

A eleição de Bush filho nos EUA trouxe uma instabilidade mundial e uma piora das relações internacionais em todo o globo terrestre, além de várias guerras de massacres promovidas pelos republicanos e seus parceiros conservadores e da indústria armamentista. O mundo passou a detestar o povo americano como um todo. Eles se envergonharam disso!?

Eu não sei para onde caminhamos, mas bate um pessimismo grande quando vejo que o homem não muda em relação à sua natureza destrutiva e em sua relação também destrutiva para com o planeta em que vivemos.

Ainda bem que a América Latina tem nos dado esperanças em relação a eleições de governos mais progressistas, mais à esquerda e mais identificados com os povos e com programas que priorizam as políticas sociais.

É fundamental que eduquemos nossos trabalhadores e nossas crianças para não caírem nas lábias das famílias que detêm os poderes econômicos e midiáticos e que continuemos na luta para que os povos participem tanto da vida sindical quanto política de seus países.



Post Scriptum (7/09/15, à 1:08h):

Reli o texto e o achei bem atual para as crises com os imigrantes na Europa em 2015, para a ascensão fascista no mundo e no Brasil neste momento grave que vivemos.


Post Scriptum (madrugada de 15/5/16, domingo, 1:50h):

Releitura desta reflexão minha feita em 2009. Faz 4 dias que a direita fascista, partidos políticos e políticos canalhas e seres de aluguel, os donos dos meios de comunicação, os empresários, latifundiários e, principalmente, com anuência e silêncio dos órgãos que deveriam proteger a democracia, o Legislativo e o Judiciário brasileiros, afastaram a nossa presidenta Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores, reeleita com 54,5 milhões de votos em outubro de 2014. Afastada sem nenhum crime de responsabilidade ou algo ilegal, sem nada nada. O contrário de todos que a afastaram, ladrões de colarinho branco com acusações e fichas corridas que vão da Terra à Lua.

Estou tão indignado que estou pusilânime em relação a alimentar ilusões de que o golpe parlamentar possa ser revertido nas ruas, como ouço de algumas pessoas do meu campo ideológico. Não houve quebradeira, não houve paralisação do país, não houve invasão de nada pelo povo defendendo o governo e a democracia. 

Quando lembro da situação real do nosso país tomado por ladrões corruptos aparecendo o tempo todo como novos governantes nas teletelas do Grande Irmão Globo e asseclas da grande imprensa, me dá vontade de chorar, de fazer algo pela democracia de meu país. Às vezes, fico pensando em algo que descobri faz anos: que o conhecimento dói. Eu sei que o povo que eu represento, os trabalhadores e gente mais humilde, sei que eles vão se foder, e eles foram manipulados e parte apoiou, silenciou, permitiu, inventou desculpas para deixar o golpe ser aplicado.

Mas ao ler esta reflexão que fiz 7 anos atrás, pensando o povo alemão que apoiou Adolf Hitler e todo o horror do 3º Reich, realmente fico pensando o mesmo em relação à massa de pessoas que me circulam, do meu convívio familiar (não mais de meu convívio), de meu convívio profissional (sou obrigado a conviver com eles), de meu convívio social em geral (que faço, vou embora de meu país?), enfim, estou nessas poucas horas ainda pós golpe pensando a respeito de como trato essa imensa parcela que apoiou novo golpe no Brasil, após termos gasto mais de duas décadas para livrar o país do golpe anterior em 1964.

Estou ainda meio que... por sorte, entre a noite do golpe (12/5/16) e a manhã deste sábado (14/5) tudo que fiz foi trabalhar de forma ininterrupta, quase que nem dormi. Aí não sobrou tempo sequer para pensar e lembrar que já vivia num país em regime de exceção. Estou destruído por dentro. 

E pior, quando a segunda-feira chegar, vestirei meu contrato social e sairei de casa para cumprir fielmente minha missão, meus compromissos assumidos com os trabalhadores que votaram em mim e depositaram sua confiança em meu trabalho na entidade de saúde que atuo. Só tenho o curto tempo do fim de semana para o lamento como cidadão, como ser humano, que é gente, que sofre e ri (nem tanto), adoece, tem emoções...

É isso!

William

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