quinta-feira, 23 de junho de 2022

Diário e reflexões (23/06/22)


Refeição Cultural

Osasco, 23 de junho de 2022.


Opinião

OS POLÍTICOS TÊM O DOM DE AFASTAR AS PESSOAS DA POLÍTICA

A cada dia que passa, mais me convenço que os políticos têm o dom de fazer com que as pessoas comuns - que não são militantes políticas e ou que não são politizadas - tenham aversão à política. Isso não seria grave se a consequência do afastamento das pessoas "comuns" da política não desse espaço para o crescimento das forças "políticas" de direita, extrema-direita e extremistas, que atacam a política para dominarem a política. O afastamento da política por parte da classe trabalhadora faz com que os capitalistas nadem de braçada no mar de alienação política do povo.

A cena pública desses dias na qual Eduardo Suplicy (vereador pelo PT em São Paulo) cobra de Aloizio Mercadante (presidente da Fundação Perseu Abramo) respeito a ele e ao que ele significa para o Partido dos Trabalhadores ao se sentir preterido e excluído de fóruns de debate relativos à construção das diretrizes do programa de governo da pré-candidatura de Lula e Alckmin à presidência da república é um exemplo claro do que estou afirmando sobre os políticos afastarem as pessoas da política.

A cena na qual Suplicy interrompe o discurso de Mercadante para questionar por que ele não foi convidado para participar do fórum, por que sua proposta de Renda Básica da Cidadania não havia sido considerada, mesmo ele mandando por e-mail e sendo uma liderança histórica do partido e defensor da proposta há décadas, demonstra como funcionam as coisas nas políticas partidárias, sindicais, estudantis e de qualquer movimento com militância orgânica, ou seja, demonstra como funciona a política.

Uma coisa é eu entender o que aconteceu ali, outra coisa são milhares de pessoas de fora da política entenderem por que aquela cena triste e constrangedora aconteceu... O que vou dizer pra minha esposa e filho e conhecidos do cotidiano a respeito daquela cena? Por que fizeram aquilo com o Suplicy, me perguntam? Na hora, minha esposa foi se lembrando de tudo que o movimento sindical fez comigo nos últimos anos de relação... Por que foi que meu sindicato me excluiu das discussões sobre as eleições de Cassi e Previ em dezembro passado? Por que foi que fizeram isso e aquilo comigo... Mesmo não sendo da política, minha esposa disse que fizeram o mesmo com o Suplicy e ficou com muita raiva do PT e das lideranças que fazem isso com outras lideranças do partido... e ainda disse que para piorar a situação o Suplicy tem mais de 80 anos de vida e uma vida inteira de militância ao partido.

Pois é... é foda! A gente que viveu décadas dentro da política sabe muito bem como as coisas funcionam... tendências e correntes políticas dentro dos partidos e sindicatos etc. Sabe como a política do momento é diferente da política de outras épocas pois tudo muda.

Enfim, compreendo por que aconteceu aquela cena triste entre Suplicy e Mercadante. Compreender a história não é concordar com ela, como nos ensina Eric Hobsbawm no clássico "Era dos extremos". Compreendo por que Suplicy foi até lá no meio daquela reunião e cobrou um pouco mais de consideração. Imagino por que os dirigentes daquele fórum não incluíram o Suplicy e sua proposta. Acho que poderia ser diferente, mas eu não apito nada. Mal consigo explicar para os comuns ao meu redor por que as coisas são sempre assim no movimento político.

Pra finalizar essa reflexão, outro caso que afasta as pessoas da política é o caso de Manuela D'Ávila, grande liderança do Partido Comunista do Brasil. Pelo que pude entender ao ouvir comentaristas políticos, Manuela não será candidata porque a esquerda no Rio Grande do Sul mais uma vez se dividiu em diversas frentes para concorrer às eleições, seriam ao menos 4 candidaturas do mesmo campo, do campo progressista e de esquerda ou centro-esquerda. Difícil, viu! Difícil!

Minha esposa me disse que se lembrou das eleições da Cassi em 2018, quando a esquerda se dividiu toda em 3 chapas e permitiu que a chapa apoiada pelo patrão e pelos gestores do banco vencesse a eleição...

Se a gente olhar pra trás na história, a gente começa a se lembrar que parece que a esquerda não tem jeito...

Mas como somos humanos e são os humanos que constroem a história e a sua história, sempre há tempo de mudar e avançar na luta em defesa de um mundo melhor e mais justo para o povo e a classe trabalhadora e para o próprio planeta Terra, que caminha rapidamente para o fim das diversas formas de vida sob a hegemonia do modo capitalista de coabitarmos o mundo que existe.

William Mendes

Fui diretor do Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e região por 4 mandatos (2002-2014), fui diretor da Contraf-CUT por 3 mandatos (2006-2015) e fui diretor de saúde da Cassi (2014-2018).


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