quinta-feira, 2 de junho de 2022

Lembranças (A busca da felicidade)


A busca da felicidade

- Me lembro que uma das coisas que mais me deixou bolado ao tomar conhecimento da história do jovem Alexander Supertramp - o pseudônimo do norte-americano Chris McCandless, que saiu cortando os Estados Unidos como andarilho com o objetivo de chegar ao Alasca - foi a mensagem que ele nos deixou ao final de sua jornada de busca pela felicidade (ele chegou ao Alasca): "happiness only real when shared". Após dois anos perambulando à margem da sociedade, McCandless descobriu que os momentos de felicidade que mais marcaram pra ele foram aqueles nos quais ele estava com outras pessoas. Na época assisti ao filme sobre sua vida - Na Natureza Selvagem (2008) -, li o livro de Jon Krakauer e ouvi por meses a fio a trilha sonora do filme, feita por Eddie Vedder. Fiquei mals por muito tempo com a história de McCandless. Sua aventura se deu entre os anos 1990 e 1992. Em 2008 eu estava perto dos 40 anos e passei um tempo avaliando minha vida, minhas tristezas e infelicidades, e procurando momentos de felicidade e percebi que Chris tinha razão. Os momentos felizes que vinham em minha memória eram momentos de felicidade compartilhada... eu estava com alguém. Estar feliz sozinho é diferente de estar feliz com alguém.

- Me lembro o tempo todo nos últimos dias da história do jovem Jesse Koz e seu fiel amigo Shurastey, seu cão da raça retriever, e também de seu fusca 1978, o Dodongo. Eu não o seguia, não o conhecia, e acabei tomando conhecimento dessa dupla incrível após a notícia do acidente que tirou a vida deles quase chegando ao Alasca, dias atrás (na segunda-feira 23/5/22). Jesse e seu amigo saíram em uma jornada em busca da liberdade e da felicidade em 2017, após o jovem de 24 anos não aguentar mais a rotina massacrante de trabalhador em loja de shopping center em Balneário Camboriú (SC). A dupla e o Dodongo saíram sem destino e assim foram parar no "fim do mundo", em Ushuaia, na Patagônia Argentina, e de lá começaram a aventura pelos Estados brasileiros e pelos países da América do Sul e Central, até que a pandemia de Covid-19 interrompeu a viagem deles. Lá em Ushuaia, Jesse havia definido seu grande objetivo e destino, o Alasca. Nos últimos meses, eles estavam nos Estados Unidos e quase chegaram ao destino final... 

"Life's a Journey, Not a Destination
And I Just Can't Tell Just What Tomorrow Brings
" (Amazing, Aerosmith)

Pois é, após ver diversos vídeos e momentos dessa jornada, a cabeça da gente lida com um turbilhão de pensamentos sobre a vida. Como diz a música da banda Aerosmith "A vida é uma jornada, não um destino...". Tudo que vi até agora me dá a impressão que esse rapaz e seu fiel amigo mostraram ao mundo do capitalismo e da futilidade de tudo o que pode ser a felicidade e a liberdade tão desejadas por quase todo mundo. A vida é a própria jornada, a própria jornada é a vida e ela pode ser feliz. O que mais vi até agora nos vídeos de Jesse e Shurastey é a felicidade pura e simples... eles foram felizes até o último instante de suas vidas, foram 5 anos de felicidade, mais de 80 mil quilômetros de felicidade. Felicidade compartilhada! Compartilhada inclusive com milhares de pessoas que os seguiam.

- Me lembro que ontem passei o dia pensando em uma forma de buscar alguma mudança na vida. Não rolou nada. Faz meses que estou lidando com uma busca por algo. Interessante que essa busca de algo já dura décadas em minha vida. Até adotei quando era jovem o lema da música "I Still Haven't Found What I'm Looking For", da banda irlandesa U2, como uma espécie de metáfora de minha vida: uma busca de algo que ainda não havia encontrado. Na verdade a gente passa a vida em busca da felicidade, da liberdade, da realização de coisas boas para a nossa vida. Olho pra trás e vejo que fiz coisas boas, e fiz coisas ruins também. Mas que foda! As décadas de existência passaram e me pego neste momento com a mesma busca de toda uma vida... e ainda não encontrei a felicidade. Cheguei a achar que havia achado um sentido, um significado para o viver. Até signifiquei mesmo o viver nas últimas décadas. Mas voltei ao início de toda a busca. Lógico que falo da felicidade sem nenhuma ilusão de uma felicidade permanente. Não estou feliz. Muita coisa faz parte desse sentimento. Não conseguiria ser feliz com a cabeça que tenho hoje, com a miséria e a destruição das pessoas e do mundo como estamos vendo neste momento da história do Brasil e do mundo. Cada um, cada um. Estou infeliz ou triste, ou os dois... mas não desisti. Sigo buscando.

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Não sonhei solução alguma para a minha mudança de estado. Aliás, sonhei com os contextos aos quais vivi e pertenci e já não pertenço mais. Jesse e Shurastey são uma das coisas mais fantásticas que poderíamos conhecer neste momento macabro do mundo e do capitalismo que coisifica tudo.


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