domingo, 1 de setembro de 2019

010919 - Diário e reflexões




Refeição Cultural

O domingo está acabando. Choveu o dia inteiro aqui em Osasco. O sábado foi diferente: calor e sol forte. Aproveitei para correr 5k e salvar minha vida, tentando diminuir minha pressão arterial com uma atividade aeróbica.

Tenho muitas dúvidas se foi certa ou errada a atitude de voltar a estudar aos cinquenta anos de idade. Acho que voltei aos bancos escolares por birra, por frustração de não ter podido fazer minha graduação em Letras na USP como gostaria de ter feito.

Neste momento maduro de minha vida é muito vexatório e sem sentido eu participar de aulas de análise de obras literárias de autores latino-americanos sem ter lido os textos anteriormente às classes. Essa vergonha eu sentia quando conciliava o trabalho e a militância com as aulas noturnas. Porém, de novo, não tenho conseguido ler o necessário.

Para a aula de quarta-feira passada, era para termos lido El espíritu de la ciencia-ficción, romance de Roberto Bolaño lançado em 2016. O autor chileno, que também viveu no México e Espanha, faleceu em 2003 aos 50 anos de idade. Hoje é considerado um clássico e um dos principais escritores latino-americanos do século XX. Diversas obras dele foram lançadas após seu falecimento precoce.

Eu havia lido um pouco menos da metade do livro quando assisti à aula. Me senti muito mal por isso, até porque conheço a professora de longa data. Temos que ler outro romance dele - Monsieur Pain - para a aula que teremos na quarta-feira 11. Eu peguei o romance anterior e comecei a ler novamente neste fim de semana e parei por cansaço há pouco. já estou na página 134 e devo finalizar a leitura amanhã.

Tenho diversos livros para ler neste semestre de aulas, livros de poesia brasileira e livros de literatura latino-americana. A dificuldade de realizar as leituras é fruto de um conjunto de coisas como, por exemplo, falta de foco em relação ao tempo, pois acabo dedicando boa parte de meu tempo ao mundo da política, para a qual me dediquei a vida toda.

Enfim, posso pelo menos dizer que estou vivo e ganhando conhecimento novo. Isso é bom em tempos de caça e destruição a todas as formas de saber e educação, por parte do novo regime nazifascista instalado no país após o golpe de Estado em 2016.

Sigamos estudando e tentando ser menos ignorantes que antes.

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Post Scriptum:

Interessante: só conheci Bolaño em 2019. 

Olhando papéis velhos, encontrei uma excelente matéria sobre ele no caderno "Eu & Fim de semana", do Valor de 7, 8 e 9 de outubro de 2011. O artigo é de Francisco Quinteiro Pires que nos apresenta a tradutora Natasha Wimmer, responsável por tornar Bolaño um dos latino-americanos preferidos dos norte-americanos.

Excertos do artigo:

"'Como observo de dentro do fenômeno, tenho dificuldades de entender por que Bolaño se tornou canônico', diz Natasha. 'Quando se referem a ele como um marco cultural, ainda sinto calafrios'. O espanto da tradutora com a celebridade do ficcionista vem da recordação de um indivíduo pobre e doente que rejeitou com fúria o establishment literário."

Bolaño afirmava que era "mais feliz lendo do que escrevendo".

Gostava de Nicanor Parra e Jorge Luis Borges e detestava G. G. Márquez, Isabel Allende e Paulo Coelho. 

O artigo cita o romance "Noturno do Chile" como o mais bem acabado dos livros de Bolaño. Achei a obra muito diferenciada em relação aos modelos tradicionais de romances. 

A tradutora se diz fascinada com o ritmo da prosa do escritor, considerada de difícil transposição para o inglês. "Aprendi a aceitar que o estilo de Bolaño nunca é previsível e às vezes pode ser estranho de propósito."

O uso livre da linguagem, que incorpora regionalismos, é a maior característica do autor chileno. Bolaño dizia ser a língua espanhola a sua terra natal.



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