domingo, 22 de setembro de 2019

220919 - Diário e reflexões


A sombra da resiliência.

Post Scriptum, a título de epigrama 
(em 23/9/19, às 12h47)

"Passagem da noite

(...)
Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias,
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!"

(A rosa do povo, 1945, Carlos Drummond de Andrade)


Preciso mudar alguma coisa na minha vida. Hoje. Amanhã. Depois de amanhã. Vejo as pessoas queridas com grandes sofrimentos. Tenho que estar pronto para suportar todas as tristezas do mundo. Depressões diversas tomam conta da psique das pessoas que estimo e que me dão sentido para viver. Eu próprio convivi com os altos e baixos de algum tipo de depressão ao longo de décadas. Não penso mais em suicídio há muito tempo, desde que me engajei em projetos pessoais e coletivos de existência. Sobrevivi. Mesmo a tristeza nunca tendo me abandonado, segui realizando coisas. Acredito que valeu a pena ter sobrevivido até aqui porque não fiz mal intencional a ninguém. Quando magoei pessoas foi em meus momentos de fúria. E vivo, participei de ações coletivas que contribuíram para a vida de várias gentes, ainda que isso não seja sequer percebido pelas pessoas da classe trabalhadora onde atuei. E vivo, busquei resgatar de alguma forma os danos e mágoas que causei a pessoas em momentos de fúria. Tudo muda o tempo todo. Mudança é o instante que estamos, é o instante que vem. Se não participei do exame de faixa hoje é porque uma lesão mudou a minha agenda para o domingo que termina. Se não corro há vários dias é porque faço outro esporte que me lesionou o pé e me impediu de seguir correndo diariamente para baixar a pressão arterial que mudou por causa de vários fatores nos últimos tempos, incluindo desleixo alimentar, mudanças no corpo que envelhece e caminha para o seu fim em alguns dias, meses, anos, dezenas de anos. Tudo muda a todo instante. Se estou lendo diversos textos obrigatórios de graduação em Letras é porque a Universidade me aceitou de volta. Se não estou lendo os clássicos que gostaria é porque os textos obrigatórios dominam o meu tempo de leitura. Fazer o que? Tudo é mudança na vida, até daquilo que planejamos. Num dia você acorda e vai até a Universidade e faz um pedido e é aceito e tudo muda. Ontem, o Brasil era soberano, pesquisas apontavam o povo feliz, os governantes pensavam e reverberavam agendas de paz, de amor, de solidariedade. Distribuía-se renda. Mudou. Mudou-se tudo por golpe, envenenaram o povo com mentiras, com peçonha, com manipulação. Hoje, a agenda é ódio, é arma bala assassinato. Educação e ciência são inimigas dos homens do ódio no poder. Ironia do destino: tudo em nome de Deus: mata-se índio, criança, florestas, negros, gays, pobres; pessoas que defendem partilhar riquezas e direitos são inimigas a serem caçadas por seguidores de Deus. Amém? Amém o caralho! É preciso derrubar do poder esses fascistas desgraçados que roubaram a alegria, a esperança e o futuro dos brasileiros. Tenho que mudar algo hoje. Amanhã. Depois de amanhã. Não posso cair. Tenho que respirar, comer, acordar e deitar. Não sei como ajudar os meus entes queridos que estão sofrendo do coração, da psique, da alma. As pessoas sensíveis ao caos estão sofrendo, desiludidas com o amanhã que lhes foi roubado. Se pudesse, daria esperança a elas. Mas isso é experiência muito pessoal. Tenho que mudar. Alguma coisa é preciso mudar para seguir. Sobreviver é preciso porque amamos pessoas. Não sei, mas algo precisa mudar. Eu desejo que cada pessoa que sofre neste momento com toda a maldade e destruição que lhe tenham nublado o presente e o futuro, que resista, que respire, coma, acorde e deite. O amanhã é sempre um começar e o fim do dia pode trazer algo de mudança. Eu vi isso acontecer por décadas, vi porque sobrevivi ao tempo de cinquenta anos nesse mundo perigoso de se viver. Filho, eu te amo! Desejo a você amanhãs de alegrias, amanhãs de descobertas, dias de resistência, como seus personagens favoritos dizem. Mãezinha, siga resistente, siga agarrada à vida. Pai, resista a essas dores que lhe abatem a paciência e a tolerância. Encontre a cordialidade em meio a essas dores, mesmo sendo tão difícil. Todos estamos com muita raiva do mundo, de tudo. Resistamos todos em meio a tanta tristeza, em meio a tanta mudança em tão pouco tempo. Eu vou mudar algo. Mas não vou perder minha essência que evoluiu com a experiência da vivência. Temos que ser bons e viver para o bem. 

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