segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Teoria Literária II - Leitura Analítica, Leitura da Lírica (I)



Uma das entradas de nossa Faculdade de Letras, na USP.

(Atualização do texto em 14/10/19)

Refeição Cultural

Esta postagem se refere a anotações feitas por mim em sala de aula, aulas com o Professor Ariovaldo Vital, da disciplina de "Teoria Literária II", matéria na qual estudaremos a leitura de poesias ao longo do semestre.

As anotações são de minha inteira responsabilidade. Qualquer equívoco conceitual pode ser corrigido pelo(a) leitor(a) buscando outras fontes sobre o tema conflitante. Aqui é um espaço de compartilhamento gratuito de informações e conhecimento, dentro do conceito Wiki: What I Know Is.

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Aula de 06/08/19

A leitura de um poema é sempre um desafio ao leitor. Leitura crítica, é claro!

Ler não é o mesmo que analisar de forma crítica. A leitura crítica requer um exercício constante de leitura de poemas.

O professor brincou conosco dizendo que o poema não se entrega aos leitores de forma automática. O poema pergunta ao leitor: você trouxe a chave?

A pergunta sobre a chave é uma referência ao poema de Drummond, "A Procura da Poesia", 2º poema do livro de 1945, A Rosa do Povo.

Cada poema exige uma chave diferente. Cada poema novo é uma nova aventura. O poema nunca está sob controle.

O curso versará sobre leitura analítica de poemas. A proposta do curso é o exercício da análise e da interpretação de poemas.

O exercício de leitura de poemas nos dá experiência e melhora a nossa capacidade de compreender os poemas lidos. A metodologia do curso será ler poemas em sala de aula.

O mestre Antonio Candido nos ensinou que professor tem que analisar textos em sala de aula. Candido desenvolveu métodos de leituras de obras literárias. Método é experiência e ler com a experiência dos críticos é o desejável.

O professor Ariovaldo nos disse que os mestres Antonio Candido e Davi Arrigucci Jr. são inspirações para o curso que estamos fazendo.

Vamos ler poesia moderna no curso. Manuel Bandeira, que fez parte do assim chamado 1º modernismo. Carlos Drummond de Andrade, que foi uma espécie de "discípulo" de Bandeira. Até fez para ele um poema homenagem "O chamado".

O professor nos disse que quando João Cabral leu o poema "Não Sei Dançar" de Bandeira, ficou impressionadíssimo. 

Vamos ler também Cecília Meireles, que cronologicamente viria depois de Drummond. A poetisa seria considerada por alguns críticos "delicada", mas rigorosa no verso.

Por fim, vamos ler João Cabral de Melo Neto, o poeta engenheiro, poeta arquiteto, que fez a poesia como profissão de fé, de forma consciente.

Poemas que serão lidos em sala de aula:

- "Encomenda", de Cecília Meireles (1942) - este será o poema das primeiras aulas.

- "Epitáfio da navegadora", de Cecília Meireles (1942)
- "Não sei dançar", de Manuel Bandeira (1926)
- "Pregão turístico do Recife", de João Cabral de Melo Neto (1955)
- "Desfile", de Carlos Drummond de Andrade (1945)

O professor nos diz que não vamos nos debruçar no curso sobre o "ato de criação" dos poemas, que pode ser intuição, sentimento etc. Vamos tratar do poema concreto, no papel, feito.

A título de curiosidade nos foi dito que o poema de Bandeira - "Oração no Saco de Mangaratiba", do livro Libertinagem de 1930, foi feito após um susto que o poeta passou; ele teve medo de morrer afogado atravessando de balsa uma certa região no Rio de Janeiro, com ventos fortes. Foi dormir, sonhou com o ocorrido, acordou e pôs o poema no papel.

Toda leitura crítica de um poema vem acompanhada de uma leitura do todo. Um poema pertence a uma obra e ele dialoga com os outros poemas da obra.

Comentário do blog: isso ficou claro para mim ao ler o primeiro e o segundo livro de Cecília Meireles, Espectro (1919) e Nunca mais... e Poema dos poemas (1923).

O mesmo se dá dentro do poema, cada verso dialoga com o outro e com as estrofes se dá o mesmo. 

O diálogo pode se dar por contraste ou por semelhança.

Antonio Candido

Os diferentes passos da leitura de poesia.

- O comentário
- A análise
- A interpretação

O comentário é um esclarecimento. Comentar é uma atividade prévia à análise e à interpretação. 

Em linhas gerais, o comentário é mais necessário à medida que a obra se afasta do contexto do leitor, são notas que esclarecem o sentido da palavra na época, às vezes uma referência localizada de forma geográfica ou espacial etc.

Nos poemas que veremos em classe seria, por exemplo, como esclarecer o que é "Epitáfio" em "Epitáfio da navegadora" de Meireles, "Pregão" em "Pregão turístico do Recife" de João Cabral etc.

Ir ao léxico, a receita é: nunca deixe de ir ao dicionário para ler um poema.

Objetivo x Subjetivo = o comentário deve ser o que há de mais objetivo possível na significação das palavras.

Outros tipos de comentários: além dos esclarecimentos sobre o léxico, também são necessários esclarecimentos como referências relativas a acontecimentos de época, fatos históricos, história e biografia do autor ou do personagem, dentre outros esclarecimentos que se façam necessários.

Comentário é 100% objetivo? Não. O filtro é do leitor crítico que está lendo o poema. As escolhas na acepção da palavra, a ligação com eventual fato histórico e outras questões que julgar relevantes são filtros do leitor crítico.

Por fim, tudo que entrar no comentário do poema deve ser importante e decisivo para a leitura, análise e interpretação do poema em questão.

É isso para o momento.

William

Post Scriptum: ir para a próxima postagem aqui.

2 comentários:

professora Jéssica de Pádua disse...

muito interessante suas obsevrações, deu vontade de cursar essa disciplina, estou tentando entender com deve ser fazer uma leitura analítica para fazer-la sobre uma poesia mordestinas com toques de poesica concreta de Camara Cascudo, vou buscar comentários sobre a abra para me situar nela. obrigada!

William Mendes disse...

Olá professora Jéssica, como vai? Espero que esteja tudo bem contigo e família.

Essa disciplina contribuiu muito para que eu pudesse lidar um pouquinho melhor com a poesia, porque não sou um exímio leitor de poemas, mas me esforço em ler poemas de vez em quando.

As dicas que anotei foram úteis pra mim. O professor Ariovaldo lia, comentava, analisava e interpretava poemas com tanta facilidade que nos incentivava a tentar fazer o mesmo. São as didáticas da educação que definem nosso gosto por estudar e conhecer.

É isso. Bons estudos, boas leituras e tudo de bom pra ti.

William