sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Teoria Literária II - Leitura Analítica, Leitura da Lírica (II)



Ipês da FFLCH-USP, na
Av. Prof. Luciano Gualberto.

(Atualização do texto em 14/10/19)

Refeição Cultural

Esta postagem se refere a anotações feitas por mim durante as aulas do Professor Ariovaldo Vital, da disciplina de "Teoria Literária II", matéria na qual estamos estudando a leitura de poesias ao longo do semestre.

A interpretação dos ensinamentos, consubstanciada nestas anotações, são de minha inteira responsabilidade. Qualquer equívoco conceitual que eu tenha cometido pode ser sanado pelo(a) leitor(a) buscando-se outras fontes para esclarecer a dúvida ou informação conflitante.

Este é um espaço de compartilhamento gratuito de conhecimento, informações e opiniões, dentro do conceito Wiki (What I Know Is).

--------------------------

Aula de 08/10/19 - Metro e Rima

Questões sobre os teorias do verso

Ritmo, sonoridade, metro, figuras de linguagem, dentre outras.

Post Scriptum: segundo Candido em - O estudo analítico do poema - os fundamentos do poema são: sonoridade, ritmo, metro e verso (CANDIDO, 3ª edição, pág. 9)

Metro - noções gerais

Metro e rima são duas questões que caminham juntas nos poemas, uma depende da outra.

O que é metro? É medida.

Por que falamos de metro? Há uma diferença básica entre prosa e verso. Diferentemente da prosa, o verso tem um metro, uma medida que contribui para o ritmo.

A prosa é contínua, não para, vai embora. É um movimento ininterrupto. 

COMENTÁRIO: pensando a respeito dessa explicação, lembrei-me do livro de Roberto Bolaño que estou lendo Nocturno de Chile (2000). O romance de ficção contém 2 (dois) parágrafos em sua estrutura, um com 111 páginas e outro com uma linha. Nenhum exemplo seria mais perfeito para entender como a prosa pode ser contínua, ir embora, nunca acabar.

O verso não. Ele é marcado. Ele tem medida, tem um metro. Isso favorece o ritmo.

Não é que a prosa não tenha ritmo, mas ele é menos expressivo por ser menos notado.

Na construção civil, o metro serve para medir espaço. Na poesia, serve para medir o tempo.

Vamos entender o metro, analisando uma estrofe do poema "Balada do morto vivo" (1954), de Vinicius de Moraes.

-------------------------
"Um constante balbucio
Como o de alguém muito em mágoa
Parecia vir do rio"
-------------------------

O verso do meio é evidentemente maior (se medirmos com o metro dos pedreiros), mas o que nos interessa é a temporalidade.

O metro do pedreiro é dividido em centímetros; o do poeta é a sílaba.

Escansão: ato de escandir o verso, dividir o verso em unidades silábicas. No dicionário a palavra está definida como ato de decompor um verso em seus elementos métricos.

Um/ cons/tan/te/ bal/bu/ci/o = 8
Co/mo/ o/ de/ al/guém/ mui/to/ em/ má/goa = 11
Pa/re/ci/a/ vir/ do/ ri/o = 8

De início, vemos que temos 8/11/8 sílabas gramaticais.

Porém, na tradição poética, não se conta a última ou últimas sílabas após a última sílaba tônica. É tradição! Ou seja, é uma convenção e não uma norma padrão, por assim dizer.

Contamos as sílabas métricas até a última tônica, e desconsideramos o que vem depois.

O professor comentou que há mestres da linguagem que consideram essa tradição e outros que não a consideram. Citou Manuel Said Ali como um dos grandes filólogos da língua portuguesa que não consideram essa contagem.

No curso, vamos seguir a tradição que predomina com mais vigor.

Um/ cons/tan/te/ bal/bu/ci/o = 7
Co/mo/ o/ de/ al/guém/ mui/to/ em/ /goa = 10
Pa/re/ci/a/ vir/ do/ ri/o = 7

Nesse momento, o professor leu os versos assim como contamos acima 7/10/7. O segundo verso não ficou bom. Ficou sem ritmo.

É necessário unir algumas sílabas gramaticais. Não é só uma questão de unir por unir. O 1º e o 3º verso não apresentam fenômenos passíveis de união como aqueles que veremos no 2º verso. Eles são mais regulares.

mo+o / de+al / to+em

Co/mo o/ de al/guém/ mui/to em/ /goa = 7

AGORA SIM, o verso é espacialmente maior, mas tem o mesmo número de unidades temporais; os 3 versos, agora, são regulares, têm o mesmo tempo.

Um/ cons/tan/te/ bal/bu/ci/o = 7
Co/mo o/ de al/guém/ mui/to em/ /goa = 7
Pa/re/ci/a/ vir/ do/ ri/o = 7

A estrofe agora tem o mesmo número de sílabas poéticas.

Agora, sabemos que os 3 versos têm uma certa regularidade, são de feição clássica. O que é clássico tende à regularidade.

LOGO, ao analisar essa estrofe do poema, temos que nos atentar para o que foge à regularidade. Dos 3 versos, qual seria o mais importante? O verso central, pois ele traz elementos de atenção.

O poeta deixou o verso maior para enfatizar o plano do sentido.

Vejamos as nasais: Mo/ guéM/ Mui/ eM/ Má/ (criam uma espécie de imitação do som - m m m m m)

DICA: sempre que observarmos irregularidades na leitura do poema, é bom verificarmos se não é possível ligá-las ao plano do sentido no poema, como ocorre no verso central em análise.

-------------------------

A aula seguirá numa próxima postagem onde o professor vai descrever alguns fenômenos de junção de sílabas e vogais. Leia a sequência aqui.

William

-------------------------

Post Scriptum: as releituras da postagem são importantes, além de poder revisar os conceitos, já que estou estudando eles, é possível corrigir erros na língua padrão. Ao reler o texto pela enésima vez em 14/10/19, encontrei um erro de português. Não sou infalível, sou um aprendiz até o último dia de minha vida.

Nenhum comentário: