quarta-feira, 2 de outubro de 2019

021019 - Diários e reflexões



Flores, porque elas estão por aí.

Refeição Cultural

Perceber a aparente paz no cotidiano de destruição que nos cerca nos dá um sentimento de impotência do tamanho do Universo. A previdência pública segue sendo destruída. Ontem, com o apoio e voto de cinquenta e poucos animais humanos muito egocêntricos e canalhas, movidos a moedas e desejos de poder político, poder muitas vezes alimentado às custas do sangue de alheios miseráveis, o povo bárbaro que habita essas terras: bolsonaristas e macunaímas (talvez haja uma parcela de inocentes e bestas, talvez). Silêncio e paz nos logradouros de cinco mil, quinhentos e setenta municípios do território ocupado por essa gente. 

Aliás, o silêncio pode ser interrompido nesta noite por movimentos humanos apaixonados por causas coletivas segmentadas (não, não será pela previdência pública perdida!): hoje tem flamenguistas e gremistas em campo disputando o campeonato de futebol cujo nome remete a um conceito de independência de territórios invadidos e colonizados por espanhóis no passado, campeonato que de forma coerente com os tempos do fim do mundo decidiu ano passado levar a final da tal Copa Libertadores da América para ser realizada na ex-metrópole conquistadora das Américas. Nas Américas as senzalas sempre reverenciam as casas grandes, afinal de contas os animais humanos não querem mudar o sistema, só querem mudar de lado no sistema vigente. Que nos importa a previdência? Somos todos empreendedores de shopping-trem e uber-empresários.

A vida é sempre um instante, nós animais não podemos perder isso de vista. Mas perdemos, o tempo todo. Estão aí as ferramentas do sistema para nos entorpecer, nos direcionar, nos induzir pautas e nos esconder pautas. Por que a vida é um instante? Porque num momento estamos aqui, noutro não estamos mais. Ontem, poderia ter recebido uma notícia de minha mãe não estar mais entre nós. Nossa terra bárbara produz eventos que podem infartar pessoas o tempo todo. Ao atender o telefone, vieram as ameaças de morte ao ente querido supostamente sequestrado com arma na cabeça e gritos de ofensa "vagabunda!" "puta velha!" ou coisas do tipo sendo ditas a uma senhora de 73 anos, que chorava e clamava para que não matassem a filha porque ela não tinha dinheiro... Essa é nossa terra bárbara. Minha mãe não infartou com a ligação de falso sequestro ontem. São bárbaros na rua, são bárbaros nas instâncias oficiais do poder. Barbaridades de nossa vida de cão! (porra, muitos cães têm vida melhor do que a dos animais humanos)

Como não se tornar um bárbaro com tanta raiva, tanta desesperança, tanta frustração e agressão, e humilhações cotidianas, tanto por parte daqueles que poderíamos definir como inimigos e adversários - numa gradação política -, quanto por parte do nosso meio cotidiano, com humilhações e decepções vindas das relações horizontais de nosso mundinho, do universo de nós mesmos, macunaímas e bolsonaristas?

Uma cena ficou martelando em meu cérebro nos últimos dias. Aconteceu no elevador do prédio onde moro. Um garoto de uns sete ou oito anos conversava com o pai enquanto subíamos. O pai o convidou para irem ao cinema e o garoto recusou alegando que demorava muito. Pelo que entendemos, o pai e eu no meu canto, o menino quis dizer que o filme demorava muito e ele tinha outras coisas a fazer. Talvez jogos virtuais. Não consigo parar de pensar no amanhã que poderá vir a existir com esses animais humanos que nos tornamos: sem paciência, sem tempo para a reflexão, sem resistência para o aprendizado que requer tempo matutado, mastigado nos meandros do cérebro. O que de bárbaro ainda está por vir?

Chega!

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