Ver um ipê branco florido é uma boa referência sobre a brevidade das coisas. É um instante e só! Se você não observar quando viu, já era! |
Refeição Cultural
Fiquei pensativo após ler um texto crítico sobre os movimentos poéticos no mundo ocidental e a questão das tradições e rupturas nas poéticas. O texto do poeta, ensaísta e crítico literário Octavio Paz tratou das diversas maneiras como as sociedades primitivas e a atual lidam com a temporalidade, com o passado, presente e futuro, e o texto é muito reflexivo. Ler comentários aqui.
Para fechar meu dia de leituras na sexta-feira, revi na madrugada o filme "Uma história real" (1999), de David Lynch, que retrata a história do norte-americano Alvin Straight, que nos anos noventa percorreu 390 km de estradas em um cortador de gramas para ver e reatar a relação com seu irmão que havia sofrido um derrame. Alvim realizou essa façanha com 73 anos de idade, com artrite, sem enxergar bem e não quis ajuda de ninguém para ir até lá. Ler a respeito aqui.
Parece-me que o senhor Tempo lembrou-se de mim com o passar do tempo e agora ele já me pauta os dias, o corpo, a mente. O texto de Octavio Paz explica aos leitores que, por um lado, certos tipos de sociedades e concepções religiosas lidam com o futuro baseando as perspectivas possíveis (ou únicas) como eternos retornos e voltas ao passado, gerando uma forma determinista de não-mudança; de maneira inversa, a concepção antagônica moderna de rupturas com as tradições, após o século XVIII, nos apresenta o futuro como o incerto e a certeza de mudanças em relação ao passado. Enfim, eterna volta ao passado ou a mudança como certeza de futuro, devo me situar talvez entre uma das visões de futuro possíveis.
Aos cinquenta anos de idade, tendo características pessoais de inconformidade com as coisas e com a curiosidade filosófica dos porquês das coisas serem como são, já acreditei em quase tudo nessa existência, quase tudo. Hoje não mais. Sou um animal humano desencantado com as soluções inteligentes, confesso, que a mente humana criou para explicar ou conformar o mundo com uma certa lógica justificável para as tragédias da vida e para o não sentido das coisas: religiões. As coisas são como são e são resultado de eventos naturais e de eventos impulsionados por aqueles que alteram a natureza de forma racional: animal humano.
Os tempos são de mudanças para o futuro. Essa afirmação é uma espécie de brincadeira, depois de ler Octavio Paz ontem. Os tempos são de exílio, de solidão. Essa afirmação sim é baseada na minha leitura da realidade. Após uma vida pertencente a alguma coisa, agora já não pertenço a quase nada. Não caibo mais na política de onde vim. Não caibo mais na família de onde vim. Não caibo mais no que viraram o país e povo que amava (de onde vim). Como disse, os tempos serão de solidão, daqui para o fim certo.
Mas atenção, o fim certo é tanto o instante seguinte como décadas adiante. Viver é preciso! Viver é bom! Viver é ver ipês, é ver pores do sol nunca iguais. Viver é o imponderável amanhã. Então, é territorializar-se novamente em algum lugar, é pertencer a algo a se criar. Viver e ser, pois as coisas são como são.
William
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