sábado, 12 de outubro de 2019

Teoria Literária II - Leitura Analítica, Leitura da Lírica (III)


Relógio da USP, na área em frente à FFLCH.


(Atualização em 14/10/19)

Refeição Cultural

Esta postagem se refere a anotações feitas por mim durante as aulas do Professor Ariovaldo Vital, da disciplina de "Teoria Literária II", matéria na qual estamos estudando a leitura de poesias ao longo do semestre.

A interpretação dos ensinamentos, consubstanciada nestas anotações, é de minha inteira responsabilidade. Qualquer equívoco conceitual que eu tenha cometido pode ser sanado pelo(a) leitor(a) buscando-se outras fontes para esclarecer a dúvida ou informação conflitante.

Este é um espaço de compartilhamento gratuito de conhecimento, informações e opiniões, dentro do conceito Wiki (What I Know Is).


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Aula de 08/10/19 (Continuação I)

Veja aqui a postagem anterior que tratou principalmente da questão do metro. Agora vamos ver alguns fenômenos de junção de sílabas e vogais nas poesias.

Retomando a estrofe do poema "Balada do morto vivo" (1954), de Vinicius de Moraes:


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"Um/ cons/tan/te/ bal/bu/ci/o = 7
Co/mo o/ de al/guém/ mui/to em/ /goa = 7
Pa/re/ci/a/ vir/ do/ ri/o" = 7

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Para as conceituações, recorro à Moderna Gramática Portuguesa, do Professor Evanildo Bechara, 37ª Edição Revista e Ampliada, Editora Lucerna, Rio de Janeiro, 2006. Alguns casos abaixo, utilizei também conceitos do site Recanto das Letras.


- CRASE = mo+o 

Fusão de dois ou mais sons iguais num só, como acima (Bechara).


- SINALEFA = de+al /deal/ e to+em /toem/

Junta-se as duas vogais e ouve-se os dois sons. 

Na gramática de Evanildo Bechara está dito que é a perda de autonomia de uma vogal para tornar-se semivogal e, assim, constituir um ditongo com a vogal seguinte.


- ELISÃO = é o desaparecimento de uma vogal quando pronunciada junto de outra vogal diferente:

O exemplo dado pelo Professor Ariovaldo foi um verso do poema "O elefante" de Drummond:

"Fabrico um elefante"

Fa/bri/co/ um/ e/le/fan/te = 7

Fa/bri/cum/e/le/fan/te = 6


- AFÉRESE = é a supressão de uma forma no início do vocábulo. Exemplo em Castro Alves:

"Es/ta/mos": em um verso de 11 sílabas poéticas, o verso ficaria com 10 sílabas com o uso da forma "'Sta/mos".


- SÍNCOPE = é a supressão de um fonema no meio do vocábulo. Um exemplo em Camões:

"inimigo" = "imigo" ou "maior" = "mor".

Também temos as proparoxítonas que perdem sílabas: "séculos" = "séc'los". Esses procedimentos foram mantidos pelos poetas do Modernismo Brasileiro.


- APÓCOPE = é a supressão de um fonema no fim do vocábulo. Um exemplo do Parnasianismo:

"mármore" = "mármor"

RESUMO: Supressão da vogal:

No início = Aférese
No meio = Síncope
No fim = Apócope

CURIOSIDADE: o poeta João Cabral de Melo Neto, no Modernismo, não suprime a vogal, mas ele não considera a sílaba.

CURIOSIDADE 2: proparoxítonas são palavras difíceis de serem pronunciadas. Por isso, muitas vezes a pronúncia é contada como paroxítona:

Ex: Lâmpada = Lâm / pada (não se considera "pada" como 2 sílabas e sim como uma só).


TENDÊNCIAS

O professor explica algumas tendências na língua portuguesa em relação aos versos:

2 vogais átonas = a tendência é de juntarem-se.

2 vogais, sendo uma tônica = a tendência é não juntarem-se. 

2 vogais tônicas = elas não se juntam.

DICA: Ao analisar os versos de um poema, veja primeiro os versos que não têm encontros vocálicos e depois veja os versos que têm esses fenômenos para avaliar caso a caso.

No Brasil, até o Modernismo, os poetas estavam obrigados à regularidade. Havia procedimentos e licenças poéticas para que os poemas estivessem dentro das normas de regularidade.

Drummond, por exemplo, seus versos têm regularidade, mas são irregulares quanto ao metro. Os poetas modernos têm ritmo muito marcante. Os poetas têm liberdades que antes não eram aceitas.

Na modernidade a preocupação passou a ser o ritmo.

Ao analisar um poema não metrificado com regularidade, identificar o que estaria "estranho", porque o diferente pode indicar coisas interessantes no plano dos sentidos.


QUANDO UM DITONGO VIRA HIATO E UM HIATO VIRA DITONGO

"hiato" é um hiato e "dói" é um ditongo. Mas há exceções diversas, licenças poéticas de autores e obras.

- SINÉRESE = quando um hiato é transformado em ditongo.

Ex: em Augusto Gil, poeta português do século XIX:

"mas/ o/ seu/ o/lhar/ ma/go/a/do, = 8 (7)
tão/ ma/go/a/do,/ tão/ lin/do," = 7

O hiato deve ser lido como ditongo no 1º ma/goa/do.

Por que? Vamos lembrar a dica de sempre verificar o verso no qual a metrificação está diferente da regularidade. Lembrar também o que o professor nos fala, que um poema é feito de sequências de equivalências.

O 2º verso é mais cadenciado, mais lento, temos até a palavra "tão". O 2º verso enfatiza o 1º verso, está no plano do sentido do poema:

tão ma/go/a/do
tão lin/do


- DIÉRESE = é quando um ditongo é transformado em hiato. É algo bem mais raro, o professor nos disse.

A palavra "sau/da/de", de 3 sílabas, pode ser usada pelo poeta com o som de 4 sílabas: "sa/u/da/de".

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A sequência final dessa aula vai tratar do ritmo. Será outra postagem: veja aqui.

William

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