quinta-feira, 17 de outubro de 2019

171019 - Diário e reflexões (Fluxo de pensamento)



As democracias resistem ao desequilíbrio
das máquinas de mentiras do Capital?

Refeição Cultural

Fim da democracia representativa

Com a chegada das tecnologias de desinformação em massa e manipulação de comportamentos dos seres humanos, estaríamos caminhando para o fim da política, da democracia representativa, da convivência pacífica regulada pela mediação das instituições dos estados burgueses como tivemos nos últimos dois séculos? Não sei se a humanidade conseguirá reverter a corrosão acelerada da sociabilidade mediada por instituições sociais, da forma como convivemos na sociedade ocidental no atual período da existência humana. Sei não. (Sem inocência, tá? Eu sei que o conceito de "convivência pacífica" que disse acima é uma construção ideológica capitalista, que quer dizer os donos do poder terem direitos de manterem tudo para si e o restante ter alguma migalha do todo, de acordo com os avanços e lutas de cada grupamento chamado de nome A ou B, um nome de Estado, de cidade etc.)

Estou procrastinando para começar a fazer o trabalho de conclusão de uma disciplina da graduação da faculdade de Letras porque tenho a consciência que meu conhecimento é menor do que eu gostaria para realizar a tarefa com a exigência que sempre cobrei de mim mesmo para qualquer coisa que me dispus a fazer nessa vida. Meu conhecimento inadequado não é por falta de capacidade para chegar ao nível que eu exigiria de mim mesmo, não é isso. A questão é outra. Estou empenhado nas tarefas acadêmicas de forma incompleta porque só parte de mim cumpre com as obrigações de aquisição de novos conhecimentos. Outra parte me bloqueia, me suga para o redemoinho que tem levado a sociedade humana e todas as suas instituições políticas para o buraco. Foi do espaço da política que vim, que vivi a vida toda, da busca da igualdade e de uma vida mais justa a partir das mudanças pela política, pela democracia. A consciência política é um caminho sem volta. A gente morre todo dia ao ver matarem a política, e com ela matarem a sociabilidade possível para o animal humano. A outra alternativa é a dos animais em geral, é o estado de natureza como nos ensinou Hobbes. Nele vale tudo. Eu gosto da alegoria dos filmes distópicos de humanos infectados com vírus de raiva que os fazem zumbis que caçam e destroem aqueles que ainda são humanos. Estamos caminhando para isso? Zumbis infectados com ódio mordendo e eliminando o outro? grr grrhum.

Os animais grotescos e incivilizados (humanos?) que invadiram os espaços de política no Brasil após o golpe de Estado em 2016 são consequência de um processo de destruição da política que se acelerou na última década no mundo todo. Vários documentários estão disponíveis para qualquer pessoa que queira entender o que se passou neste início de século 21 com as redes sociais que foram disponibilizadas para os bilhões de seres humanos e que depois se tornaram espaços de experimentos de manipulação de comportamentos em massas com alta tecnologia de algoritmos. Muita coisa mudou com as novas tecnologias, menos uma: tem mais capacidade de manipular quem tem mais capacidade de recursos, e isso pode nos levar a níveis insuportáveis ou insustentáveis de manutenção da vida social como tivemos até agora.

Daqui três dias ocorrem as eleições presidenciais na Bolívia. O candidato favorito é o índio Evo Morales, líder popular e atual mandatário do país. As notícias que nos chegam é que começam nesse momento os ataques maquinais de fake news para buscarem alterar completamente as prováveis tendências dos sentimentos da população boliviana. Durante um prazo calculado, zilhões de mensagens destruidoras invadem todas as redes sociais de toda a população causando uma total catarse nos sentimentos normais das pessoas. Evo Morales teria contas no exterior com bilhões de dinheiros roubados do Estado. Ele seria estuprador e teria filhos com moças menores de idade. A Bolívia seria destruída pela miséria se ele for eleito. São overdoses ininterruptas de mentiras antes que as pessoas saiam de suas casas para se dirigirem às urnas. Essas ferramentas vêm sendo experimentadas há mais de uma década e o nível de aperfeiçoamento já inviabilizou a democracia representativa como a sociedade ocidental se organizou por mais de um século.

No Brasil, os seres grotescos que invadiram os parlamentos e os executivos, pessoas nunca vistas nos espaços de representação política que organizavam com acertos e erros a nossa jovem democracia, são consequência de processos idênticos ao que citei acima. Os desvios da representação real da sociedade já aconteciam, é verdade, porque de forma irresponsável os meios tradicionais de informação, as mídias comerciais monopolizadas, já deturpam a democracia representativa porque são veículos de comunicação cujos donos são os próprios endinheirados ou porque os veículos são sustentados pelos donos dos recursos que lhes cobram o apoio nos processos eleitorais. Mas a deturpação da representatividade social com os mecanismos de destruição massiva de reputações manuseados por máquinas que chegam a cada eleitor, ininterruptamente, com as mentiras mais absurdas em momentos episódicos como dias anteriores a processos eleitorais matou a democracia. Não há antídoto para o efeito das fake news em processos eleitorais, justamente porque eleições são processos episódicos, que se dão em determinado tempo e acabou-se, já era! Não tem volta!

Que fazer? O cérebro não para de matutar em busca de uma solução para o mundo (que coisa grandiosa, heim?). Depois desse processo de destruição da democracia representativa, perdi até a fé em processos eleitorais nos quais temos direitos e obrigações como cidadãos que pertencemos a determinados grupos sociais como, por exemplo, o local geográfico em que vivemos no mundo e as comunidades corporativas e de afinidades às quais pertencemos. Minha última experiência como dirigente eleito num espaço de representação social foi muito dura. As experiências que citei acima já vinham ganhando escala nos últimos anos quando inventaram processos de destruição de minha história e de minha reputação. Felizmente, só me atingiram na esfera eleitoral, não na esfera cível e trabalhista, pois as mentiras eram infundadas e fizeram parte da má política desenvolvida por adversários políticos, com o uso da máquina burocrática do espaço onde atuei: lawfare. No entanto, as possibilidades de ataques e destruição de adversários avança de forma geométrica como mostram as novidades tecnológicas que estão por vir, principalmente quando se tratam de processos de mentiras com objetivos eleitorais, marcados no tempo e episódicos como disse. As deepfakes terão capacidades infinitamente maiores que as fake news que conhecemos. Os aplicativos e a Inteligência Artificial possibilitarão áudios e vídeos montados com imagem, voz e características das pessoas a serem atingidas. Como viveremos em sociedade assim? Como? Pior: sem órgãos de justiça para recorrer, pois eles estão sendo dominados pelos mesmos grupos que aplicam os processos descritos acima...

Chega de matutar por hoje!

William

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