quinta-feira, 26 de setembro de 2019

260919 - Diário e reflexões



Não está nos céus nossa salvação...

Refeição Cultural

Fiquei pensativo ao ouvir as explicações da professora Adriana sobre as temáticas envolvidas na obra de Margo Glantz, Las Genealogías (aula desta quinta de manhã). São tratadas na obra questões profundas de memória, de história pessoal e coletiva, de exílios, chegadas e partidas; do lugar de cada um num espaço-mundo e da ausência de lugar; a questão do pertencimento, quem somos, de onde viemos e a que nos ligamos; fiquei pensando num monte de coisas neste momento: em meu filho, meus sobrinhos e os amigos deles, na juventude brasileira cujas perspectivas de futuro estão sendo destruídas; fiquei pensando nos meus entes queridos, o vírus inoculado em nós pelos estrategistas do capital destruíram até a hipotética sociabilidade das famílias: estamos muito sós, sem família, sem amigos, só telas de ódio e mentiras; ando sofrendo pela destruição do nosso país e de nossas históricas construções coletivas - patrimônios públicos, direitos sociais, sociabilidade e tolerância com a alteridade; pensando no fim do Banco do Brasil e de nossa autogestão em saúde - a Cassi. O inimigo está tão à vontade que não esconde saber que não estamos organizados para resistir; pelo contrário, sabe que o vírus do ódio e da discórdia contagiou a todos e não haverá unidade alguma naquela fauna da comunidade atacada. Onde é o nosso lugar em meio a tudo isso? Como lidar com a percepção da chegada do fim de tanta coisa, inclusive das vidas, sem que tenhamos potência para reverter tudo isso ou ao menos reter a destruição do que sobrou neste minuto? Se tem uma imagem que poderia ilustrar bem o que viramos após a inoculação do vírus da raiva, seria a daqueles corpos de humanos na forma de zumbis ou bestas-feras que gritam e mordem aqueles ainda não infectados que aparecem nos filmes de suspense e terror. Sintomas de fim da humanidade. Sem diálogo possível, grrr nnmmhh.

Não vou me deixar matar. Sabemos que sozinhos somos vulneráveis, os corpos de humanos infectados pelo ódio na forma de zumbis chegam aos montes, gritando e nos mordem e nos comem. Mas não vou me deixar matar. Como no Guerra dos Mundos, o inimigo é muito poderoso, quase indestrutível, e estamos sozinhos, mas o amanhã sempre existe, para quem está vivo. Os inimigos podem cair também, pois os desgraçados são reles animais, eles também sangram, como todos nós. Vírus pega todo mundo (ainda mais na nova idade média sem vacina), se não é o vírus que nos infecta que os devoram, os devoram as bestas-feras resultantes do vírus. Não podemos nos deixar matar. Resistir, mesmo sozinhos, já que não cabemos mais nos lugares aos quais pertencíamos.

Post Scriptum (28/9/19): e por falar em não cabermos mais nos lugares aos quais pertencíamos, os tempos são de inversões totais. Num evento num espaço ao qual pertencia, um dos palestrantes tentou me calar quando era dirigente, me perseguiu de forma desleal. Outro palestrante foi pivô de um imbróglio na gestão na qual eu participava, que me trouxe muitos dissabores, um dos envolvidos no imbróglio era o primeiro palestrante. Um terceiro palestrante foi destacado num momento de crise na gestão em que atuávamos para dar uma opinião "técnica" na forma de ameaça e terror, caso os eleitos não aceitassem as propostas do patrão. É interessante, adversários que enfrentei em nome dos trabalhadores hoje viram palestrantes no espaço de onde saí. Fico imaginando que dia o dr. Moro vai ser convidado para dar palestra em eventos jurídicos no partido do ex-presidente Lula. (preciso esquecer essas agulhadas embaixo de minhas unhas, senão não consigo fazer nada, ler escrever tentar ser feliz)

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