segunda-feira, 9 de setembro de 2019

Leitura: Poéticas da transgressão (2006), de Viviana Gelado





Refeição Cultural

Leitura e fichamento de um capítulo do livro "Poéticas da Transgressão: Vanguarda e Cultura Popular nos anos 20 na América Latina", de autoria de Viviana Gelado, leitura que compõe o programa da disciplina "Vanguardias y Contemporaneidad", matéria da graduação de Letras, ministrada pela professora doutora Idalia M. Arnaiz.

O Manifesto como gênero discursivo, manifesto da vanguarda europeia e latino-americana

A noção de manifesto como gênero discursivo

"Em sua abarcadora e minuciosa obra, Marc Angenot caracteriza o manifesto como gênero demonstrativo adjacente ao panfleto e à polêmica, escritos com os quais o manifesto compartilha a brevidade e o caráter de interpelação. Neste sentido, são características funcionais comuns a estes três gêneros: a tomada de posição de seu(s) assinante(s); o consequente requerimento perante o público de aderir ou de explicitar o desacordo; o cariz performático do discurso, que significa a assunção de um risco e expressa um juramento ou promessa por parte do(s) signatário(s); e a presença de momentos agonísticos ou refutativos."

Segundo Renato Poggioli, "manifesto" e "programa" seriam diferentes, mas para a autora isso na prática seria de difícil aplicação nas estéticas vanguardistas.

Gelado sobre Poggioli: "Com efeito, alude aos manifestos como 'documentos consistentes en preceptos de índole artística y estética'; enquanto que os programas seriam 'las declaraciones ideológicas más generales y más vastas, visiones de panoramas de conjunto'."

Para Gelado, "na práxis escriturária vanguardista, manifesto e programa se articulam, na maioria dos casos, indissoluvelmente."

- Ready mades, assinados por Duchamp: "caracterizando-os como produtos nos quais 'el acto de provocación mismo ocupa el puesto de la obra'."

Esta mesma afirmação acima "poderia fazer-se com relação aos manifestos da vanguarda, posto que se os manifestos são interpretados apenas como declaração de princípios ou enumeração preceptiva dos valores estéticos defendidos por um grupo ou autor individual, perdem boa parte do seu poder questionador da instituição social da arte."

Antes de Bürger, Mario de Micheli: "ao referir-se aos manifestos dadaístas, já apontava que, posto que o dadaísmo surgiu no cenário artístico após o cubismo, o futurismo e o abstracionismo, são reconhecíveis em sua 'arte' elementos dos movimentos precedentes, no entanto, estes elementos são utilizados como materiais para o exercício de uma crítica de base negativista (contra o positivismo em que ainda apostavam os movimentos precedentes)."

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Segundo de Micheli, os dadaístas "'no crean obras': fabrican objetos".
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A contribuição do dadaísmo estaria menos na "obra" e mais no "significado polémico del procedimiento", constante no Manifeste Dada 1918.

Diz a autora: "Da mesma maneira, o manifesto constitui-se em obra de vanguarda por excelência na medida em que articula uma proposta estética crítica (a antiarte) e, ao mesmo tempo, é sua práxis (gesto polêmico e contestatário)."

Gelado sobre Claude Abastado: "Estritamente no que diz respeito à extensão, formato, circulação, teor discursivo e destinatário(s) deste escrito, Abastado considera que

'le terme [manifeste] s'apllique [...] à des textes, souvent brefs, publiés soit en brochure, soit dans un journal ou une revue, au nom d'un mouvement politique, philosophique, littéraire, artistique.'..."


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Tradução do google: 'o termo [manifesto] é [...] aplicado a textos, geralmente curtos, publicados em panfletos ou jornais ou revistas, em nome de um movimento político, filosófico, literário e artístico.'

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Destinatário do manifesto

"(...) no próprio enunciado do manifesto aparecem claramente definidos como interlocutores os perfis de (id)entidades literárias e artísticas, muito mais do que a construção discursiva representativa de um público receptor mais amplo; o destinatário por excelência do manifesto é a arte como instituição."

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A autora nos lembra no texto que há um esforço de caracterizar o manifesto enquanto gênero discursivo.
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Em relação ao manifesto, Abastado "o define por contraste tipológico e funcional com o prefácio e o relato". Mas ele admite que por funcionalidade, alguns prefácios têm características semelhantes aos manifestos.

Manifesto e prefácio

"(...) a referida funcionalidade explica que incluamos em nosso corpus textual prefácios de obras individuais e coletivas, por considerar que, estrategicamente, acabaram desempenhando a função programática e polêmica reservada ao manifesto."

Manifesto e relato

"(...) o relato seria o lugar privilegiado de leitura do imaginário de uma cultura, enquanto que o manifesto seria o lugar de leitura da pragmática de uma sociedade, na medida em que expressa suas tensões ideológicas, suas relações polêmicas e as lutas pela conquista do poder simbólico."

Manifesto e relato utópico

Têm em comum "o amálgama de projetos filosófico, político e estético: o desejo de instaurar uma nova vida, alterar a ordem social e praticar novas formas de arte ou, em outras palavras, o desejo de conquista do poder simbólico, o domínio político e a hegemonia estética."

Manifesto e o mito

Teria em comum "o tratamento maniqueísta da temporalidade, estreitamente relacionado com a noção do novo como absoluto. Neste sentido, o passado aparece caracterizado no manifesto como tempo da não-vida ou como tempo de gestação da verdadeira vida (...), ou ainda, dentro de uma visão cíclica da história, como um tempo de inocência e pureza primitivas que o futuro deve reconquistar (seria o caso do Manifesto antropófago)."

A leitura e o fichamento continuam em outra postagem.

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