terça-feira, 1 de junho de 2021

010621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"O chefe testemunhou sua crença na bondade inata do ser humano e como a persuasão moral e a pressão econômica poderiam levar a uma mudança de opinião por parte dos brancos sul-africanos. Ao discutir a política de não violência do CNA, ele enfatizou que havia uma diferença entre não violência e pacifismo. Os pacifistas se recusavam a se defender mesmo quando eram atacados violentamente, mas esse não era necessariamente o caso daqueles que desposavam a não violência. Às vezes homens e nações, mesmo sendo não violentos, tinham que se defender quando eram atacados." (MANDELA, 2012, p. 289)


Hoje li dezenas de páginas da autobiografia do líder negro sul-africano Nelson Mandela. Ganhei o livro de presente de minha esposa em agosto de 2014, no Dia dos Pais. Eu recém começava uma longa jornada de lutas em um mandato representativo e havia ido morar em Brasília e passaria quatro anos viajando o Brasil.

Durante aquele período, cheguei a ler duas centenas de páginas do Mandela. Ao final do mandato, por volta de abril de 2018, eu estava terminando a parte 4 - "A luta é a minha vida". Depois guardei o livro. Para retomar a leitura de Mandela, reli inteiro o que havia lido. E agora começo a avançar nas centenas de páginas de história que o líder sul-africano tem para nos contar.

Das leituras principais que estavam em andamento, decidi dar um tempo com algumas delas, principalmente o Ulysses, de James Joyce, porque estou lendo este clássico com um amigo e ele não está podendo ler nessas semanas. O livro do neurocientista Miguel Nicolelis e a Odisseia, vou seguir até o fim com a leitura.

Lendo o conceito acima, da diferença entre pacifismo e não violência, pensei a respeito, olhei para trás e avalio que me encaixo no conceito explicado pelo Chefe Luthuli (do CNA). Não sou um pacifista. Entendo que temos que nos defender quando atacados.

A história do povo negro sul-africano, a luta pela liberdade e pelo fim do apartheid, a luta pela igualdade e contra o racismo e o preconceito são grandes referências para os mais diversos povos do mundo que passam por situações semelhantes hoje e no futuro. 

O Brasil e o povo brasileiro passam por situação muito semelhante neste momento de sua história, racismo, corrupção do grupo no poder, violência do Estado contra o povo mais pobre e abandonado, destruição dos direitos do povo e do patrimônio do país. Genocídio do povo através de uma pandemia não combatida pelo governo como estratégia do regime no poder.


APARTHEID E RACISMO

"Apesar de sermos mantidos juntos, a nossa dieta era estabelecida de acordo com a raça. Para o café da manhã, os negros, indianos e mestiços recebiam as mesmas quantidades, exceto que os indianos e mestiços recebiam meia colher de chá de açúcar, o que não acontecia conosco. Para o jantar, as dietas eram as mesmas, exceto que os indianos e mestiços recebiam pouco mais de cem gramas de pão, enquanto nós não recebíamos nada. Esta última distinção era baseada na premissa curiosa de que os negros normalmente não gostavam de pão, que era um gosto mais sofisticado, ou 'ocidentalizado'. A dieta para os detentos brancos era muito superior do que aquela para os negros. As autoridades eram tão conscienciosas em relação à cor que até mesmo o açúcar e o pão fornecidos aos brancos e aos não brancos eram diferentes: os prisioneiros brancos recebiam açúcar refinado e pão branco, enquanto os mestiços e os indianos recebiam açúcar mascavo e pão de centeio." (p. 300)


Pois é. O mundo deu voltas e voltas ao redor do sol desde que o povo negro sul-africano conquistou a liberdade e depôs o regime da minoria branca e o apartheid. Seu maior líder, Nelson Mandela, foi respeitado por seu povo e teve seu valor reconhecido.

No entanto, eis que num país sul-americano - o Brasil - a secular minoria da casa-grande deu novo golpe de Estado em 2016, tirou do poder uma governante eleita legitimamente, sem crime algum, tirou um partido que vinha fazendo mudanças históricas para o povo preto, mestiço e pobre, partido que gerou oportunidades e melhores condições de liberdade e igualdade e colocou no lugar um traidor da pátria e, em seguida, um nazifascista e genocida.

Agora, assim como na África do Sul dos nacionalistas brancos e do apartheid, os representantes do governo dizem as merdas que querem e praticam os crimes que quiserem e se sentem inimputáveis. Humilham as classes populares, falam mal de empregadas domésticas, de porteiros, falam que o lugar deles não é na Disney nem nas universidades, pessoas pretas são pesadas em "arrobas" segundo o inominável na presidência do país e preconceitos de todo tipo. Sem contar a psicopatia e prazer com as mortes dos brasileiros vitimados pela pandemia de Covid-19.

É nesta condição que estamos neste momento, vivendo o que os povos negros sul-africanos sofreram em seu próprio país ao longo de séculos de colonialismo e imperialismo.

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.


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