quarta-feira, 2 de junho de 2021

020621 - Diário e reflexões



Refeição Cultural

"Apesar de eu ser uma pessoa gregária, amo a solidão ainda mais. Eu apreciava a oportunidade de ficar sozinho para planejar, pensar, conspirar. Mas uma pessoa pode se cansar da solidão. Eu me sentida terrivelmente isolado de minha família" (MANDELA. 2012, p. 327)


O momento atual do Brasil e do mundo nos entristece o tempo todo. Temos que buscar estratégias e ferramentas psicológicas para fugir à tristeza e demais sentimentos ruins que nos assaltam.

Quase todo mundo tem alguma pessoa querida lutando contra o vírus mortal Sars-Cov-2 (Covid-19) neste instante em que escrevo. Quase todo mundo tem alguma pessoa querida com algum tipo de depressão. Quase todo mundo perdeu pessoas queridas nesses tempos marcados pela morte e não pela vida e pela esperança de dias melhores. Só pela pandemia de coronavírus são quase meio milhão de mortos no Brasil.

Tenho pessoas queridas lutando contra a Covid-19. Tenho pessoas queridas com depressões diversas. Perdi diversas pessoas queridas nos últimos tempos. A referência da vida hoje é o risco da morte, que loucura! Posso estar aqui hoje e morrer em poucos dias pelo vírus, além das mortes severinas. 

Mas como diz meu poeta favorito, Carlos Drummond de Andrade, chegou um tempo em que não adianta morrer e a vida é uma ordem, a vida apenas e sem mistificação. E noutro poema ele diz que temos que viver seja como for e que o essencial é viver.

Outro dia, estava pensando sobre a importância de se registrar e se imprimir e distribuir a nossa história, a nossa luta de classes, os acontecimentos privados e coletivos de nossa vida de classe trabalhadora e de povo explorado pelos poucos usurpadores humanos que se apropriam das coisas do mundo através da violência e da manipulação.

Como eu saberia da história de lutas do povo negro sul-africano e de seus líderes como Nelson Mandela se ele não tivesse registrado em uma autobiografia tudo o que viveram durante décadas até alcançarem a liberdade do povo negro e o fim do apartheid? Tenho um livro de 800 páginas em mãos que conta essa história sob o ponto de vista de Mandela.

E se essa luta do povo negro sul-africano estivesse sendo travada nos últimos 10 ou 15 anos e só estivesse registrada de forma virtual, na internet, no YouTube, no Facebook, no Google? Vocês acham que essa história teria muitas chances de continuar existindo para as pessoas comuns e espalhadas por esse mundão se não estivesse em livros?

Se o filólogo judeu alemão Victor Klemperer não tivesse registrado em diários tudo o que viu acontecer com a língua alemã durante a ascensão e queda do regime nazista de Adolf Hitler e o 3º Reich, dificilmente nós conheceríamos como a língua alemã foi essencial para a implantação do regime nazista, como a língua foi manipulada para fazer toda uma nação apoiar aquilo que foi o nazismo. Ele registrou isso em livro e eu posso ler em casa essa história trágica. E se estivesse só na internet e só de forma virtual?

Eu insisto na sugestão para que os movimentos sociais, sindicais, estudantis e partidários do campo da esquerda e que representam as lutas da classe trabalhadora registrem e imprimam e distribuam (vender a preço de custo) a nossa história de lutas das últimas décadas porque as big techs donas do mundo virtual vão desaparecer com toda a nossa história de lutas "on-line". É fato! É óbvio! Elas fazem parte daquilo que combatemos! Procurem nossas histórias na internet, procurem! O pouco que registramos está desaparecendo... Me falem das conquistas e lutas dos bancários brasileiros das últimas duas décadas...

Editem e imprimam nossas histórias de lutas, seja na forma de diários dos lutadores, seja na forma de livros das entidades (que é um parto fazer porque tem ciumeira de quem vai brilhar mais), de períodos de lutas, por categoria, por tema, de qualquer forma, mas não permitam que a classe trabalhadora seja o maior segmento da sociedade humana (os 99%) pautado somente pelo ponto de vista dos poucos capitalistas donos de tudo.

William


Bibliografia:

MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.


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