Refeição Cultural
"Como guerreiros pela liberdade e prisioneiros políticos, nós tínhamos a obrigação de nos aprimorar e nos fortalecer, e estudar era uma das poucas oportunidades de fazer isso." (MANDELA, 2012, p. 506)
A obrigação de nos aprimorar e nos fortalecer
A parte da leitura da autobiografia de Nelson Mandela em que estou é difícil porque a gente sofre junto com ele. Que dureza, quanta injustiça! Não é possível um ser humano com ética, educação, dignidade e um mínimo de humanidade tolerar as injustiças que se cometeram e se cometem contra milhares e milhões de pessoas ontem e hoje. Não é possível não se indignar com a injustiça.
Estou na parte das memórias de Mandela sobre os longos anos que ele e seus companheiros passaram na ilha de Robben, cumprindo uma sentença de prisão perpétua por lutarem pela liberdade de seu povo e por uma sociedade igualitária e de oportunidades para todos, e multirracial.
Nas dezenas de páginas que li hoje, Mandela nos conta as estratégias que eles desenvolveram para se organizarem dentro do presídio e lutarem por melhorias mínimas de tratamento. Como fizeram para se comunicar entre eles e para conseguir alguma informação sobre a vida lá fora. Como lidaram com guardas brancos violentos no presídio e como buscaram se aproximar de alguns brancos mais civilizados lá dentro.
É de apertar o peito quando Mandela nos conta o sentimento de impotência e tristeza mesmo para alguém que se prepara para ser um guerreiro pela liberdade ao lidar com as perdas de pessoas queridas. Nos primeiros 5 anos de prisão na ilha, Mandela soube da morte do chefe Luthuli (do CNA), e morreram sua mãe e seu filho mais velho, Madiba Thembekile. Nos dois casos, Mandela deveria ser o responsável pelos cuidados e rituais funerários e os brancos não permitiram isso.
Além das perdas, o regime dos brancos perseguiu implacavelmente sua esposa, Winnie Mandela. Prisões injustas, banimentos, invasão de sua casa, ela foi colocada na solitária, perdeu o emprego. Tudo muito desumano.
Aí me lembro do que fizeram com o nosso ex-presidente Lula. A mesma forma de guerra desproporcional dos órgãos do Estado contra uma pessoa, uma família, um segmento da sociedade. Uns desgraçados montaram toda uma farsa e destruíram a vida de um líder que passou a vida lutando para melhorar a vida de seu povo. A maldade não tem limites em certos grupos de animais humanos.
Mas Lula resistiu e está aí se colocando à disposição do povo pobre e trabalhador para reconstruirmos a vida da sociedade brasileira, dizimada pela Lava Jato, pelo golpe de Estado e pela ascensão do nazifascismo nas estruturas do país. Vários presos políticos desse período golpista brasileiro estão contribuindo também, escrevendo, contando suas histórias, nos incentivando a lutar e resistir. José Dirceu, José Genoino, Dilma Rousseff e outras lideranças do povo brasileiro.
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Estudar, ler, conhecer a história de nosso povo e as lutas que já foram empreendidas em busca da justiça, da igualdade, da oportunidade de uma vida comunitária mais solidária e cooperativa.
É isso que temos que fazer diariamente, diariamente! Nem que seja por meia hora, uma hora. Só assim, nos humanizamos e nos preparamos para suportar esses momentos duros que estamos vivendo num mundo sob pandemia, sob o domínio de uma minoria sobre a ampla maioria de seres humanos, sob o predomínio do ódio e ignorância usados como ferramentas de manipulação de massas.
Cada um de nós que tem algum tipo de conhecimento e consciência de classe - de classe trabalhadora que é o que somos - tem que resistir, sobreviver, estudar, e pensar formas de enfrentar e derrotar nossos inimigos. Buscar unidade e tentar dialogar com outras pessoas.
Sobreviver. Reorganizar a classe trabalhadora. Derrotar o inimigo que nos destrói e destrói o mundo.
Vamos juntos, prezados leitores e leitoras?
A cada um de acordo com suas necessidades e de acordo com suas possibilidades. Estudando e escrevendo, estou tentando compartilhar com vocês a experiência de uma vivência nas lutas sociais.
William
Bibliografia:
MANDELA, Nelson. Longa caminhada até a liberdade. Tradução de Paulo Roberto Maciel Santos. Curitiba: Nossa Cultura, 2012.
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