sábado, 13 de setembro de 2025

Diários com Machado de Assis (17)



Refeição Cultural

Jaboticabal, 13 de setembro de 2025. Sábado.


Sou admirador de nosso escritor Machado de Assis, um fenômeno da natureza da espécie humana, nascido no século XIX num canto do mundo chamado Brasil. O "nosso" que usei acima é referente a essa coisa em comum entre eu, você e Machado: a gente nascida no nosso canto, essa terra habitada por povos originários antes da chegada dos europeus e após os séculos de exploração e gestão do país com o olhar de fora, para o bem dos outros e não para o bem do povo que aqui nasce, vive e morre.

Para não dizer que nada sei de Machado, posso dizer que já li todos os seus romances e algumas dezenas de contos de sua autoria. Aí, pensei em conhecer alguma coisa sobre sua obra poética, e faz alguns meses li o primeiro livro de poesias do Bruxo do Cosme Velho: Crisálidas, publicado em 1864 (comentário aqui). Achei uma leitura exigente, diferente de quando leio poesias com linguagem mais prosaica. 

Não quero dizer com isso que poesia com linguagem prosaica é simples, pois as imagens e metáforas podem ser mais complexas que em poesias com linguagem mais rebuscada.

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Antes de seguir com a reflexão ou refeição cultural, faço uma observação que andei pensando. Eu tenho escrito comentários sobre livros, poemas, filmes e gêneros da cultura já faz quase duas décadas. Ao ouvir uma análise de um crítico de cinema, o PH Santos, na qual ele explicava o que é de fato uma "crítica" reforçou em mim a leitura de que o que faço em meus textos no blog não são críticas literárias ou sobre filmes, pois não são baseadas em questões técnicas da referida arte. No entanto, o fato de meus textos não serem "críticas" não tira alguma contribuição que eles tenham a respeito da obra comentada, pois meus textos são impressões e comentários sobre os efeitos daquela obra sobre minha pessoa, um cidadão dedicado à compreensão do mundo e da vida. Ou seja, meus textos têm o seu valor, mesmo não sendo formalmente "crítica" literária ou sobre filmes.

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Voltando aos poemas de Machado de Assis, após a leitura de seu primeiro livro de poesia, comecei a ler o segundo livro, Falenas, de 1870. Aproveitei longas horas de estrada para ler alguns poemas de nosso escritor maior.

Interrompi a leitura do livro Falenas para ler alguma crítica a respeito do tema e estou lendo artigos muito interessantes de um estudioso do autor. O articulista se chama José Américo Miranda, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo, e suas contribuições para a compreensão das obras poéticas de Machado são esclarecedoras.

Amigas e amigos leitores, vou seguir na leitura dos artigos sobre esses dois livros de Machado. Pensei em escrever esse comentário da série "Diários com Machado de Assis" porque ter acesso a conhecimentos compartilhados é uma coisa extraordinária da parte boa dos seres humanos.

Sigamos aprendendo sobre literatura e nossos grandes autores e suas obras.

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Instantes

Pelo momento que estou vivendo, é inevitável pensar sobre os sentidos da existência humana. Inevitável. Até uns trinta anos de idade, avaliando de onde estou com quase o dobro da idade, e com a experiência que a sobrevivência me deixou nas entranhas do ser animal, teria vivido uma vida de um jeito e só daquele jeito. Uma vida para mim, egoisticamente para mim e pronto. Não tinha a formação política que adquiri pelas veredas da vida. Antes, tinha um ódio ferrenho do mundo, depressão, indignação, falta de perspectiva de futuro. Se tivesse tombado pelo caminho, não teria tido a oportunidade de conhecer outras possibilidades da vida humana. Vivi até aqui e até Machado de Assis conheci melhor após os trinta anos, a segunda parte da existência que por acaso tive.

Apesar da impotência que sinto hoje, neste instante, em relação ao mundo e às pessoas que gostaria de ajudar, impotência em relação a não poder fazer algo por pessoas queridas, algo que só elas mesmas poderiam querer fazer por si mesmas, eu adquiri uma consciência que me dá uma espécie de responsabilidade para estar vivo, para combater o cansaço que meu corpo apresenta, pois se eu deixar rolar, a vida se esvai num curto espaço de tempo, perante as estatísticas do meu perfil social, estatísticas que me dariam até umas três décadas caminhando pela Terra.

A expressão pesada de nosso grande escritor na foto acima, com mais ou menos 65 anos em 1904, me deixa sempre pensativo. Machado é um grande representante de nossa espécie, um grande brasileiro, um escritor e intelectual muito à frente da mentalidade de seu tempo de vida, um homem que se tivesse vivido só a metade de sua vida, não teríamos a oportunidade de conhecer a produção humana que ele nos legou após seus trinta e poucos anos. Vejam com é a vida e o viver, o ir vivendo.

Se eu tivesse deixado de existir com meus trinta anos, não teria tido a oportunidade extraordinária que tive de, do nada, me politizar e viver uma vida de lutas coletivas, deixando de ser só mais um egoistazinho desses que temos aos montes por aí, e nem viver eu queria quando já tinha vinte e poucos anos.

Tudo isso tenho pensado ao estudar o mundo, a vida, ao ver os jovens ao meu redor, ao tentar compreender os comportamentos das pessoas e tentar compreender, mesmo sem aceitar, mas compreender por que as coisas e as pessoas são como são. Tento me imaginar no lugar e no tempo deles hoje, aquele que fui com a idade deles.

Tenho uma certeza: não posso julgar absolutamente nada das atitudes dos jovens ao meu redor. Não sei se seria diferente deles, na condição que estava antes, e na qual eles se encontram agora, neste mundo e sociedade colapsados.

Chega por hoje.

William

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Artigo: 11/9



Refeição Cultural

Opinião

Algumas datas do calendário ocidental acabam ficando marcadas na história da sociedade humana por acontecimentos que ocorreram naquele dia. O 11/9 se tornou uma dessas datas.

Já tínhamos o 11/9 chileno, tínhamos o 11/9 norte-americano, e agora temos o 11/9 brasileiro. 

Para as pessoas que conhecem minimamente a história, sabemos que os três 11/9 têm alguma relação direta ou indireta com o governo dos EUA, ou seja, aconteceram por causa dele ou com a tentativa de interferência daquele governo. 

No dia 11/9/73, o governo socialista de Salvador Allende, eleito democraticamente pelo povo chileno, foi derrubado por um Golpe de Estado patrocinado pelos EUA. Allende não sobreviveu ao golpe. Augusto Pinochet foi colocado no poder e a barbárie se implantou no país por um longo tempo.

No dia 11/9/01, os EUA sofrem um atentado terrorista no qual as Torres Gêmeas do World Trade Center são atingidas por aviões, o prédio do Pentágono também é atingido por um avião e um outro cai sem atingir o alvo. Todos eles, aviões comerciais. 

Aquele atentado marcou o início do século XXI e mudou o mundo para pior, para os povos dos países periféricos e até para os norte-americanos comuns. O governo começou naquele dia uma tal guerra ao terror e tudo passou a ser "permitido" contra o povo e contra o mundo em nome da tal guerra ao terror.

No dia 11/9/25, o Brasil condenou pela primeira vez em sua história um ex-presidente e outros componentes de sua organização criminosa, a maioria deles militares e ou servidores públicos, à prisão por tentativa de Golpe de Estado e outros crimes. Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. 

O governo dos EUA tentou interferir no julgamento dos réus brasileiros estabelecendo sanções econômicas ao Brasil e ameaçou, nos últimos dias, até o uso de força militar para pressionar o poder independente do judiciário a não condenar os bandidos. 

Como disse, o dia 11/9 vai sendo marcado por acontecimentos que mudam a história dos países e povos do mundo. 

O escritor do blog não acredita que o réu Bolsonaro vá cumprir a pena na prisão. Ficaria feliz se daqui a um ano, ano e meio, pudesse voltar a esta postagem e afirmar que estava errado, vendo o Jair Messias cumprindo sua pena na prisão. 

QUE A CONDENAÇÃO DO EX-PRESIDENTE SIRVA DE EXEMPLO PARA QUE O POVO NÃO ELEJA UM INEPTO COMO ELE FOI NA PANDEMIA

Vale registrar a minha decepção com a justiça dos homens (raramente é das mulheres também) pelo fato de que o condenado por tentativa de Golpe de Estado não foi indiciado pelo pior de seus crimes, o pior, sua conduta como autoridade maior do Brasil durante a pandemia de Covid-19. 

O Jair Messias Bolsonaro fez tudo que podia para facilitar a morte por Covid de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, que morreram sem vacina quando já havia vacina disponível, adoecidos por não usarem máscaras com incentivo do Jair e por ele não fazer nada que deveria como presidente do Brasil durante a pandemia. 

Enfim, temos que reconhecer este 11/9 como um dia histórico, pelo menos o Brasil condenou esses desgraçados que tentaram voltar a ditadura no Brasil, com toda a violência e roubo que vem junto com o autoritarismo dessa gente fascista que é ignorante e desumana.

O "capitão" não foi condenado pelo genocídio do povo brasileiro, nem como ladrão de joias, mas pelo menos foi condenado por alguns de seus crimes. 

Que a condenação do inepto, genocida e defensor de torturadores sirva para que nunca mais tenhamos dias de mortes no Brasil como naqueles dias da pandemia, nos quais as pessoas morriam sem conseguir respirar por culpa do sujeito que ocupava a presidência do Brasil. 

Companheiro Wanderley Crivellari, presente! Vítimas da Covid-19 no Brasil, presente!

SEM ANISTIA PRA GOLPISTA!

William Mendes


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Vendo filmes (XXXII)



Refeição Cultural

Conhecendo um pouco de Wim Wenders


O primeiro filme que vi do cineasta alemão Wim Wenders foi Asas do Desejo (1987), e fiquei encantado com a temática e a forma como o diretor retrata a cidade de Berlim e as personagens.

Do primeiro filme até ver o trabalho seguinte de Wenders se passaram alguns anos. Fiquei um tempão querendo ver o filme com Nastassja Kinski, Tão longe, Tão perto (1993), uma sequência de Asas do Desejo

Aliás, quando vi o filme com a história dos anjos, de 1987, queria na verdade ter visto o filme de 1993, mas o primeiro era o que estava disponível a mim numa coleção de filmes que tenho em casa.

Mais recentemente, ouvi de novo o nome de Wim Wenders ao tomar conhecimento do filme Dias Perfeitos (2023), que concorreu ao Palma de Ouro e foi o filme japonês selecionado para concorrer ao Oscar em 2024. O filme é tocante, mexeu comigo.

Agora, conheci o documentário Tokio-Ga (1985), no qual Wenders faz uma homenagem ao grande diretor japonês Yasujiro Ozu. Gostei do documentário! Sempre tive interesse pela cultura e pelo estilo de vida do povo japonês.

Ainda neste comentário, compartilho minha impressão a respeito dos documentários sobre as perspectivas do cinema nos anos oitenta, o Papa Francisco e também a cena musical de Cuba, roteiros e direção que emocionam os espectadores. 

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FILMES


Quarto 666 (1982)

Direção: Wim Wenders 

SINOPSE (MUBI): 

Em um quarto de hotel no Festival de Cannes de 1982, Wim Wenders inicia uma pesquisa entre seus colegas sobre o futuro do cinema. Godard, Fassbinder, Spielberg, Antonioni, Herzog e outros cineastas respondem à pergunta: "O cinema é uma linguagem prestes a se perder, uma arte prestes a morrer?"

OPINIÃO DO MUBI: 

De Godard a Antonioni, Herzog a Spielberg, Wim Wenders reúne os grandes e bons nomes do cinema mundial para refletir sobre uma questão existencial. Esclarecedor e hilário, Quarto 666 considera a estética da televisão e pergunta se seus efeitos poluentes serão a sentença de morte da sétima arte. 

COMENTÁRIO: 

Muito interessante ver a temática do futuro do cinema na época na qual os videocassetes trouxeram o cinema para a casa das pessoas. Junto aos filmes em casa, já havia a questão do espaço que a televisão ocupava na vida do povo, incluindo os catálogos de filmes e séries na TV. O cinema sobreviveu. Quatro décadas depois, podemos dizer que a questão colocada por Wenders aos cineastas dos anos oitenta segue merecendo uma reflexão: qual o futuro do cinema no século XXI mediante as novas formas de entretenimento como as plataformas digitais e a Inteligência Artificial?

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Tokio-Ga (1985)

Direção e roteiro: Wim Wenders. Com: Chishu Ryu, Yuharu Atsuta, Werner Herzog. Narrado por Wim Wenders.

SINOPSE: 

Documentário sobre o cineasta japonês Yasujiro Ozu, gravado na primavera de 1983, em Tóquio, por ocasião dos vinte anos do falecimento de Ozu. Wenders entrevista o diretor de fotografia que mais trabalhou para Ozu, Yuharu Atsuta, e Chishu Ryu, o ator favorito do diretor japonês. Wenders registra cenas da Tóquio contemporânea, com máquinas de jogos eletrônicos como o Pachinko e produtores de comida de plástico, que enfeitam as vidraças das casas de comida em Tóquio.

COMENTÁRIO: 

Achei interessante Wenders dizer que gosta de filmar as coisas do cotidiano como forma de nos mostrar a verdade das coisas, ou algo com esse sentido. Ozu tinha uma técnica ímpar de filmar o cotidiano e sua simplicidade e rotina. Podíamos conhecer Tóquio e os japoneses através dos filmes de Ozu.

Por outro lado, é doido pensar hoje que o mundo do som e da imagem é justamente o contrário: as redes sociais e as plataformas digitais se tornaram a fonte de um mundo fake, de faz de conta. O que as pessoas menos são na realidade é o que elas demonstram ser nas telas. Que foda isso!

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Asas do desejo (1987) 

Direção: Wim Wenders. Roteiro: Wim Wenders e Peter Handke. Trilha Sonora: Jürgen Knieper. Com Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Otto Sander, Curt Bois e Peter Falk. 

SINOPSE (Coleção Folha Cine Europeu): 

Anjos sobrevoam a Berlim Ocidental do final dos anos 1980. Eles são invisíveis, ouvem os humanos e oferecem alívio aos angustiados. Mas as regras são desafiadas quando um anjo se apaixona por uma trapezista. "Asas do Desejo" é o ponto alto da carreira de Wim Wenders (1945), um dos nomes mais populares do Novo Cinema Alemão. Ele realizou filmes que refletem uma realidade melancólica, ecos de traumas do passado. Fantasia que conquistou corações e mentes, "Asas do Desejo" tem uma estrutura que remete ao mundo dividido da época, do qual Berlim era centro e espelho. Em preto e branco quando mostra o ponto de vista dos anjos, o filme ganha cores ao reproduzir a vida dos seres humanos.

COMENTÁRIO: 

O filme "Asas do Desejo" é tão instigante que eu não me canso de vê-lo. Cada revisita ao filme, novas percepções (comentário anterior aqui). Nesta vez, enquanto via as cenas devastadoras dos cadáveres de crianças judias e opositores do regime nazista pelas ruas de uma Alemanha dos anos quarenta, e aquela destruição toda através das imagens espetaculares em preto e branco, não conseguia pensar em outra coisa que não fossem as imagens de Gaza totalmente destruída com corpos de crianças, mulheres e idosos entre os escombros. A sociedade humana parece não ter jeito.

Ao pensar na ideia dos anjos que veem a história humana através dos tempos fico imaginando a decepção dos deuses criadores dessa experiência que não deu certo: a espécie humana. Acabo por acreditar que nossa natureza é a mais violenta do reino animal.

Sei que o filme tem como foco o amor impossível a princípio entre o anjo Dammiel (Bruno Ganz) e a trapezista Marion (Solveig Dommartin), mas não se tem como controlar as ideias a partir das relações criadas pelo espectador entre a ficção e a realidade. Seja a Berlim dos anos quarenta, seja a Berlim dividida pelo muro dos anos oitenta, seja a Palestina atual com muros e bombas exterminando um povo para tomar sua terra, a pergunta é: onde está o amor?

Eu rezei ao meu anjo da guarda por décadas; não saía de casa sem pedir proteção a ele e me persignar. Fui aculturado em ambiente católico, como a maioria dos brasileiros de minha geração. Hoje não tenho mais a mesma leitura de mundo.

As religiões, as filosofias e as literaturas são criações humanas para tentar compreender o mundo e a vida de nossa espécie neste planeta. Eu respeito todas essas formas de culturas.

Se os anjos estiverem entre nós, imagino como estão sofrendo, como vemos naquela cena do anjo Cassiel (Otto Sander) ao ver a cena final do jovem suicida...

Por fim, acho muito legal esses livretos que vinham com as coleções de filmes que editoras e jornalões faziam antigamente. São muito bem-feitos e com informações esclarecedoras.

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Tão longe, Tão perto (1993) 

Direção: Wim Wenders. Elenco: Otto Sander, Peter Falk, Horst Buchholz, Nastassja Kinski, Lou Reed, Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Willem Dafoe.

SINOPSE:

Cassiel é um anjo que acompanha a vida dos habitantes de Berlim. Após salvar a vida de uma jovem, ele vira humano e é perseguido por um supervisor de anjos que deseja puni-lo. Então, Cassiel pede ajuda a um amigo que se tornou humano. 

COMENTÁRIO:

Revi o filme após algumas semanas de tê-lo visto pela primeira vez. Novamente me emocionei muito com a história. O filme é uma continuação de "Asas do desejo" (1987) e no meu ponto de vista são bem diferentes.

Os anjos Dammiel e Cassiel desejam conhecer o mundo dos humanos a partir dos olhos dos humanos, sendo um deles. No primeiro filme, Dammiel é movido pelo amor, pelo desejo de viver ao lado de Marion. 

No segundo filme, os motivos que levam Cassiel a se tornar humano são diferentes, e se o desejo dele é altruísta, porque ele deseja fazer o bem, amar as pessoas e ser feliz, o que vivenciamos com ele é bem mais próximo da vida real de todos nós: as coisas não dão muito certo e Cassiel terá que superar todas as dificuldades para exercer seu desejo de acertar.

O filme me toca profundamente. Vi na história de Cassiel semelhanças com a história de vida de pessoas muito queridas, pessoas boas e que só querem acertar e as coisas acabam não se saindo como esperado por elas. É um filme de grande sensibilidade. 

No primeiro contato com "Tão longe, Tão perto", fiz um texto reflexivo. Ele pode ser lido aqui.

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Buena Vista Social Club (1999) 

Direção: Wim Wenders

SINOPSE (MUBI):

Um dos triunfos modernos de Wim Wenders, este documentário indicado ao Oscar explora a rica e animada cena musical de Cuba. O ícone do Novo Cinema Alemão acompanha várias lendas musicais enquanto tocam e andam pelas ruas vibrantes de Havana neste testamento ao "son cubano".

COMENTÁRIO:

Fiquei encantado com o documentário pela forma como ele nos apresenta os personagens da cena musical cubana, cada um mais empático que o outro: Compay Segundo, Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer, Rubén González, Eliades Ochoa, Manuel "Guajiro" Mirabal, Barbarito Torres, Orlando "Cachaíto", Pío Leyva, Juan de Marcos González, Jesús Ramos, Ry Cooder.

Após assistir a Buena Vista Social Club fui pesquisar mais a respeito da história da casa de shows em Havana na primeira metade do século vinte e sobre os músicos reunidos pelo projeto organizado por Nick Gold, produzido pelo músico norte-americano Ry Cooder e dirigido por Juan de Marcos González, entre 1996 e 1997.

Ouvi as dez músicas do álbum do grupo Buena Vista Social Club e as canções e o ritmo são contagiantes, que delícia ouvi-las!

Ver o documentário de Wim Wenders com aqueles senhores e Omara Portuondo, todos de bastante idade, se apresentando em Amsterdam e em Nova York foi emocionante. 

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Papa Francisco: um homem de palavra (2018)

Direção : Wim Wenders

SINOPSE (NETFLIX):

O documentarista Wim Wenders viaja pelo mundo ao lado do Papa Francisco e registra a visão humanitária do pontífice no mundo polarizado de hoje.

COMENTÁRIO:

Assisti ao documentário de Wim Wenders após a morte de Papa Francisco (em 21/04/25). As ações e ensinamentos registrados pelo cineasta reforçaram o que havia dito meses antes sobre a morte do papa sul-americano, que sua perda seria irreparável, pois o mundo terá cada vez menos lideranças globais como ele, Mujica e Lula. 

Mujica faleceu também, faz poucos meses, em 13/05/25. 

Felizmente, ainda podemos contar com a grandeza de Lula, que está bem de saúde e se colocando à disposição das causas populares. Não é egoísta e pensa mais nos outros que em si mesmo. 

O documentário de Wenders se tornou um presente ao mundo para a posteridade, um registro histórico. 

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Dias perfeitos (2023)

Direção: Wim Wenders 

SINOPSE: (MUBI)

Hirayama leva uma vida feliz, conciliando seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina estruturada é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.

OPINIÃO DO MUBI:

Kôji Yakusho ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes com este drama comovente indicado ao Oscar, de Wim Wenders, que retrata os habitantes de Tóquio com um olhar humanista. Com uma excelente trilha sonora de rock clássico e pop, Dias Perfeitos encontra beleza e serenidade em lugares inesperados.


COMENTÁRIO: 

A história do senhor Hirayama me deixou pensativo por vários dias. 

As reflexões variaram por questões filosóficas que têm dominado minha existência já faz tempo, questões do tipo: qual o sentido da vida?, o que é felicidade?, qual o sentido de se ficar o tempo todo em função da obtenção de bens materiais, as mercadorias tão centrais na vida das pessoas no mundo capitalista?

O senhor Hirayama tem uma vida simples e rotineira que deixaria boa parte das pessoas do mundo atual completamente entediadas e infelizes, pois a rotina do amanhecer, aguar as plantinhas, sair para lavar banheiros públicos, parar embaixo de uma árvore para lanchar, voltar para casa após banho e refeição, e ler antes de dormir é tudo que a sociedade do século XXI parece não desejar. 

O senhor Hirayama seria classificado claramente como um "zé ninguém", um derrotado na vida.

No entanto, aquelas questões que coloquei acima estão o tempo todo vibrando nos pensamentos do espectador assim como a trilha sonora que acompanha o senhor Hirayama no toca-fitas de sua van (seleção sensacional!), bem como a sonoplastia das árvores ao vento que preenche o dia e os sonhos do senhor Hirayama.

Amigas e amigos leitores, o filme de Wenders com a história do senhor Hirayama é um presente para todas as pessoas que estão em busca do sentido da vida. 

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É isso! Mais um texto com impressões e sentimentos a partir de filmes que tocaram o coração do escritor do blog.

A postagem anterior desta série pode ser lida aqui.

William

domingo, 7 de setembro de 2025

31° Grito dos excluídos e excluídas e mobilizações do 7 de setembro

 


Cartazes da militância que participou do Grito dos excluídos e excluídas e do 7 de setembro.


A Praça da Sé foi o local de mais um Grito dos excluídos e excluídas, e o ato começou com a distribuição do café da manhã a centenas de pessoas em situação de rua. 


A partir das 9 horas, lideranças de movimentos populares se revezaram em discursos potentes sobre as questões de moradia, alimentação e direitos básicos da cidadania da população de rua e o descaso e abandono das autoridades governamentais, da cidade de São Paulo e do estado de SP.


A Catedral da Sé fechou suas portas ao Grito dos excluídos e excluídas... essa é a gestão higienista do momento. 


Dança popular de matriz africana no Grito dos excluídos e excluídas.


Viva a África!!! Viva os povos do continente africano! Viva os povos que vivem no Brasil! O povo brasileiro precisa ter seus direitos respeitados!

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ATO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA PRAÇA DA REPÚBLICA

Após o ato na Praça da Sé, saímos em passeata para somar com a mobilização das centrais e partidos e movimentos organizados em defesa da soberania do Brasil, e com pautas centrais como o fim da jornada 6x1, isenção de imposto para quem ganha até 5 mil reais e cobrança de impostos dos mais ricos. E, lógico, punição para os golpistas do 8 de janeiro de 2023. SEM ANISTIA!

Foto feita por Malu.

Encontrei diversos companheiros e companheiras do movimento sindical do qual fiz parte por décadas de lutas. Para fechar o dia de participação nos atos do 7 de setembro, almocei com a turma do Sindicato.

William


Post Scriptum: ao chegar em casa e ver as notícias sobre as mobilizações do segmento de brasileiros vira-latas, apoiadores do crime organizado, o bolsonarismo lesa-pátria e canalha, fiquei estupefato ao ver a que nível chegou essa gente traidora da pátria brasileira: os vendilhões tiveram a coragem de desfilar no dia da Independência do Brasil com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel! A de Israel a gente sabe que boa parte é porque esses bolsonaristas são burros e ignorantes, se dizem "cristãos" e desfilam bandeiras de Israel por serem mentecaptos... mas a dos EUA é porque são traidores da pátria mesmo! É duro!

sábado, 6 de setembro de 2025

Leitura: Artigo "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari



Refeição Cultural

Artigo: "Capitalismo financeiro digital, crise e desigualdade social", de Adilson Marques Gennari. Revista Fim do Mundo, Marília, SP, número 8, 2023. O articulista é economista, doutor em Sociologia, Professor da Faculdade de Ciências e Letras da UNESP Araraquara.

Leitura para reflexão antes de uma aula sobre o tema (em 06/09/25)

Aula VII (manhã) - Donald Trump, Misérias e Ideias para adiar o fim do mundo

Objetivo: textos de apoio para o curso de extensão "Como impedir o fim do mundo: colapso ambiental e alternativas", organizado e ministrado por IBEC, Unesp e demais parcerias

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A postagem é uma espécie de fichamento feito pelo autor do blog. Qualquer interpretação divergente do texto original é de responsabilidade deste leitor que comenta o texto.

Abaixo algumas palavras-chave ou ideias que gostei no referido texto.

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Resumo do artigo que vamos ler:

A sociedade capitalista global vem experimentando transformações determinadas, de um lado pela própria crise estrutural do capital que já vem se desenvolvendo desde o final do século passado na forma de crise econômica, crise ambiental, crise nas relações sociais (do emprego) e até crise de legitimidade; e de outro lado, pelos impulsos causados por revoluções tecnológicas que avançam para sua quarta fase (grundrissização), no contexto de uma fase de desglobalização do capitalismo e mudanças significativas nas relações internacionais com a emergência da Eurásia e dos países dos BRICS, em um novo contexto multipolar e pós-pandemia. O objetivo deste paper é contribuir ao debate sobre as contradições deste processo em relação a crise estrutural e seu impacto na pobreza e desigualdade social.

- O prof. Adilson começa o artigo citando os principais fatores que demonstram a atual fase do capitalismo e a crise estrutural na qual ele se encontra, com destaque para a decadência do império norte-americano e ascensão da Eurásia e BRICS, a destruição acelerada da natureza e a produção de lixo em escala que coloca em risco a vida na Terra

- Muito interessante a separação em lados antagônicos das forças que estão em disputa no momento: os contrarrevolucionários têm tipos como neonazistas e fascistas, burguesias decadentes urbanas, donos de terras e classes médias ressentidas... e do lado de cá, do meu lado, as forças sociais da revolução, onde cabem comunistas, socialistas, anarquistas, socialdemocratas, feministas...

- Duas crises marcam o fim da fase globalizada do capitalismo: a crise de 2008 do subprime e os movimentos de Trump da atualidade

- No entanto, o articulista nos explica que não é tão simples assim se desfazer no século XXI da cadeia global de produção capitalista como quer Trump

- O "capitalismo da globalização neoliberal" transitou para o "capitalismo global em crise estrutural"

- No trabalho, o autor questiona se há saídas para economias ex-colonizadas e escravizadas para além da subordinação aos centros econômicos hegemônicos do capital

- Celso Furtado é referência do prof. Adilson para explicar nossa desigualdade histórica desses cinco séculos de superexploração


Capital financeiro

- O articulista explica no texto o papel central do capital financeiro na atua crise estrutural do capital

- A mais-valia global vem se concentrando nas mãos dos donos do capital através da financeirização da economia

- Segundo Adilson, "A economia do capital é uma economia financeira"

- Comentário do blog: tenho achado o conjunto dos textos e aulas dos professores e professora marxistas excepcionais no sentido de trazer para nós a atualidade dos textos de Marx, principalmente de sua obra máxima, O Capital

- Adilson explica em seu artigo a materialidade da teoria de Marx já em início de funcionamento desde o financiamento dos holandeses ao negócio colonial com exploração da mão de obra dos povos africanos e originários das Américas por portugueses e ingleses e suas corporações

- Vemos ali o que já seria o papel do capital financeiro desde sempre nesse modo de produção e exploração que seria definido mais adiante como capitalismo (p. 7 do meu pdf)


A crise estrutural do capital

- Diferente das crises cíclicas, crises NO sistema, a crise estrutural é uma crise DO sistema capitalista

- Em outras dimensões categoriais, pode-se dizer que a "crise estrutural" é uma crise do próprio modo de produção capitalista

- O autor nos cita István Mészáros para elencar os motivos da crise estrutural do capital (obra "Para além do capital"), na p. 8 do pdf

- A destruição acelerada da natureza, a produtividade tecnológica e não necessidade de mão de obra humana e gastos crescentes na área militar com redução nos gastos sociais (subdesenvolvimento forçado) são exemplos claros da crise estrutural do capital

- Está em jogo o papel do trabalho no universo do capital na sociedade humana

- A quarta revolução tecnológica em andamento é tão impactante quanto a primeira lá no século XVIII e suas consequências também (p. 10 do pdf)

- "Chamamos essas mudanças e impactos de grundrissização da sociedade em uma referência direta a Fragmento sobre máquinas do clássico texto de Karl Marx (2011)"

- A máquina do capital possuía 3 partes, mas agora na quarta revolução tecnológica, teria o 4ª órgão (Bacchi), o órgão de controle (a máquina programável)

- Nesta fase científica e tecnológica, se torna cada vez menor a participação do trabalho vivo no processo produtivo das mercadorias


O Brasil nos BRICS na nova fase da (des) globalização multipolar

- O autor nos explica origem e atualidades dos BRICS

- Neste subitem, o prof. Adilson apresenta os novos desafios para o Brasil e demais membros dos BRICS e do movimento Sul-Sul frente ao colapso da velha ordem econômica e política hegemonizada por Estados Unidos e Europa


O trágico legado do Governo de Jair Bolsonaro (2019 - 2022)

- O inominável conseguiu realizar a façanha de derrubar o IDH do país após 3 décadas de governos brasileiros, ou seja, piora das condições de vida do povo como nunca visto

- O Brasil voltou também ao Mapa da Fome, tendo a metade da população vivendo sob insegurança alimentar e 33 milhões passando fome (p. 43 do artigo)

- Entre as causas o articulista cita 8 motivos para tal resultado no período: enviamos 28 bilhões de dólares a remunerar juros, lucros, royalties etc

- Outras causas: concentração de renda, redução de gastos sociais e da transferência de renda, arrocho salarial e no benefício dos aposentados, a inflação do desgoverno Bolsonaro com a reforma trabalhista, a militância bolsonarista com a morte de brasileiros durante a pandemia mundial, e a destruição da natureza e dos biomas, os números citados demonstram a tragédia do período bolsonarista


Considerações finais

- Inexiste a tão falada "concorrência de mercado" na realidade do sistema capitalista, principalmente na fase atual de capitalismo financeiro

- Urge o desenvolvimento de novas formas de produzir os bens úteis aos seres humanos como, por exemplo, as formas cooperativas da economia solidária

- A produção social humana deve focar o valor de uso e não a mais-valia, desenvolvendo forças produtivas em busca de uma sociedade mais solidária e sustentável

- Rússia e China saem na frente em relação à produção social contemporânea, já o Brasil precisa sair do modelo exportador de commodities que o mantém atrelado ao passado na produção mundial econômica

- A desigualdade social no Brasil segue altíssima e um dos motivos é sua forma de produção social atrelada ao passado como colônia exportadora e baixos direitos sociais

- O governo Bolsonaro fez o Brasil regredir em todos os índices que se têm notícias em décadas de história do país

- O autor afirma, observando os processos em andamento no mundo: "nunca a utopia de Marx de uma 'sociedade livre de homens livres conscientemente organizada' esteve tão distante do mundo real"

- A atual crise estrutural do capital é dupla: em Marx vemos a explicação da queda das taxas de lucros e em Mészáros vemos a destruição das relações sociais e do próprio planeta, ameaçando a existência humana

- Adilson levanta questões de difícil resposta em relação aos BRICS e seus membros estendidos, no que concerne às contradições do capitalismo sendo o modo de produção social dessas nações

- Por fim, sem a distribuição dos meios de produção e sem a mudança de relação entre os seres humanos e a natureza, não será fácil mudar a tendência de perspectivas sombrias para as gerações futuras.

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Leitura feita por 

William Mendes

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

Instantes (13h13)



Refeição Cultural

A saída pela manhã tinha duas prioridades: meu trote de 2K em percurso com subida e adquirir o remédio para pressão arterial na Farmácia Popular, direito à saúde existente em governos de esquerda como no de Lula e quase extinto nos governos de direita como nos de Bolsonaro, Tarcísio et caterva.

Na farmácia, iria adquirir um medicamento receitado para lavar meus olhos por causa de irritações nas glândulas lacrimais. Ao ouvir o valor do remédio, fiquei estupefato... 185 reais! Francamente... lavo os olhos com sabonete neutro. Sou um privilegiado por ter o recurso para adquirir essa mercadoria, mas o preço disso é um assalto! Vai pro inferno esse capitalismo e essa porra de indústria da "saúde".


Ao voltar para casa, refletia sobre como é bom ainda caminhar e enxergar, o instante é único e não sei do amanhã (a natureza me mudou). Ao namorar as árvores floridas, me emocionei com o ipê branco que resiste fragilmente aos homens do capitalismo. Seu instante é tão único como o meu. Não sabemos do amanhã. 

Não pude resistir àquela potência da natureza. Atravessei a rua, fui ao encontro do ipê. Toquei em seu tronco, agradeci sua existência, sua resistência. Falei com ele. Que ser espetacular aquele ipê branco no meio da barbárie capitalista dos animais humanos!

Me despedi do ipê. Voltei para o concreto de minha moradia. Pensei até em fazer algo único para aproveitar meus olhos, minha existência frágil e instantânea.


A natureza para quem a vê e a percebe nos dá uma humildade incrível ao nos lembrar da finitude de tudo. A florada de um ipê branco tem a duração de horas, horas de uma beleza deslumbrante. Depois são galhos secos e a normalidade do viver cotidiano.

A vida também é assim, pouco mais, pouco menos de existência. Algumas estações do ano não são quase nada para um animal humano se comparadas ao tempo de um outro elemento da natureza, que pode durar centenas ou milhares de anos.

O instante...

William 

05/09/25

quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Vendo filmes (XXXI)



Refeição Cultural

Lemon Tree (2008)

Direção: Eran Riklis e co-direção de Ira Riklis.

Com: Hiam Abbass, Ali Suliman, Danny Leshman, Rona Lipaz-Michael, Tarik Kopty, Amos Lavi, Lana Zreik e Amnon Wolf. 

Produção: Israel, Alemanha e França 


Sinopse: 

Uma viúva palestina, Salma (Hiam Abbass), vê seus limoeiros ameaçados quando o ministro da defesa de Israel, Navon, e sua esposa, Mira Navon, se mudam para a casa ao lado do pomar de Salma. A força de segurança israelense logo declara que os limoeiros colocam em risco a segurança do ministro e informa que eles precisam ser derrubados. Salma terá a ajuda do jovem advogado palestino Ziad Daud para ir até o Tribunal Supremo de Israel com a questão. 

Comentário:

Pelo que me lembro, vi este filme pouco depois de seu lançamento no Brasil. Fiquei impactado à época. Queria revê-lo já fazia um tempo.

Assistir ao filme agora, em pleno processo de genocídio do povo palestino, foi muito mais impactante que antes. 

É impossível não se sentir indignado com a injustiça que significa a ação do imperialismo norte-americano e do governo de Israel em relação ao povo palestino espremido na Faixa de Gaza e Cisjordânia após 1948.

Se já não bastasse todo o processo de ocupação da Palestina por israelenses após o término da 2a Guerra Mundial, expulsando o povo árabe que vivia ali há séculos numa divisão pra lá de controversa, e todos os avanços ilegais da ocupação até hoje, agora o mundo assiste à catástrofe humanitária de eliminação dos palestinos de sua terra. 

O filme se passa na fronteira entre áreas ocupadas por judeus em Israel e a Cisjordânia dos palestinos, em meados da primeira década deste século.

Os espectadores verão a tensão cotidiana na convivência entre judeus e palestinos. Há violências simbólicas nos abusos cometidos contra o povo palestino. E contra as mulheres do mundo...

Salma não aceita pacificamente a decisão monocrática do Estado de Israel de eliminar seu pomar de limões. 

No enredo, vamos perceber a questão da violência contra as mulheres, comum aos dois povos: árabes e judeus. 

Salma e Mira, em lados opostos, terão mais coisas em comum do que se poderia imaginar. 

Enfim, o filme é muito bom! Muito atual! E incomoda a gente, incomoda porque põe o dedo na ferida da causa palestina e das causas das mulheres.

Valeu muito rever Lemon Tree, que nos cativa do início ao fim, inclusive pelas cenas amenas que vemos como os momentos regados a limonadas.

William 


Post Scriptum: para ler comentário anterior sobre filmes é só clicar aqui.


terça-feira, 2 de setembro de 2025

Instantes (19h24)



Refeição Cultural

AMARGO

Acordei com a notícia do falecimento do jornalista Mino Carta, aos 91 anos de idade. Fiquei triste, amargo.

Nesses dias, faleceram Luis Fernando Verissimo e Jaguar. Três grandes jornalistas, escritores, pintores e cartunistas brasileiros. 

Essas perdas me fizeram pensar na morte como uma realidade inevitável a todos nós. Num momento, estamos aqui, noutro, não existimos mais. 

Após a notícia triste, não havia outra coisa a fazer que não fosse fazer a minha parte para alongar a minha permanência na Terra. Fazer uma atividade aeróbica para retardar a bomba-relógio de minha genética. 

(Fazer, fazer, fazer... a aliteração pode ser uma estilística, mas não uma solução...)

Durante a caminhada acelerada, pensei tanta coisa, mas tanta coisa, que nem poderia registrar! Deve ter sido a boa oxigenação no cérebro...

Aí, pensando a respeito da morte, tenho que engolir o fato repugnante de que aquele verme genocida está sendo julgado hoje por outro de seus crimes, por tentativa de golpe de Estado, e não pelo genocídio planejado de centenas de milhares de brasileiros... é muito injusto isso!

Bolsonaro não tem nenhum processo pela morte planejada de centenas de milhares de pessoas ao longo de sua gestão como presidente do Brasil durante a pandemia de Covid-19. O cara nem é mais lembrado por isso, pelos 700 mil mortos sob sua regência...

Amargo... estou amargo.

Todos os corruptos se dão bem no mundo! Todos, com raras exceções. Um tá cumprindo pena num apto de 600 m2. A canalha responsável pelo suicídio do reitor de Santa Catarina está aposentada com proventos integrais de 50 mil dinheiros...

Só pobre, pretos, miseráveis que se fodem nessa sociedade humana de merda!

Tô amargo pra caralho!

Aí quando vejo a notícia da morte do Mino Carta, fiquei pensando no livro dele na estante de casa que queria porque queria ter lido com o autor ainda vivo...

É aquela culpa que carrego como um pecado original por não ter lido um monte de livros e autores que gostaria de ter lido e não li... porra, quando foi pra ser leitor de dezenas de livros, optei por aceitar a missão de ser sindicalista... caralho! Não podia fazer de conta que era sindicalista, tinha que ser de verdade, aí o curso de Letras foi pro saco, pro inferno.

Fazer, fazer, fazer... fiz o que tinha que ser feito. Mas hoje não sou porra nenhuma! Não sou professor, não tenho profissão nenhuma. E como não sou mais sindicalista, não sou nada!

Estou amargo hoje. É muita gente que admiro morrendo, gente que ensinou, educou, politizou, transmitiu valores que estão se perdendo. Fico triste de ver partir intelectuais que dedicaram a vida a evoluir a espécie humana e a sociedade. 

Mino Carta, Verissimo, Jaguar, sempre presentes! Obrigado por tudo! Vocês melhoraram o mundo!

William 

02/09/25

domingo, 31 de agosto de 2025

Diário e reflexões


Uma vida precisa de bases, raízes.
Eu tenho minha base sólida.


Refeição Cultural

Osasco, 31 de agosto de 2025. Domingo. 


AGOSTO 

Lá vou eu registrar sentimentos e acontecimentos relativos ao percurso existencial deste cidadão brasileiro durante o mês de agosto. 

Enquanto escrevo, tenho a companhia da banda Nirvana, tocando o Acústico MTV - Unplugged in New York. Álbum espetacular!

SAÚDE 

O mês começou com o procedimento médico de retirada de uma lesão na língua, lesão descoberta por observação minha mesmo. 

Foram dois meses de consultas e investigações até se chegar ao diagnóstico e retirada da leucoplasia. 

Amig@s leitores, cirurgia na língua é foda! Foi uma semana sem conseguir mastigar e comer alimentos sólidos. Fiquem atentos a manchas brancas na região da boca. Vou ter que acompanhar o caso pelo resto da vida, pois pode voltar.

Sigo sendo um homem de sorte. Já retirei um câncer de pele da cabeça e uma lesão potencialmente perigosa da língua. Com isso, tiro uns pedacinhos do corpo e preservo o corpo todo.

Colesterol e glicose

Somos natureza, animais mamíferos. Somos nossa genética somada ao percurso do viver. A minha genética veio programada com uma bomba-relógio: doenças crônicas que evoluem para infarto, AVC e doenças agravadas por colesterol e glicose alterados.

Sempre pratiquei atividades físicas, principalmente aeróbicas. Aí meu sistema locomotor bichou, o quadril deu problema. E com a redução da corrida, o colesterol vem aumentando insistentemente desde 2018. Dureza! Não gosto de outros esportes aeróbicos. Amo correr!

Decidi insistir nos trotes, vou correr em subidas para ter impacto menor e concentrar muito na pisada. E vou caminhar com ritmo bom e batimento cardíaco maior por pelo menos 40'. Vou planilhar as atividades aeróbicas por seis meses e fazer novo exame de sangue. Vamos ver se estabilizo os níveis de colesterol e glicose.

CULTURA

Terminei a leitura do boneco de meu livro de memórias. Boneco é uma edição para avaliar o conteúdo antes dos acertos finais. Gostei do trabalho feito pela equipe de Cleusa Slaviero, da Editora ComPactos. Agora é fazer algumas unidades e lançar ao mundo um pouco das histórias dos bancários que vivemos juntos nos anos dois mil.

Sigo firme no trabalho cansativo de sistematização de meus textos nos blogs de cultura e sindical, são cerca de seis mil postagens. Um dia eu termino. Estou relendo, diagramando e encadernando. Já tenho vários cadernos prontos. Posso dizer a vocês que tem muito texto que teria valor histórico se os tempos fossem outros.

Como a vida é um instante, tenho avaliado que preciso começar a ler com disciplina livros, livros de literatura, de áreas que gosto, livros clássicos. Não sei até quando vai minha sorte e não poderia passar um dia sem ler meus livros, alguns adquiridos e aguardando minha leitura há décadas, décadas!

Conjugado a uma rotina de leitura diária, enquanto estamos por aqui, posso escrever em minhas páginas para compartilhar gratuitamente o que eu aprendi ou refleti sobre as leituras que tive a oportunidade de fazer. Esse é o objetivo dos blogs desde que os criei.

POLÍTICA

Durante décadas como dirigente nacional da classe trabalhadora, tive o privilégio de aprender política. A consciência política que adquiri me permite ter uma leitura atenta da realidade brasileira e mundial, e dos seres humanos. A situação do mundo está muito séria. Diria que vivemos um momento decisivo para a humanidade e para o planeta Terra.

Se tivesse sido aproveitado no movimento social de onde vim, teria que ler e compreender e repassar toda a leitura que tenho da realidade aos meus companheir@s. Não tendo mais utilidade para o movimento, tenho que me policiar para não "perder" tempo com a política, preterindo meu objetivo de me dedicar à cultura e autoconhecimento.

Se me deixo levar pelo cacoete de décadas de lutas políticas, me pego querendo me meter em temas que não vão me levar a lugar algum, a não ser saber um pouco mais do que já sei alguma coisa de política e sentir mais impotência por não poder mudar a realidade, pois nem na política estou.

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Enfim, tenho que fazer algumas coisas pessoais para continuar por aqui e tenho que ter disciplina e amor-próprio para fazer algo pelo conhecimento, tanto para mim, quanto para as pessoas que lerem as coisas que escrevo.

Seguimos vivendo. Viver é uma oportunidade diária.

Will i am


sábado, 30 de agosto de 2025

O sentido da vida (8)



"Sentia-me três vezes desgraçado: meu pelo era mosqueado, haviam-me castrado e os homens imaginavam que eu não pertencia a Deus nem a mim mesmo, como é próprio de todo ser vivente, e sim, a um cavalariço." (Kolstomer - História de um cavalo, Tolstói, 1886)


As relações sociais dão sentidos ao viver

Qual seria o sentido da vida, se não há nada dessas abstrações inventivas do animal humano, aquele que dominou a natureza, inventou a linguagem e ao final se perdeu acreditando em suas próprias abstrações?

Passou o dia envolvido com um texto extraordinário do século XIX, criado por um dos maiores escritores da Rússia, Leão Tolstói. No enredo, o narrador nos conta a história de Kolstomer, um cavalo que sofreu preconceito, violência e abandono, algo comum na vida de milhões de pessoas neste mundo cruel.

A leitura definitivamente é uma das invenções humanas que podem contribuir para dar significados à vida das pessoas. Ler literatura, ciências e história permite aos leitores se libertarem da triste sina da ignorância, o principal motivo para milhões de animais humanos serem escravos manipulados por espertalhões. 

Naquele dia, refletiu sobre muitas coisas, todas elas ligadas ao sentido da vida: ao parabenizar seu pai pelo aniversário de 83 anos, agradeceu a ele por tudo que fez para todas as pessoas que ele ajudou a se estabelecerem neste mundo cruel e injusto.

Ainda estava pensativo sobre o sentido da vida do personagem Kolstomer... mas o sentido da vida de seu pai, e de sua mãe, e de sua própria vida era mais compreensível àquela altura da existência. 

É notório o sentido de complementaridade e de interdependência que existe na vida da espécie humana na natureza. A vida de seu pai contribuiu para a existência de muitas pessoas da família, assim como sua própria vida naquele momento. 

O ser humano é um ser social por natureza. As relações nos dão sentido.

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sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Instantes (11h20)



Refeição Cultural

Acordei pensando em retomar a leitura do excelente livro de Aline Miglioli, jovem intelectual que se debruçou no estudo da questão da moradia em Cuba. 

É muito gratificante ler um texto que te esclarece diversas dúvidas em relação a um tema de interesse. Admiro Cuba e o povo cubano e a professora Aline me esclareceu muita coisa em algumas dezenas de páginas. 

O olhar de economista dela ampliou minha compreensão sobre a história e a situação de Cuba. Como é bom aprender com pessoas dispostas a compartilhar seus conhecimentos conosco!

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Agora vamos para a rua praticar atividade física aeróbica, pois viver é uma oportunidade de aprender e seguir melhorando como um ser humano que sabe o quanto é incompleto.

A conversa com nossa médica de família ontem foi excelente e devo ter disciplina nas atividades físicas para tentar alongar minha permanência no mundo e com pessoas de minha relação. 

Will i am 

29/08/25

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Livro: Memórias de um trabalhador politizado pelos bancários da CUT - William Mendes



Refeição Cultural

Ler minhas Memórias em formato de livro foi uma experiência bem diferente da leitura dos capítulos no blog. 

O trabalho de equipe da Editora ComPactos tornou a experiência bastante agradável, na minha opinião. 

Escrevi as Memórias entre o final do ano de 2021, auge da pandemia, e agosto de 2023. A base principal de consultas para a confecção dessas Memórias foi os milhares de textos de meu blog sindical: A Categoria Bancária - InFormação e História.

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A importância da História 

Por muito tempo fiquei me perguntando como foi possível as lideranças da República Socialista de Cuba resistirem a décadas de bloqueio e tentativas de mudança de regime por parte do vizinho, os Estados Unidos. 

A compreensão veio após passar a estudar um pouco a respeito da história de Cuba e da Revolução Cubana para visitar o país. Tive a oportunidade de ir a Cuba duas vezes e a experiência me ajudou a formular uma explicação para tamanha resistência: Educação e História.

A educação do povo cubano baseada nos ensinamentos de José Martí há mais de um século e a importância que o governo revolucionário cubano dedica à história são fundamentais para a manutenção do espírito altivo e patriótico das pessoas, geração após geração de cubanos desde 1959. A professora Maria Leite, especialista em Cuba, nos fala de cubanidad e cubanía para expressar esse sentimento que o povo tem de amor à sua pátria.

Sem Educação e sem História um povo não consegue resistir à ideologia do capitalismo e suas ferramentas cada vez mais avassaladoras na captura de corações e mentes. 

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O nascimento da edição impressa das Memórias

Ao aceitar a sugestão de transformar em livro as dezenas de capítulos de memórias que fiz em meu blog sindical durante a pandemia mundial de Covid-19, sugestão da editora Cleusa Slaviero, os textos foram ganhando outra leitura e a sistematização no formato de livro me permitiu ler e reler e reler e fazer textos acessórios para apresentar as minhas Memórias.

Enfim, diria hoje que organizar uma edição de livro é uma oportunidade interessante de manusear e refletir sobre os próprios textos que o autor fez sem aquela intensão inicial de editar um livro.

Um dos motivos para realmente decidir reunir os textos em uma edição impressa é a questão muito atual da guarda de produção cultural da humanidade em "nuvens", em formas digitais e virtuais majoritariamente guardadas nos servidos de poucas big techs que dominaram o planeta Terra em sua área. 

Há tempos venho alertando leitoras e leitores de meus blogs para que não depositem toda a sua produção cultural nessas tais "nuvens" dos inimigos da humanidade, as corporações capitalistas que fizeram da internet e da tecnologia da comunicação uma máquina de manipulação da humanidade.

Imprimir e presentear alguns conhecidos é uma forma de deixar em algumas estantes e locais dispersos do mundo um pouco da história de um militante de uma categoria de trabalhadores que faz parte da luta de classes entre os capitalistas e nós o povo explorado por eles, no Brasil e nos demais pontos geográficos do mundo.

Ao reler pela enésima vez os 39 capítulos e o pequeno livro anexo com a história dos bancários nos primeiros anos do governo do Partido dos Trabalhadores, e com o olhar de estudioso que tenho (não posso negar isso), concluo que ali contém informações relevantes no que diz respeito a um recorte do tempo de nossa categoria bancária, do segmento dos funcionários do Banco do Brasil, da corrente política majoritária no campo cutista e do próprio Brasil durante a fantástica experiência vivida pelo povo brasileiro através dos governos do PT, de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.

O trabalho de confecção dessas Memórias, dessas histórias, foi grande. A releitura foi trabalhosa. Mas entendo que foi necessário editar o livro. Os textos não têm só informações históricas, têm momentos de emoção, de alegrias e de tristezas, afinal de contas o autor é um militante, é um ser humano como todos os demais.

Por fim, afirmo a vocês que os textos são sinceros, é o que posso garantir aos leitores que já os leram no blog e aos que por acaso venham a lê-los editados na forma de livro nessas minhas Memórias

O nome comprido do livro é o que tinha que ser, pois o autor realmente é hoje o resultado real de seu mundo do trabalho, um trabalhador que passou a ser outra pessoa depois do convívio com os bancários da maior central sindical do país, a nossa querida Central Única dos Trabalhadores e Trabalhadoras.

Agora que reli o boneco final do livro, é imprimir algumas unidades e lançá-las ao mundo.

William Mendes

Dia dos Bancários

Aniversário da CUT

28/08/25