domingo, 5 de outubro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Domingo, 5 de outubro de 2025.


FORMAÇÃO NA UNESP

No sábado, concluímos um curso de extensão universitária que iniciamos em julho. O curso "Como impedir o fim do mundo - Colapso ambiental e alternativas", promovido por IBEC, Unesp e demais parceiros, superou nossas expectativas - minhas e de meu filho.

Como admiro o papel social desempenhado pelas pessoas que se dedicam à educação e cultura! Ensinar e transmitir conhecimentos é uma das funções mais nobres e importantes da espécie humana.

Foram 50 horas de aulas com professoras e professores de altíssimo nível, compartilhando conosco conceitos e conhecimentos das áreas de economia, política e meio ambiente, tendo como referência as obras de Karl Marx e estudiosos marxistas como István Mészáros. Curso espetacular! 

Estou muito reflexivo por causa desse curso.

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ATO CONTRA O GENOCÍDIO DO POVO PALESTINO

Estive em diversas manifestações nas ultimas semanas, mas estava muito cansado hoje para participar do ato na Avenida Paulista em defesa da causa palestina e pelo fim do genocídio em Gaza. Minhas energias corporais estão diferentes de outras épocas. 

Todo apoio à causa do povo palestino!

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CADERNOS DOS BLOGS

Não tenho conseguido avançar no trabalho de sistematização de minha produção cultural ao longo das últimas duas décadas. Já fiz bastante coisa, mas estou longe de acabar.

Queria terminar a confecção dos cadernos neste ano, mas não darei conta. São mais de seis mil registros. Pode ser vaidade o desejo de salvar os textos, mas ali contém um pouco de nossa história coletiva também. Tenho dó de deixar se perder tudo que está registrado naquelas páginas digitais. 

MEMÓRIAS

Estava pensando nestes dias: já recebi as unidades que editei de meu livro de memórias sindicais, registros retirados de um dos blogs. Agora que tenho o livro em mãos, estou em dúvida sobre o que fazer com eles. Enviei dois a amigos e presenteei mais dois a pessoas de minhas relações. 

Apesar de conter passagens interessantes da história das lutas da categoria bancária, não sei se alguém perderia tempo lendo isso. Os textos foram escritos no blog durante a pandemia de Covid-19 e uma coisa é disponibilizar minhas memórias num lugar para quem quiser lê-las, outra coisa é dar a alguém um conjunto de textos como se estivesse obrigando a pessoa a ler aquilo...

Enfim, estou cheio de dúvidas meio bestas, que não mudam nada o colapso atual da sociedade humana. 

William 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Instantes (12h24)



Refeição Cultural


IGNORÂNCIA 

Estava descendo pelo elevador quando percebeu que era tão ignorante quanto a maioria das pessoas que habitavam o mundo naquele momento da história humana. Um igual, lógico! (Os tempos são de ignorância)

O pior é não ver ou ver e não perceber, ou ainda saber de seu não saber sobre quase tudo e não ter a humildade predominando em seus pensamentos e ações cotidianas. Cada vez mais, sabe-se menos das coisas.

Vaidade é uma merda! Vaidosos sequer percebem que são vaidosos, às vezes. A pessoa por saber alguma coisinha já acha que sabe muito... pior são aquelas que por saber algo específico, as pessoas "técnicas", se acham alguma coisa. 

Naquele momento, se lembrou que não sabia nada como todo mundo. 

Sejamos humildes. Menos vaidade. Somos todos ignorantes, não sabemos quase nada, mesmo quando sabemos algumas coisas. O que separa uns ignorantes de outros é o desejo de saber mais e o esforço de estudar e estar aberto ao novo e ao diferente e ao desconhecido.

Will i am

02/10/25

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Diário e reflexões



Refeição Cultural

Terça-feira, 30 de setembro de 2025.


SETEMBRO 

Acordei sem ânimo para correr um pouco como havia planejado. Era só um trotinho para fechar o mês e a planilha de atividades físicas que pensei para fazer a minha parte no alongamento da minha existência. Sinto que meu corpo não quer colaborar comigo nesse intuito de permanência por aqui.

Tenho lido coisas e visto coisas que têm me colocado a pensar bastante sobre a vida e a morte. Aliás, muita gente boa e decente tem morrido, gente que se não deixou feitos importantes para a coletividade, ao menos não fizeram o mal e não causaram prejuízos irreparáveis à sociedade humana e ao planeta Terra*. E percebo mais gente ruim grassando por aí. Gente que só pensa em si e foda-se tudo ao redor.

(*usei o termo gente no singular e no plural, porque achei melhor assim)

Os dilemas existenciais persistem para o pequeno burguês que me tornei neste momento do percurso do viver. Como não tenho feito nada importante, algo útil à coletividade, meu cotidiano é todo preenchido com coisices que mesclam uma certa tentativa de resgate da vaidade (o pecado preferido do diabo), certo senso de consciência política e social, uma vontade de fazer algo pelo mundo e por pessoas queridas, e uma busca de sentidos para ainda estar entre os seres viventes neste belo planeta de bilhões de anos maltratado e sendo destruído faz pouco tempo por uma única espécie: nós. 

No entanto, apesar dessas coisices cotidianas, confesso meu sentimento de impotência que às vezes me dá até ânsia de vômito. Se é verdade que ajudo alguém aqui ou ali, alguma causa coletiva aqui ou acolá, no fundo, no fundo, me sinto um inútil. E isso é foda, muito foda! Minha geração foi impregnada com certo senso de responsabilidade e culpabilidade pelos males do mundo. O mundo é uma merda por culpa nossa, ou nossa também. O que estou fazendo para mudar essa merda toda ao meu redor? Heim?

Que mais registro nesse diário pessoal e público? Palavras palavras palavras... tudo disponível para treinar algoritmos de plataformas de bilionários que fodem o nosso mundo. Milhões de ideias, sentimentos, informações, histórias, textos feitos por nós humanos que escrevemos para uns fdp roubarem tudo neste momento da história humana, do capitalismo mundial. 

Dilemas pequeno burgueses... ler ou trabalhar minha sistematização dos milhares de textos produzidos em duas décadas de existência na melhor fase produtiva do cidadão? A ameaça à existência da produção cultural na internet segue se ampliando. As plataformas e corporações do império decadente do Norte vão vaporizar toda a produção cultural produzida por suas vítimas espalhadas pelo mundo a qualquer momento. As nuvens com a produção humana das últimas três décadas vão desaparecer...

Tudo bem que a minha ou a sua produção textual ou de outras mídias pode não ter importância nenhuma para o sistema ou os donos do poder, mas têm importância para mim e para você. É a minha vida. É a sua vida. São nossas histórias. Tudo que criamos está nas nuvens, nos processadores, de meia dúzia de gente da pior espécie de gente que surgiu no último período da espécie humana. 

Se seguisse a razão do que acabei de refletir, largaria de novo essas leituras que foram aparecendo nos últimos meses e retornaria ao meu trabalho de sistematização de meus textos. É foda! Quando vejo, um curso de extensão que aparece no caminho, mais um livro aqui, outro ali, mais um, mais outro... e gosto de ler para tentar me manter humano, humano decente! Tem cada humano ao meu redor que pqp! Mas e o resgate de meus textos? De minha história registrada nas páginas dos blogs?

Aff! O que fazer?

Fecho o mês com um monte de leitura no meio do caminho, pouco ou quase nada de sistematização da minha produção textual e com um corpo colapsando feito o planeta Terra (o curso com os economistas marxistas me atualizou de forma chocante!).

Ainda estou aqui...

William 

(11h33)


Post Scriptum: ao final do dia, ainda na ânsia de fazer algo por si mesmo, ele saiu para correr um pouco e, dentro do seu limite, correu 5K, percurso que não corria faz tempo. Esforçado e com atitude, ele até que tenta alongar sua estadia no mundo.

sábado, 27 de setembro de 2025

Entrevista: João Pedro Stedile (2005)



Refeição Cultural

A entrevista concedida por João Pedro Stedile, liderança do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), ao professor Juarez Guimarães para a confecção do livro "Leituras da crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo" (2006), livro editado pela Fundação Perseu Abramo, é uma aula extraordinária sobre o nosso país e as questões centrais à nossa classe, a classe trabalhadora.

À época, as entrevistas reunidas no livro foram fundamentais para entender melhor a crise do ano de 2005 - apelidada pela oposição e pela imprensa capitalista de "crise do mensalão" -, ocorrida no primeiro mandato do presidente Lula, do Partido dos Trabalhadores. 

Eu estava no começo do segundo mandato de representação de meus colegas bancários e todas as reflexões políticas e filosóficas que li e ouvi me ajudaram no diálogo com a base, e eu estava muito envolvido no trabalho de base da categoria. 

Tanto é verdade o que afirmo que durante o ano de 2005 e 2006 os locais onde me sentia mais acolhido eram nos departamentos e agências do BB, porque os bancários e bancárias conheciam minha atuação em defesa de nossos direitos e demonstravam apoio ao meu trabalho político e organizativo, mesmo sendo um militante petista e cutista, alvos das oposições de direita e conservadoras e das oposições que se diziam "mais à esquerda" que nós (coisa questionável).

O livro foi importante para mim e segue atualíssimo em seu conteúdo neste momento da história brasileira, ano de 2025!

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"O Estado brasileiro é um Estado montado pelas elites para unicamente garantir seus privilégios."

Essa afirmação feita por Stedile em 2006 serve para qualquer período da história do Brasil sob análise. Ela pode ser dita hoje, 2025, e poderia ser dita no passado, em 1968 ou 2016, ou ainda em 1888 ou 1889.

Seguem algumas afirmações de Stedile. 

SAIR DA CRISE COM A ENERGIA DO POVO 

"A verdadeira natureza da crise não era apenas ética; era uma disputa entre as classes dominantes para transformar o governo Lula em refém das políticas neoliberais."

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"A nossa força não está apenas na justeza das nossas ideias, está no contingente que conseguimos organizar para as mudanças."

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"Nós achamos que há uma alternativa para o governo; não basta o governo ficar respondendo se há ou não corrupção - isso é secundário nesta altura da luta de classes. O que é importante é o governo recuperar o debate na sociedade sobre a necessidade de um novo modelo econômico para o país." (o MST disse isso de viva voz a Lula durante a crise)

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O DESAFIO DAS FORÇAS SOCIAIS 

"A sociedade brasileira vive uma crise de destino, uma crise de projeto."

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"Se você parte de uma análise, como certos setores da esquerda, que estão no governo, e das classes dominantes, de que a economia brasileira vai muito bem, a sua leitura é diferente (da) dos movimentos."

Comentário: Stedile explica bem os malefícios do agro e do modelo exportador do Brasil para o povo e o país. 

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Consequências do neoliberalismo 

"Essa crise ideológica de valores talvez seja uma das consequências mais graves do neoliberalismo. E isso vai para dentro dos movimentos também - o dirigente sindical não quer ser presidente para se transformar num líder de massas, ele quer ser presidente porque em algum momento ele vai viver - ele pessoalmente - melhor do que sua categoria, por benesses. Isso é o antivalor: eu quero resolver o meu, e não o da minha categoria."

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Stedile explica que 1964 e 1989 foram dois momentos brasileiros de derrotas dos movimentos populares no país. E quando Lula foi eleito em 2002 era um momento de descenso dos movimentos. 

"Costumo citar uma fala do Eric Hobsbawm em que ele considerou extemporânea a vitória do PT nas condições históricas do Brasil. Por quê? Normalmente a esquerda ganha eleições, ou seja, batalhas eleitorais, como fruto do ascenso do movimento de massas. Nós aqui tivemos uma vitória da batalha eleitoral importante, que foi a vitória do Lula, mas em um momento de descenso."

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"As esquerdas, se quiserem ser consequentes, têm que trabalhar com uma visão de longo prazo."

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Tarefas dos movimentos sociais de esquerda 

1. Formação política da militância: preparar pessoas que interpretem a realidade e tenham capacidade de transformá-la

2. Voltar a fazer trabalho de base, o que significa organizar as pessoas nos seus locais de vivência, seja na fábrica, na comunidade rural, no colégio ou universidade 

3. A necessidade de priorizar o trabalho com a juventude pobre urbana, setor social que representa as reservas e a vontade de mudanças 

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LUTA DE MASSAS

"Quando não se prioriza a luta de massas, abandona-se também a concepção de que o povo é e deve ser o principal ator político das mudanças."

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"O problema não é a via institucional; ela faz parte da vida das pessoas, nós vamos debater sempre, vamos participar sempre. O problema é ter abandonado o outro lado, a luta de massas. Porque são as lutas de massa que acumulam força, que educam as massas; os militantes e os quadros são educados na formação política, mas as massas são educadas na luta. E, quando não se prioriza a luta de massas, abandona-se também a concepção de que o povo é e deve ser o principal ator político para as mudanças."

COMENTÁRIO: aqui cabe um comentário do blog, quando critico o movimento sindical por não fazer mais assembleia presencial: isso é péssimo! Não educa a base! Se o dirigente sindical não tira o trabalhador de seu trabalho sequer para ir a uma reunião para decidir seu salário e direitos, como ele quer que o trabalhador participe de uma manifestação política por democracia ou direitos políticos ou civis?

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"As eleições não transformam o povo em agente de mudança. Nas eleições o povo é um mero ator passivo que vai até a urna e deposita o seu voto e depois não tem controle nenhum, tanto é que nem se lembra em quem votou, para quem ele deu esse poder de representação."

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"Só haverá uma inflexão mais democratizante do governo se houver pressão das bases partidárias, dos movimentos sociais e das mobilizações de massa."

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SOBRE O MST E A LUTA PELA REFORMA AGRÁRIA 

"O neoliberalismo afetou decisivamente a viabilidade da reforma agrária no Brasil."

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O MST é diferente da esquerda ortodoxa 

"Incorporamos no movimento a ideia da autonomia do partido, mas incorporando no movimento social princípios organizativos que os partidos tinham preservado ao longo da luta de classes. Então, a ideia da formação de quadros, de ter os nossos jornais, de ter as nossas escolas, a ideia de núcleo de base, tudo isso aprendemos da luta de classes em geral, ou seja, que os partidos eram os condutores - e nós incorporamos no movimento. Essa é a novidade do MST."

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"A reforma agrária no Brasil não é viável se não for parte de um projeto antineoliberal ou antiimperialista."

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Stedile já avaliava em 2006:

"Hoje estamos vendo que o neoliberalismo no campo, na agricultura, é a subordinação completa das formas de organização da produção agrícola às transnacionais e ao capital financeiro - isso inviabiliza definitivamente a possibilidade de organizar a produção camponesa."

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"Então, os nossos inimigos antes eram o latifúndio atrasado, patrimonialista, que reservava a terra como poder econômico e político. Desde a década de 1990, para a reforma agrária avançar precisamos enfrentar um poder muito maior, o poder do agronegócio, das transnacionais, do capital internacional e suas alianças internas, como a própria mídia."

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Tem uma parte da entrevista na qual Stedile explica as estratégias do MST, é uma espécie de texto "O que fazer". (p. 168 e seguintes)

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"O capitalismo (...) agora, na sua etapa monopolista, não disputa mais a propriedade da terra conosco, ele disputa o controle da produção e da comercialização."

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"E foi aí que fomos nos abastecer não só nas obras clássicas de Marx e dos que procuraram interpretar o capitalismo depois de Marx - e fugimos do reducionismo de 'marxismo-leninismo'; a nossa visão é de que todos os pensadores vão contribuindo numa elaboração permanente da ciência e da reinterpretação da realidade."

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Reforma agrária adequada ao caso brasileiro 

"E chegamos à seguinte síntese, que ainda está em processo de construção: evidentemente não há mais espaço no Brasil para uma reforma agrária do tipo clássico capitalista, a burguesia não precisa distribuir terra, e, ao mesmo tempo, não adianta ficarmos sonhando com uma reforma agrária socialista, a famosa tese de Lenin de nacionalizar a propriedade da terra, isso também não resolve. Temos que construir um projeto de reforma agrária que seja coadunado com um projeto popular de desenvolvimento nacional."

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"Se você não tiver vontade, se não tiver projeto, não constrói força para mudar."

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"O agronegócio é a remaquiagem da velha plantation do colonialismo, não traz nenhum benefício para a sociedade brasileira."

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Stedile nos explica a Lei Kandir (governo FHC), que isenta exportações de produtos primários de ICMS e tem efeito de transferir mais-valia social aos fazendeiros do agro, exportadores e mineradoras. (p. 177/178)

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Princípios do MST

"Que princípios são esses? A ideia da direção colegiada, de não ter presidente, secretário, tesoureiro, embora as divisões de função existam; a ideia de direção coletiva; de formação de quadros; de garantir unidade e disciplina, não disciplina hierárquica ou militar, mas disciplina da democracia - se a maioria decide, é preciso que haja unidade em torno desta decisão; a ideia do trabalho de base; da luta de massas; e a ideia de inserção dos militantes e dirigentes em todo este trabalho."

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Simbologia 

"Ao mesmo tempo, outros sociólogos nos criticam por recuperarmos a cultura, a mística (...) Procuramos em todas as atividades do movimento incorporar essa visão pedagógica de cultivar o nosso projeto com atividades culturais, com atividades lúdicas, com a simbologia."

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"Faz-se isso em jogo de futebol, em tudo o que tiver massa você usa o símbolo, porque ele resume, ele sintetiza e aglutina em torno do projeto, do objetivo coletivo: bandeira, hino, cantos, alegorias, passeatas, palavras de ordem, tudo isso chamamos de mística."

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SOBRE A CONJUNTURA POLÍTICA NACIONAL 

"A classe dominante faz a disputa política e ideológica não pelo partido, mas pelos meios de comunicação."

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"É no meio do povo, da mobilização de massas, que vão se reconstruindo forças e rearticulações de poder real que podem mudar."

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Lição final: está desanimado ou em crise, vá para a base!

"Nós do MST, e aconselho isso a todos os amigos/as, quando desanimamos sempre nos colocamos como tarefa: voltar e passar uma semana no meio do povo, num assentamento, num acampamento, e lá nós recuperamos as energias. Porque, no fundo, é no meio do povo, da mobilização de massas, que vão se reconstruindo forças e rearticulações de poder real que podem mudar."

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Comentário final 

Que entrevista extraordinária! Mais atual que nunca!

Essas lições são de 2006. 

Por esses dias, vi uma entrevista de Stedile à CartaCapital, e aprendi tanta coisa que nem digo aqui. Daria outro textão.

Ouçam as lideranças do MST! É muita sabedoria, amigas e amigos leitores.

William

27/09/25 (22h14)

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Entrevista: Wanderley Guilherme dos Santos (2005)



Refeição Cultural

Em 2006, a Fundação Perseu Abramo lançou o livro "Leituras da Crise - Diálogos sobre o PT, a democracia brasileira e o socialismo". O professor de economia Juarez Guimarães entrevistou 4 personalidades de diferentes áreas do conhecimento humano, uma delas o cientista político e professor Wanderley Guilherme dos Santos. 

À época, eu era dirigente sindical da categoria bancária e as entrevistas me ajudaram bastante a compreender as contradições inerentes à política partidária e oriundas da democracia e me ajudaram no diálogo com meus colegas bancários sobre a crise política (vulgo "mensalão") daquele momento em 2005 do governo Lula e do Partido dos Trabalhadores. 

Rever as entrevistas neste momento brasileiro, no qual 12 deputados do PT votaram a favor da PEC da impunidade no Congresso Nacional, não deixa de ser uma forma de tentar compreender as contradições do jogo democrático, e lembro que compreender não é concordar, é compreender. 

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O GRANDE JOGO IMPUGNATÓRIO

Cito algumas frases e opiniões interessantes de Wanderley Guilherme dos Santos. Ele afirmava em seus artigos que a oposição tentou um golpe em 2005.

Juarez Guimarães deixou que o entrevistado argumentasse contra as ideias contrárias à sua leitura à época: que as elites econômicas eram beneficiadas e então não queriam golpe; que a oposição ao governo Lula tinha direito legítimo de tentar o golpe ou inviabilizar o governo porque o PT havia feito o mesmo; e que a crise era consequência da existência de corrupção no governo e de caixa dois. 

Ao longo das citações do professor Wanderley, teço alguns comentários.

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"O que tivemos agora foi um caso estritamente de tentativa de golpe por parte de forças políticas fora do poder."

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"Quando se fala em elite, se pensa logo em elite econômica. Não, elite são todos esses jornalistas que têm coluna, por exemplo."

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"A opinião do PT e das oposições durante os oito anos do governo Fernando Henrique era totalmente irrelevante do ponto de vista parlamentar, não tinha força para fazer coisa nenhuma; se tivesse força o governo Fernando Henrique não teria aprovado 18 emendas constitucionais no seu primeiro mandato."

Wanderley disse que a oposição a FHC era de no máximo 144 deputados. 

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RETÓRICA DA "JAGUNÇAGEM"

"Não, estou dizendo que julgamento político não é um julgamento que abdica de fatos (...) tem de haver um fato; dizer que isso não importa porque o julgamento é político é uma barbaridade, isso é nazismo, é um julgamento nazista."

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DESQUALIFICAÇÃO DO VOTO

"Ao analisar as últimas pesquisas [de janeiro/fevereiro de 2005], que revelam a recuperação da imagem do presidente Lula, os comentaristas reacionários que participaram do grande jogo impugnativo fizeram questão de acentuar que a recuperação é entre os mais pobres e menos educados."

Achei interessante o entrevistado chamar os analistas de "semi-intelectuais".

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"A democracia brasileira é muito forte porque é muito complexa, há muitos interesses em jogo."

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"O que vimos foi o presidente do PFL declarar: 'Não vamos deixar o governo governar'. Isso é um absurdo."

Wanderley faleceu em 2019, aos 84 anos. Imaginem se ele tivesse visto todo o descalabro que vivenciamos após a abertura da Caixa de Pandora, com o bolsonarismo...

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A DEMOCRACIA ASSUSTA

"A democracia é uma bagunça, por definição. Não há como organizar a democracia - só não tendo democracia."

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"A democracia assusta aqueles que sempre foram democratas enquanto a democracia não existia."

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"Os nossos políticos de 50 anos atrás não faziam nem ideia do que era democracia porque nunca viveram uma. Os presidentes norte-americanos do século XIX jamais souberam o que é a democracia, embora falassem o tempo todo dela, porque jamais tiveram uma - mulher não votava, negro não votava."

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MÍDIA E DEMOCRACIA 

"J. G.: O senhor identificou também outra moeda de troca, que seria o processo de controle da agenda - a imprensa, muitas vezes, quer controlar a agenda do governo como se controlasse a pauta de seus repórteres. 

- Exatamente..." (respondeu ele)

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PRESIDENCIALISMO E MULTIPARTIDARISMO

"Se você quer avançar mais, se seu partido é comprometido com mudanças maiores que a rotina ou a inércia, tem que contar com dificuldades e oposições maiores."

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"Qual é a versão que o principal partido da mudança no Brasil, o PT, tem a respeito de si próprio nas suas relações com o mundo privado?"

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Juarez Guimarães pergunta sobre custo das eleições no Brasil e financiamento delas.

Wanderley repete sua questão sobre a relação do PT com o mundo privado e sua clareza com a militância e eleitores.

"Não é possível ter simultaneamente, fazendo parte do mesmo partido, a opinião de socialistas, religiosos e pragmáticos do crescimento econômico de qualquer maneira. E a verdade é que o PT está convivendo com isso e não tem tido coragem de enfrentar este problema. Insisto que isso é crucial - e não se resolve com a reforma eleitoral. Nenhuma reforma eleitoral vai resolver isso para o PT, podem perder a esperança."

O entrevistado disse isso faz duas décadas! Eu não concordo totalmente com ele, mas debateria a questão.

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FINANCIAMENTO DAS CAMPANHAS 

"Não sou favorável ao financiamento público de campanha..."

Ele explica que as eleições já têm alto custo público em todo o processo. 

Amig@s leitores, eu destaquei pontos da entrevista, nada substitui a leitura do texto completo.

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O GOVERNO LULA E O ESTADO BRASILEIRO 

"Há uma parte do Estado brasileiro que sempre foi inepta e outra parte que sempre funcionou bem."

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"O Estado brasileiro nunca foi preparado para um governo a favor da população pobre."

Wanderley avalia que o governo Lula melhorou o Estado, a máquina pública, em geral. 

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PT E PSDB

"O Brasil passou por um marasmo durante os oito anos de FHC, nada era possível, tudo estava fora dos limites da possibilidade."

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Gostei da explicação do entrevistado sobre a história do PMDB: "Ideologia a favor de nada".

"E também o PMDB tem uma herança do tempo em que era MDB (Movimento Democrático Brasileiro) e, na verdade, tinha uma ideologia a favor de nada, apenas de ser contra a ditadura. Todo mundo que era contra a ditadura estava no partido. Quando acabou a ditadura e foi preciso definir do que ele era a favor, aí complicou."

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Comentário final 

Foi bom reler o professor Wanderley Guilherme dos Santos avaliando a crise política de 2005 neste momento da história do Brasil, em 2025.

Os intelectuais têm muito a nos ensinar. Sempre!

William 

25/09/25 (0h35)

terça-feira, 23 de setembro de 2025

O sentido da vida (10)



Poderia definir como sentido da vida o simples fato de buscar o conhecimento em si?

Ao ouvir uma explicação do jurista Lenio Streck, ficou encantado com o fato novo de algo que achava que já conhecia, mas que na verdade só conhecia parte da coisa e não a sua totalidade, e ouvindo o intelectual explicando o sentido completo daquilo se pegou admirando a beleza da erudição e do saber na vida de um ser humano. Lenio usa sua inteligência em benefício das causas justas e populares.

Outro dia, ele havia visto o documentário "O longo amanhecer" (2004) sobre o grande brasileiro Celso Furtado e se sentiu orgulhoso daquela figura extraordinária, um compatriota seu. O documentário foi lançado quando o economista ainda estava vivo e ao rever aquele filme e perceber a atualidade de seu pensamento e o amor daquele brasileiro por seu povo e pelos povos latino-americanos, ficou mais uma vez pensando sobre a maravilha da erudição e suas possibilidades para a libertação dos povos subjugados.

Ao olhar para trás, percebia facilmente que sempre teve o desejo de saber mais sobre o mundo e a vida, tinha aquela curiosidade filosófica que poderia levar a pessoa a ser uma estudiosa e se tornar alguém que atuasse no mundo em áreas ligadas ao saber. Mas sua vida trilhou outras veredas: queria ser professor, mas não foi; ter talvez uma profissão na área da educação, mas não teve. E os temas que dominou bem, durante sua vida útil, não serviam para mais nada.

Vivendo num mundo em colapso, numa sociedade humana que não demonstrava perspectivas de construir um amanhã melhor que antes, com sinais claros de tempos piores para a vida coletiva no futuro, poderia viver seus dias buscando algum conhecimento novo como forma de dar sentido à vida? As crises e colapsos em andamento apontavam até para a perda de interesse social no conhecimento, na ciência e na cultura.

Dilemas... qual o caminho a seguir? A fazer, se não houver caminhos?

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domingo, 21 de setembro de 2025

Diário e reflexões


Bem-acompanhado: a juventude militante de Osasco

Refeição Cultural

Domingo, 21 de setembro de 2025.


O Brasil viveu um dia bom. O povo brasileiro foi para as ruas se manifestar como não fazia faz tempo. Fiquei feliz de ver a participação e a alegria no rosto das pessoas. Senti um clima bom, e digo isso porque sempre participei das movimentações de rua. Conheço manifestações de todos os tamanhos e tipos de público.

Os brasileiros atenderam ao chamado de ocupar as ruas por causa do abuso dos parlamentares canalhas que compõem o Congresso Nacional. Ocuparam as ruas em defesa da soberania nacional, em busca de direitos como a redução da jornada de trabalho e a escala 6x1, por isenção de imposto de renda para quem ganha menos - a imensa maioria do povo ganha até 5 mil reais por mês -, pela tributação dos ricos e para que aqueles canalhas do Congresso não votem anistia para golpistas e impunidade para eles mesmos.

Foi um dia importante para o povo e para o nosso país. Um dia importante para quem preza a democracia e a soberania popular.

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REFLETINDO...

Pensei em escrever várias vezes nos últimos dias e acabei não escrevendo. Não sei, acho que preciso dar um tempo.

São tantas coisas acontecendo no mundo, no Brasil, em minha vida, tantas coisas!

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Hoje foi o Dia Nacional da Luta das Pessoas com Deficiência, 21 de setembro. Dias atrás, viemos do interior de SP conversando com o Carlos Eduardo, uma pessoa com deficiência visual, e durante algumas horas pudemos conhecer um pouco da realidade das pessoas com essa deficiência. Carlos é um dos poucos deficientes visuais no Brasil com um cão-guia, o Chicó. Ficamos encantados com eles e eu fiquei pensativo desde aquele dia. Nós temos que fazer algo por milhões de deficientes visuais e pessoas com outras deficiências. Estou com isso na cabeça há dias. 

A política deveria servir para isso, para ajudar as pessoas, e não para uns fdp f... a vida de milhões de pessoas e a natureza em benefício próprio. Que ódio dessa gente canalha e mau-caráter que ocupa o mundo humano prejudicando a vida da maioria e o planeta!

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Ao assistir ao vídeo de despedida do canal Tempero Drag, de Guilherme Terreri, e a pausa nas aulas da personagem drag queen Rita von Hunty, fiquei deprimido, triste de verdade. Guilherme já foi até tema de um capítulo de meu livro de memórias sindicais (aqui) por sofrer os malditos processos de cancelamento na época das eleições de 2022 por se posicionar sobre uma questão básica: votar no primeiro turno em candidaturas que representavam o que ele acredita. Ao falar da questão do genocídio do povo palestino e a continuidade dessa tragédia neste momento da história humana eu também me identifiquei de alguma forma com o que Guilherme partilhou conosco. 

Fiquei pensando sobre minha própria impotência e a validade das coisas que escrevo. Meus milhares de textos nesta plataforma são só mais uma fonte de dados para serem roubados sem citação para treinar as IA dos desgraçados das big techs que estão acabando com a inteligência humana e a vida na Terra. Leitores de verdade dos meus textos, deve ser uma parcela ínfima dos milhares de acessos mensais nos três blogs nos quais escrevo.

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Como disse, minha cabeça está a mil, a milhão... não quero registrar mais nada por hoje do que vai no meu "coração": o curso sobre o capitalismo e o colapso ambiental, curso fantástico no qual estou participando, me deixou pensativo pra caralho: como impedir o fim do mundo? (sinto que não vai rolar só na "paz e amor" das manifestações de rua); a sempre difícil relação pessoal com meu passado sindical e presente fora da política; as questões de família; minha saúde indo pro beleléu etc.

Chega.

William

terça-feira, 16 de setembro de 2025

O último poema

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O ÚLTIMO POEMA


O primeiro poema foi um balanço dos trinta anos.

A infância feliz e depois infeliz, do amor ao ódio.

Exploração infantil na venda do seu trabalho.

As relações de afeto, sempre regadas com lágrimas.


Aos trinta, já era pai e funcionário de banco público.

Formado, por acaso, em Contábeis. Não se formou

em Educação Física porque o salário não deu.

Passou no vestibular e entrou nas Letras...


A vida andou. Virou sindicalista. Se politizou.

Por duas décadas, outra vida, um novo homem.

Aos cinquenta, virada radical nos papéis sociais.

Saiu do BB. Da representação. Do espaço de atuação.


Aos cinquenta e seis anos, o mundo se desfaz.

Na política e na economia do seu país e do mundo, 

a extrema-direita e o capitalismo em crise estrutural

estão colapsando a sociedade humana e a mãe Terra.


No pessoal, o balanço da vida se parece com o mundo.

A saúde: bomba-relógio: genética e veredas da vida.

As relações: o retrato dos tempos: incomunicabilidades.

Teria contribuições a fazer... sente que não vai rolar.


William Mendes

16/09/25

domingo, 14 de setembro de 2025

O sentido da vida (9)



O acaso define a vida da gente


Olhava para o lago enquanto pensava sobre a vida. 

Muitas perguntas feitas naquele momento do viver eram perguntas retóricas. Já sabia a resposta. 

Não acreditava em destino, em conformações mágicas da vida, e explicações do tipo. Determinismo já não fazia sentido há tempos.

O funk rolava solto num carro próximo ao lago... o tema era ser feliz na favela... 

Deus e Jesus, e pastores, no domínio da vida do povo que está na condição da gente de onde veio. Tem também os orixás...


As respostas às perguntas retóricas eram claras para ele. Não tinha essa de culpa, culpa dele, culpa dos pais, culpa dos filhos, culpa do pecado original. Sem culpas. 

As coisas são como são muito em função das casualidades do viver. O por quê uns beberam muito e pararam, outros não... por quê uns foram por um caminho e outros por outras veredas...

Os acasos da vida. Não há nenhum determinismo nisso. Que nos perdoem aqueles que explicam tudo pelas lógicas mágicas 

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sábado, 13 de setembro de 2025

Diários com Machado de Assis (17)



Refeição Cultural

Jaboticabal, 13 de setembro de 2025. Sábado.


Sou admirador de nosso escritor Machado de Assis, um fenômeno da natureza da espécie humana, nascido no século XIX num canto do mundo chamado Brasil. O "nosso" que usei acima é referente a essa coisa em comum entre eu, você e Machado: a gente nascida no nosso canto, essa terra habitada por povos originários antes da chegada dos europeus e após os séculos de exploração e gestão do país com o olhar de fora, para o bem dos outros e não para o bem do povo que aqui nasce, vive e morre.

Para não dizer que nada sei de Machado, posso dizer que já li todos os seus romances e algumas dezenas de contos de sua autoria. Aí, pensei em conhecer alguma coisa sobre sua obra poética, e faz alguns meses li o primeiro livro de poesias do Bruxo do Cosme Velho: Crisálidas, publicado em 1864 (comentário aqui). Achei uma leitura exigente, diferente de quando leio poesias com linguagem mais prosaica. 

Não quero dizer com isso que poesia com linguagem prosaica é simples, pois as imagens e metáforas podem ser mais complexas que em poesias com linguagem mais rebuscada.

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Antes de seguir com a reflexão ou refeição cultural, faço uma observação que andei pensando. Eu tenho escrito comentários sobre livros, poemas, filmes e gêneros da cultura já faz quase duas décadas. Ao ouvir uma análise de um crítico de cinema, o PH Santos, na qual ele explicava o que é de fato uma "crítica" reforçou em mim a leitura de que o que faço em meus textos no blog não são críticas literárias ou sobre filmes, pois não são baseadas em questões técnicas da referida arte. No entanto, o fato de meus textos não serem "críticas" não tira alguma contribuição que eles tenham a respeito da obra comentada, pois meus textos são impressões e comentários sobre os efeitos daquela obra sobre minha pessoa, um cidadão dedicado à compreensão do mundo e da vida. Ou seja, meus textos têm o seu valor, mesmo não sendo formalmente "crítica" literária ou sobre filmes.

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Voltando aos poemas de Machado de Assis, após a leitura de seu primeiro livro de poesia, comecei a ler o segundo livro, Falenas, de 1870. Aproveitei longas horas de estrada para ler alguns poemas de nosso escritor maior.

Interrompi a leitura do livro Falenas para ler alguma crítica a respeito do tema e estou lendo artigos muito interessantes de um estudioso do autor. O articulista se chama José Américo Miranda, pesquisador da Universidade Federal do Espírito Santo, e suas contribuições para a compreensão das obras poéticas de Machado são esclarecedoras.

Amigas e amigos leitores, vou seguir na leitura dos artigos sobre esses dois livros de Machado. Pensei em escrever esse comentário da série "Diários com Machado de Assis" porque ter acesso a conhecimentos compartilhados é uma coisa extraordinária da parte boa dos seres humanos.

Sigamos aprendendo sobre literatura e nossos grandes autores e suas obras.

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Instantes

Pelo momento que estou vivendo, é inevitável pensar sobre os sentidos da existência humana. Inevitável. Até uns trinta anos de idade, avaliando de onde estou com quase o dobro da idade, e com a experiência que a sobrevivência me deixou nas entranhas do ser animal, teria vivido uma vida de um jeito e só daquele jeito. Uma vida para mim, egoisticamente para mim e pronto. Não tinha a formação política que adquiri pelas veredas da vida. Antes, tinha um ódio ferrenho do mundo, depressão, indignação, falta de perspectiva de futuro. Se tivesse tombado pelo caminho, não teria tido a oportunidade de conhecer outras possibilidades da vida humana. Vivi até aqui e até Machado de Assis conheci melhor após os trinta anos, a segunda parte da existência que por acaso tive.

Apesar da impotência que sinto hoje, neste instante, em relação ao mundo e às pessoas que gostaria de ajudar, impotência em relação a não poder fazer algo por pessoas queridas, algo que só elas mesmas poderiam querer fazer por si mesmas, eu adquiri uma consciência que me dá uma espécie de responsabilidade para estar vivo, para combater o cansaço que meu corpo apresenta, pois se eu deixar rolar, a vida se esvai num curto espaço de tempo, contrariando as estatísticas do meu perfil social, estatísticas que me dariam até umas três décadas ainda caminhando pela Terra.

A expressão pesada de nosso grande escritor na foto acima, com mais ou menos 65 anos em 1904, me deixa sempre pensativo. Machado é um grande representante de nossa espécie, um grande brasileiro, um escritor e intelectual muito à frente da mentalidade de seu tempo de vida, um homem que se tivesse vivido só a metade de sua vida, não teríamos a oportunidade de conhecer a produção humana que ele nos legou após seus trinta e poucos anos. Vejam com é a vida e o viver, o ir vivendo.

Se eu tivesse deixado de existir com meus trinta anos, não teria tido a oportunidade extraordinária que tive de, do nada, me politizar e viver uma vida de lutas coletivas, deixando de ser só mais um egoistazinho desses que temos aos montes por aí, e sabendo que nem viver eu queria quando já tinha vinte e poucos anos.

Tudo isso tenho pensado ao estudar o mundo, a vida, ao ver os jovens ao meu redor, ao tentar compreender os comportamentos das pessoas e tentar compreender, mesmo sem aceitar, mas compreender por que as coisas e as pessoas são como são. Tento me imaginar no lugar e no tempo delas hoje, aquele que fui com a idade delas.

Tenho uma certeza: não posso julgar absolutamente nada das atitudes dos jovens ao meu redor. Não sei se seria diferente deles, na condição que estava antes, e na qual eles se encontram agora, neste mundo e sociedade colapsados.

Chega por hoje.

William

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Artigo: 11/9



Refeição Cultural

Opinião

Algumas datas do calendário ocidental acabam ficando marcadas na história da sociedade humana por acontecimentos que ocorreram naquele dia. O 11/9 se tornou uma dessas datas.

Já tínhamos o 11/9 chileno, tínhamos o 11/9 norte-americano, e agora temos o 11/9 brasileiro. 

Para as pessoas que conhecem minimamente a história, sabemos que os três 11/9 têm alguma relação direta ou indireta com o governo dos EUA, ou seja, aconteceram por causa dele ou com a tentativa de interferência daquele governo. 

No dia 11/9/73, o governo socialista de Salvador Allende, eleito democraticamente pelo povo chileno, foi derrubado por um Golpe de Estado patrocinado pelos EUA. Allende não sobreviveu ao golpe. Augusto Pinochet foi colocado no poder e a barbárie se implantou no país por um longo tempo.

No dia 11/9/01, os EUA sofrem um atentado terrorista no qual as Torres Gêmeas do World Trade Center são atingidas por aviões, o prédio do Pentágono também é atingido por um avião e um outro cai sem atingir o alvo. Todos eles, aviões comerciais. 

Aquele atentado marcou o início do século XXI e mudou o mundo para pior, para os povos dos países periféricos e até para os norte-americanos comuns. O governo começou naquele dia uma tal guerra ao terror e tudo passou a ser "permitido" contra o povo e contra o mundo em nome da tal guerra ao terror.

No dia 11/9/25, o Brasil condenou pela primeira vez em sua história um ex-presidente e outros componentes de sua organização criminosa, a maioria deles militares e ou servidores públicos, à prisão por tentativa de Golpe de Estado e outros crimes. Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão. 

O governo dos EUA tentou interferir no julgamento dos réus brasileiros estabelecendo sanções econômicas ao Brasil e ameaçou, nos últimos dias, até o uso de força militar para pressionar o poder independente do judiciário a não condenar os bandidos. 

Como disse, o dia 11/9 vai sendo marcado por acontecimentos que mudam a história dos países e povos do mundo. 

O escritor do blog não acredita que o réu Bolsonaro vá cumprir a pena na prisão. Ficaria feliz se daqui a um ano, ano e meio, pudesse voltar a esta postagem e afirmar que estava errado, vendo o Jair Messias cumprindo sua pena na prisão. 

QUE A CONDENAÇÃO DO EX-PRESIDENTE SIRVA DE EXEMPLO PARA QUE O POVO NÃO ELEJA UM INEPTO COMO ELE FOI NA PANDEMIA

Vale registrar a minha decepção com a justiça dos homens (raramente é das mulheres também) pelo fato de que o condenado por tentativa de Golpe de Estado não foi indiciado pelo pior de seus crimes, o pior, sua conduta como autoridade maior do Brasil durante a pandemia de Covid-19. 

O Jair Messias Bolsonaro fez tudo que podia para facilitar a morte por Covid de centenas de milhares de brasileiros e brasileiras, que morreram sem vacina quando já havia vacina disponível, adoecidos por não usarem máscaras com incentivo do Jair e por ele não fazer nada que deveria como presidente do Brasil durante a pandemia. 

Enfim, temos que reconhecer este 11/9 como um dia histórico, pelo menos o Brasil condenou esses desgraçados que tentaram voltar a ditadura no Brasil, com toda a violência e roubo que vem junto com o autoritarismo dessa gente fascista que é ignorante e desumana.

O "capitão" não foi condenado pelo genocídio do povo brasileiro, nem como ladrão de joias, mas pelo menos foi condenado por alguns de seus crimes. 

Que a condenação do inepto, genocida e defensor de torturadores sirva para que nunca mais tenhamos dias de mortes no Brasil como naqueles dias da pandemia, nos quais as pessoas morriam sem conseguir respirar por culpa do sujeito que ocupava a presidência do Brasil. 

Companheiro Wanderley Crivellari, presente! Vítimas da Covid-19 no Brasil, presente!

SEM ANISTIA PRA GOLPISTA!

William Mendes


quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Vendo filmes (XXXII)



Refeição Cultural

Conhecendo um pouco de Wim Wenders


O primeiro filme que vi do cineasta alemão Wim Wenders foi Asas do Desejo (1987), e fiquei encantado com a temática e a forma como o diretor retrata a cidade de Berlim e as personagens.

Do primeiro filme até ver o trabalho seguinte de Wenders se passaram alguns anos. Fiquei um tempão querendo ver o filme com Nastassja Kinski, Tão longe, Tão perto (1993), uma sequência de Asas do Desejo

Aliás, quando vi o filme com a história dos anjos, de 1987, queria na verdade ter visto o filme de 1993, mas o primeiro era o que estava disponível a mim numa coleção de filmes que tenho em casa.

Mais recentemente, ouvi de novo o nome de Wim Wenders ao tomar conhecimento do filme Dias Perfeitos (2023), que concorreu ao Palma de Ouro e foi o filme japonês selecionado para concorrer ao Oscar em 2024. O filme é tocante, mexeu comigo.

Agora, conheci o documentário Tokio-Ga (1985), no qual Wenders faz uma homenagem ao grande diretor japonês Yasujiro Ozu. Gostei do documentário! Sempre tive interesse pela cultura e pelo estilo de vida do povo japonês.

Ainda neste comentário, compartilho minha impressão a respeito dos documentários sobre as perspectivas do cinema nos anos oitenta, o Papa Francisco e também a cena musical de Cuba, roteiros e direção que emocionam os espectadores. 

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FILMES


Quarto 666 (1982)

Direção: Wim Wenders 

SINOPSE (MUBI): 

Em um quarto de hotel no Festival de Cannes de 1982, Wim Wenders inicia uma pesquisa entre seus colegas sobre o futuro do cinema. Godard, Fassbinder, Spielberg, Antonioni, Herzog e outros cineastas respondem à pergunta: "O cinema é uma linguagem prestes a se perder, uma arte prestes a morrer?"

OPINIÃO DO MUBI: 

De Godard a Antonioni, Herzog a Spielberg, Wim Wenders reúne os grandes e bons nomes do cinema mundial para refletir sobre uma questão existencial. Esclarecedor e hilário, Quarto 666 considera a estética da televisão e pergunta se seus efeitos poluentes serão a sentença de morte da sétima arte. 

COMENTÁRIO: 

Muito interessante ver a temática do futuro do cinema na época na qual os videocassetes trouxeram o cinema para a casa das pessoas. Junto aos filmes em casa, já havia a questão do espaço que a televisão ocupava na vida do povo, incluindo os catálogos de filmes e séries na TV. O cinema sobreviveu. Quatro décadas depois, podemos dizer que a questão colocada por Wenders aos cineastas dos anos oitenta segue merecendo uma reflexão: qual o futuro do cinema no século XXI mediante as novas formas de entretenimento como as plataformas digitais e a Inteligência Artificial?

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Tokio-Ga (1985)

Direção e roteiro: Wim Wenders. Com: Chishu Ryu, Yuharu Atsuta, Werner Herzog. Narrado por Wim Wenders.

SINOPSE: 

Documentário sobre o cineasta japonês Yasujiro Ozu, gravado na primavera de 1983, em Tóquio, por ocasião dos vinte anos do falecimento de Ozu. Wenders entrevista o diretor de fotografia que mais trabalhou para Ozu, Yuharu Atsuta, e Chishu Ryu, o ator favorito do diretor japonês. Wenders registra cenas da Tóquio contemporânea, com máquinas de jogos eletrônicos como o Pachinko e produtores de comida de plástico, que enfeitam as vidraças das casas de comida em Tóquio.

COMENTÁRIO: 

Achei interessante Wenders dizer que gosta de filmar as coisas do cotidiano como forma de nos mostrar a verdade das coisas, ou algo com esse sentido. Ozu tinha uma técnica ímpar de filmar o cotidiano e sua simplicidade e rotina. Podíamos conhecer Tóquio e os japoneses através dos filmes de Ozu.

Por outro lado, é doido pensar hoje que o mundo do som e da imagem é justamente o contrário: as redes sociais e as plataformas digitais se tornaram a fonte de um mundo fake, de faz de conta. O que as pessoas menos são na realidade é o que elas demonstram ser nas telas. Que foda isso!

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Asas do desejo (1987) 

Direção: Wim Wenders. Roteiro: Wim Wenders e Peter Handke. Trilha Sonora: Jürgen Knieper. Com Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Otto Sander, Curt Bois e Peter Falk. 

SINOPSE (Coleção Folha Cine Europeu): 

Anjos sobrevoam a Berlim Ocidental do final dos anos 1980. Eles são invisíveis, ouvem os humanos e oferecem alívio aos angustiados. Mas as regras são desafiadas quando um anjo se apaixona por uma trapezista. "Asas do Desejo" é o ponto alto da carreira de Wim Wenders (1945), um dos nomes mais populares do Novo Cinema Alemão. Ele realizou filmes que refletem uma realidade melancólica, ecos de traumas do passado. Fantasia que conquistou corações e mentes, "Asas do Desejo" tem uma estrutura que remete ao mundo dividido da época, do qual Berlim era centro e espelho. Em preto e branco quando mostra o ponto de vista dos anjos, o filme ganha cores ao reproduzir a vida dos seres humanos.

COMENTÁRIO: 

O filme "Asas do Desejo" é tão instigante que eu não me canso de vê-lo. Cada revisita ao filme, novas percepções (comentário anterior aqui). Nesta vez, enquanto via as cenas devastadoras dos cadáveres de crianças judias e opositores do regime nazista pelas ruas de uma Alemanha dos anos quarenta, e aquela destruição toda através das imagens espetaculares em preto e branco, não conseguia pensar em outra coisa que não fossem as imagens de Gaza totalmente destruída com corpos de crianças, mulheres e idosos entre os escombros. A sociedade humana parece não ter jeito.

Ao pensar na ideia dos anjos que veem a história humana através dos tempos fico imaginando a decepção dos deuses criadores dessa experiência que não deu certo: a espécie humana. Acabo por acreditar que nossa natureza é a mais violenta do reino animal.

Sei que o filme tem como foco o amor impossível a princípio entre o anjo Dammiel (Bruno Ganz) e a trapezista Marion (Solveig Dommartin), mas não se tem como controlar as ideias a partir das relações criadas pelo espectador entre a ficção e a realidade. Seja a Berlim dos anos quarenta, seja a Berlim dividida pelo muro dos anos oitenta, seja a Palestina atual com muros e bombas exterminando um povo para tomar sua terra, a pergunta é: onde está o amor?

Eu rezei ao meu anjo da guarda por décadas; não saía de casa sem pedir proteção a ele e me persignar. Fui aculturado em ambiente católico, como a maioria dos brasileiros de minha geração. Hoje não tenho mais a mesma leitura de mundo.

As religiões, as filosofias e as literaturas são criações humanas para tentar compreender o mundo e a vida de nossa espécie neste planeta. Eu respeito todas essas formas de culturas.

Se os anjos estiverem entre nós, imagino como estão sofrendo, como vemos naquela cena do anjo Cassiel (Otto Sander) ao ver a cena final do jovem suicida...

Por fim, acho muito legal esses livretos que vinham com as coleções de filmes que editoras e jornalões faziam antigamente. São muito bem-feitos e com informações esclarecedoras.

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Tão longe, Tão perto (1993) 

Direção: Wim Wenders. Elenco: Otto Sander, Peter Falk, Horst Buchholz, Nastassja Kinski, Lou Reed, Bruno Ganz, Solveig Dommartin, Willem Dafoe.

SINOPSE:

Cassiel é um anjo que acompanha a vida dos habitantes de Berlim. Após salvar a vida de uma jovem, ele vira humano e é perseguido por um supervisor de anjos que deseja puni-lo. Então, Cassiel pede ajuda a um amigo que se tornou humano. 

COMENTÁRIO:

Revi o filme após algumas semanas de tê-lo visto pela primeira vez. Novamente me emocionei muito com a história. O filme é uma continuação de "Asas do desejo" (1987) e no meu ponto de vista são bem diferentes.

Os anjos Dammiel e Cassiel desejam conhecer o mundo dos humanos a partir dos olhos dos humanos, sendo um deles. No primeiro filme, Dammiel é movido pelo amor, pelo desejo de viver ao lado de Marion. 

No segundo filme, os motivos que levam Cassiel a se tornar humano são diferentes, e se o desejo dele é altruísta, porque ele deseja fazer o bem, amar as pessoas e ser feliz, o que vivenciamos com ele é bem mais próximo da vida real de todos nós: as coisas não dão muito certo e Cassiel terá que superar todas as dificuldades para exercer seu desejo de acertar.

O filme me toca profundamente. Vi na história de Cassiel semelhanças com a história de vida de pessoas muito queridas, pessoas boas e que só querem acertar e as coisas acabam não se saindo como esperado por elas. É um filme de grande sensibilidade. 

No primeiro contato com "Tão longe, Tão perto", fiz um texto reflexivo. Ele pode ser lido aqui.

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Buena Vista Social Club (1999) 

Direção: Wim Wenders

SINOPSE (MUBI):

Um dos triunfos modernos de Wim Wenders, este documentário indicado ao Oscar explora a rica e animada cena musical de Cuba. O ícone do Novo Cinema Alemão acompanha várias lendas musicais enquanto tocam e andam pelas ruas vibrantes de Havana neste testamento ao "son cubano".

COMENTÁRIO:

Fiquei encantado com o documentário pela forma como ele nos apresenta os personagens da cena musical cubana, cada um mais empático que o outro: Compay Segundo, Omara Portuondo, Ibrahim Ferrer, Rubén González, Eliades Ochoa, Manuel "Guajiro" Mirabal, Barbarito Torres, Orlando "Cachaíto", Pío Leyva, Juan de Marcos González, Jesús Ramos, Ry Cooder.

Após assistir a Buena Vista Social Club fui pesquisar mais a respeito da história da casa de shows em Havana na primeira metade do século vinte e sobre os músicos reunidos pelo projeto organizado por Nick Gold, produzido pelo músico norte-americano Ry Cooder e dirigido por Juan de Marcos González, entre 1996 e 1997.

Ouvi as dez músicas do álbum do grupo Buena Vista Social Club e as canções e o ritmo são contagiantes, que delícia ouvi-las!

Ver o documentário de Wim Wenders com aqueles senhores e Omara Portuondo, todos de bastante idade, se apresentando em Amsterdam e em Nova York foi emocionante. 

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Papa Francisco: um homem de palavra (2018)

Direção : Wim Wenders

SINOPSE (NETFLIX):

O documentarista Wim Wenders viaja pelo mundo ao lado do Papa Francisco e registra a visão humanitária do pontífice no mundo polarizado de hoje.

COMENTÁRIO:

Assisti ao documentário de Wim Wenders após a morte de Papa Francisco (em 21/04/25). As ações e ensinamentos registrados pelo cineasta reforçaram o que havia dito meses antes sobre a morte do papa sul-americano, que sua perda seria irreparável, pois o mundo terá cada vez menos lideranças globais como ele, Mujica e Lula. 

Mujica faleceu também, faz poucos meses, em 13/05/25. 

Felizmente, ainda podemos contar com a grandeza de Lula, que está bem de saúde e se colocando à disposição das causas populares. Não é egoísta e pensa mais nos outros que em si mesmo. 

O documentário de Wenders se tornou um presente ao mundo para a posteridade, um registro histórico. 

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Dias perfeitos (2023)

Direção: Wim Wenders 

SINOPSE: (MUBI)

Hirayama leva uma vida feliz, conciliando seu trabalho como zelador dos banheiros públicos de Tóquio com sua paixão por música, literatura e fotografia. Sua rotina estruturada é lentamente interrompida por encontros inesperados que o forçam a se reconectar com seu passado.

OPINIÃO DO MUBI:

Kôji Yakusho ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes com este drama comovente indicado ao Oscar, de Wim Wenders, que retrata os habitantes de Tóquio com um olhar humanista. Com uma excelente trilha sonora de rock clássico e pop, Dias Perfeitos encontra beleza e serenidade em lugares inesperados.


COMENTÁRIO: 

A história do senhor Hirayama me deixou pensativo por vários dias. 

As reflexões variaram por questões filosóficas que têm dominado minha existência já faz tempo, questões do tipo: qual o sentido da vida?, o que é felicidade?, qual o sentido de se ficar o tempo todo em função da obtenção de bens materiais, as mercadorias tão centrais na vida das pessoas no mundo capitalista?

O senhor Hirayama tem uma vida simples e rotineira que deixaria boa parte das pessoas do mundo atual completamente entediadas e infelizes, pois a rotina do amanhecer, aguar as plantinhas, sair para lavar banheiros públicos, parar embaixo de uma árvore para lanchar, voltar para casa após banho e refeição, e ler antes de dormir é tudo que a sociedade do século XXI parece não desejar. 

O senhor Hirayama seria classificado claramente como um "zé ninguém", um derrotado na vida.

No entanto, aquelas questões que coloquei acima estão o tempo todo vibrando nos pensamentos do espectador assim como a trilha sonora que acompanha o senhor Hirayama no toca-fitas de sua van (seleção sensacional!), bem como a sonoplastia das árvores ao vento que preenche o dia e os sonhos do senhor Hirayama.

Amigas e amigos leitores, o filme de Wenders com a história do senhor Hirayama é um presente para todas as pessoas que estão em busca do sentido da vida. 

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É isso! Mais um texto com impressões e sentimentos a partir de filmes que tocaram o coração do escritor do blog.

A postagem anterior desta série pode ser lida aqui.

William

domingo, 7 de setembro de 2025

31° Grito dos excluídos e excluídas e mobilizações do 7 de setembro

 


Cartazes da militância que participou do Grito dos excluídos e excluídas e do 7 de setembro.


A Praça da Sé foi o local de mais um Grito dos excluídos e excluídas, e o ato começou com a distribuição do café da manhã a centenas de pessoas em situação de rua. 


A partir das 9 horas, lideranças de movimentos populares se revezaram em discursos potentes sobre as questões de moradia, alimentação e direitos básicos da cidadania da população de rua e o descaso e abandono das autoridades governamentais, da cidade de São Paulo e do estado de SP.


A Catedral da Sé fechou suas portas ao Grito dos excluídos e excluídas... essa é a gestão higienista do momento. 


Dança popular de matriz africana no Grito dos excluídos e excluídas.


Viva a África!!! Viva os povos do continente africano! Viva os povos que vivem no Brasil! O povo brasileiro precisa ter seus direitos respeitados!

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ATO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NA PRAÇA DA REPÚBLICA

Após o ato na Praça da Sé, saímos em passeata para somar com a mobilização das centrais e partidos e movimentos organizados em defesa da soberania do Brasil, e com pautas centrais como o fim da jornada 6x1, isenção de imposto para quem ganha até 5 mil reais e cobrança de impostos dos mais ricos. E, lógico, punição para os golpistas do 8 de janeiro de 2023. SEM ANISTIA!

Foto feita por Malu.

Encontrei diversos companheiros e companheiras do movimento sindical do qual fiz parte por décadas de lutas. Para fechar o dia de participação nos atos do 7 de setembro, almocei com a turma do Sindicato.

William


Post Scriptum: ao chegar em casa e ver as notícias sobre as mobilizações do segmento de brasileiros vira-latas, apoiadores do crime organizado, o bolsonarismo lesa-pátria e canalha, fiquei estupefato ao ver a que nível chegou essa gente traidora da pátria brasileira: os vendilhões tiveram a coragem de desfilar no dia da Independência do Brasil com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel! A de Israel a gente sabe que boa parte é porque esses bolsonaristas são burros e ignorantes, se dizem "cristãos" e desfilam bandeiras de Israel por serem mentecaptos... mas a dos EUA é porque são traidores da pátria mesmo! É duro!